Há 10 anos, o movimento Favelivro monta bibliotecas em comunidades da cidade do Rio de Janeiro utilizando livros doados. Atualmente funcionando em 28 endereços, sendo 18 inauguradas em 2022, o grupo recebe exemplares de todo o tipo, levando leitura a espaços carentes desse tipo de atividade.
“Qualquer um pode se agregar. Se chegar uma médica e quiser oferecer consulta grátis, pode”, explica uma das idealizadoras, Verônica Marcílio, mostrando que a ideia visa englobar todo tipo de colaboração às localidades atendidas. “Os endereços escolhem a gente. A gente recebe telefonema de quem quer montar uma biblioteca e vai lá conhecer o espaço. Se der, montamos”, continua.
Cada unidade homenageia uma personalidade – na Zona Sul, o carnavalesco Milton Cunha foi lembrado na do Cantagalo e o escritor, ator e diretor Rodrigo França, na do Chapéu-Mangueira. De acordo com Verônica, muitas vezes são as comunidades que escolhem essas pessoas. “Elas já vêm com nome pronto para a gente e batalhamos aquela pessoa. Podemos receber um sim ou um não. Os ‘não’ não costumam ser esnobados; são porque, naquele momento, a pessoa não está podendo”, cita, dizendo que acontece também de a escolha acontecer de outra forma: “Nos enviam sugestões ou nos falam um tema. ‘A gente quer uma biblioteca voltada para criança’. Vemos qual personalidade tem a cara do mundo infantil”.
Numa dessas situações, a jogadora de vôlei Isabel Salgado, morta em novembro, se tornou patrona do espaço do Catumbi, em março, o que emociona a idealizadora. “Estou mexida até agora. Onde é a biblioteca dela, o rapaz queria alguém voltado para o esporte, já que havia um projeto esportivo ali. Listei nomes de pessoas que sabia serem legais e o dela foi o primeiro. Eu iria ligar para todos e quando surgisse o primeiro “sim”, seria aquela pessoa. Ela disse ser uma honra e aceitou na hora. Era maravilhosa, um ser humano ímpar”.
O Favelivro nasceu da parceria entre Verônica e o livreiro Demézio Batista. Ela, contadora de histórias, visitou um projeto na Barreira do Vasco e o conheceu num momento em que ele distribuía livros gratuitamente. Surgiu, então, a ideia de um trabalho em conjunto, que está em franco crescimento: “Por dia, recebemos mais de 50 telefonemas”, comemora a fundadora, reforçando que o movimento aceita qualquer livro. “Contos, poesias, infantis, técnicos, esportivos, culinária... Nossas bibliotecas não são grandiosas. Costumo falar que são um pontapé dividida em duas partes: adulta e infantil”.
Para facilitar as entregas, há voluntários que se distribuem nas várias regiões da cidade recolhendo as doações no endereço de quem deseja entregar os livros. “Às segundas e terças, passam na Zona Sul. Às quartas, na Barra. E assim vai indo… Muitas pessoas querem ser voluntárias para pegar doações. Levam ao nosso galpão, em Manguinhos, e tiramos livros conforme a necessidade”, menciona, citando ainda que os exemplares não são apenas usados nas bibliotecas, mas também nas contações de histórias e para presentar o público infantil que participa dessa atividade: “Gosto de presentear crianças!”. Para isso, editoras, livrarias e até outras bibliotecas, que não têm espaço para todo o acervo, também colaboram.
As doações para o Favelivro podem ser feitas com Verônica por meio do telefone/WhatsApp (21) 98366-8117.
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