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Projeto promove acessibilidade em trilhas cariocas


Jean Sampaio na Pedra da Gávea (Fotos: Acervo pessoal)

Percorrer caminhos não-pavimentados pelas matas da cidade é um desafio para cadeirantes, mas visando incluir esse público nesse passeios, o projeto Trilhas Acessíveis oferece, desde 2017, essa possibilidade. Por meio de uma cadeira de rodas adaptada e voluntários, o grupo percorre diversos espaços cariocas, como a Pedra da Gávea e algumas das rotas disponíveis na Floresta da Tijuca, proporcionando as condições ideais tanto para a subida quanto a descida. Apesar do êxito, o criador, o paratleta Jean Sampaio, busca ajuda para adquirir mais cadeiras e levar a experiência para mais pessoas.


“Eu já voltei às florestas. Meu sonho é que outros possam também”, conta Sampaio, que é cadeirante: “Sou sozinho na administração e não há recursos. Procuro apoio e patrocínios de empresas”. Sua ideia é conseguir mais duas unidades adaptadas, mas os custos dificultam a compra: cada uma custa R$6 mil. “Há uma lista enorme de pessoas querendo fazer trilhas”. O modelo foi desenvolvido por um engenheiro que Jean conheceu em 2017. O profissional havia criado uma para a esposa e a partir daí, o atleta deu início ao projeto, que inspirou outras ações semelhantes, inclusive uma inaugurada pela Prefeitura de Niterói há menos de um ano: “O Trilhas Acessíveis é pioneiro na inclusão em montanhas do Rio de Janeiro”.


Cabe ao próprio criador avaliar as possibilidades em cada trajeto. “Como idealizador, sou meio abusadinho e desbravo alguns que são mais difíceis, mas há outros mais fáceis. Não é só pegar um cadeirante, botar na cadeira e levar. O projeto tem um fisioterapeuta que analisa o caso de cada um para estudar quais trilhas podem ser feitas. Eu, como estou mais acostumado e tenho espírito mais desbravador, faço as com maior complexidade. Abro caminho para outros e vejo o grau de dificuldade de cada uma. Minha vontade é levar o projeto para o Brasil inteiro. É difícil, mas a gente vai chegar lá”.


Ao ser questionado sobre a mais complicada, Sampaio sequer titubeia ao apontar ser a do Pico da Pedra Branca, o ponto mais alto da cidade, com 1.024m de altitude. “Foram quase 10 horas de trilha e a cadeira quebrou no meio do caminho da volta, à noite. Tive que ser resgatado nas costas, mas isso tudo faz parte”, minimiza. Os empecilhos, entretanto, são atípicos. “Já fiz outras como Pedra Bonita, Pedra da Gávea (subindo pela Carrasqueira, um paredão na rocha encarado por muitos aventureiros como o maior desafio do percurso, conforme mostram imagens nas redes sociais do projeto), Tijuca-Mirim, Pico da Tijuca, Morro da Urca...”, enumera.


Os passeios só são possíveis graças à ajuda dos voluntários que conduzem a cadeira pelos caminhos. Muitos deles foram abordados por Jean, que os chamou para a ação. “Entro em contato por meio das redes sociais. Faço os convites, junto a galera e todos se tornam uma família. É tão gostosa a inclusão! É uma energia muito boa, só quem participa sabe”. A ideia é que o grupo desbrave novas rotas: “A gente tem convite para expedições em parques nacionais. Alguns estaduais também já chamaram, mas para a gente estar em movimento, precisa de verba. Estou sem trabalhar e sempre surgem alguns empecilhos no caminho, mas isso vai fortificando o projeto”.


Praticante de 15 modalidades, Sampaio vê as atividades físicas como um norte em sua vida. “Sou referência em esportes adaptados no Brasil. Depois do acidente, me reinventei por meio deles. Muitas pessoas me procuram depois de lesões ou acidentes para eu contar como está minha vida. No início, é difícil. De vez em quando, me pego em depressão porque não é fácil, mas a gente procura superar isso. É uma luta a cada dia”. Antes de ficar com os movimentos do corpo comprometidos, já era adepto de trilhas, geralmente percorridas na companhia de seu cachorro. “Sempre fui atleta e gostei de estar na natureza. Íamos muito ao Horto porque gosto de cachoeira e de estar em contato com com Deus, com o Poder Supremo do universo, com o Criador. É onde a gente melhor pode sentir essa energia: na natureza”, finaliza.


Mais informações sobre o Trilhas Acessíveis podem ser encontrados no Instagram

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