Ajudar animais sem mobilidade é a missão do motorista de aplicativos Tonny Dhautima, que fabrica gratuitamente cadeiras de rodas para cães e gatos. As unidades, produzidas sob medida para cada contemplado, vêm transformando a vida de muitos amigos de quatro patas, que voltam a se deslocar graças à ajuda.
“Sou motorista de aplicativo. Separo uma parte do meu dinheiro para comprar materiais. Algumas pessoas colaboram por PIX. Mandam um pouquinho, mas ajuda. Ainda assim, não consigo atender todo mundo”, comenta, mencionando improvisar para obter os materiais. “Faço muita reciclagem. Por exemplo, se estou trabalhando e vejo um carrinho de bebê no meio da rua, jogado fora, eu espero desembarcar o passageiro, desligo o aplicativo (para não receber novos chamados), volto ao local e pego o material. Sempre ando com um saco plástico dentro do carro para colocar o que encontrar dentro, já que pode haver bichos, como insetos, escondidos. Ou então vou em ferro-velho, compro uma bicicleta infantil velha, daquelas bem pequenininhas, e trago. Consigo tirar muitas coisas. As rodas são o principal, mas aproveito também pedaços de ferro, parafusos… Pego tudo o que eu puder usar para economizar, o que abaixa o custo para mim e assim, em vez de fazer uma, consigo duas”.
A montagem é feita em uma oficina alugada em Santa Cruz da Serra, bairro de Duque de Caxias que fica distante de sua residência, em Cordovil. Nela, Tonny também fabrica algumas peças feitas principalmente de latas de bebidas. “Esse material chega até mim praticamente de graça. Algumas pessoas juntam, também cato e já tenho uma montanha delas que derreto em uma forja que fiz. O alumínio é um material bom, mais leve que ferro. Ou uso peças quebradas como molde ou faço moldes nos formatos delas. Depois, faço a fundição”, explica, mencionando conhecer a metodologia por ter trabalhado como técnico mecânico em equipamentos médicos-hospitalares.
Cada unidade é produzida especialmente para o animal contemplado, a fim de trazer conforto. “É algo adaptado para cada um. São animais que não nasceram para cadeiras de rodas”. Atualmente, a fila de cães e gatos aguardando atendimento possui mais de 50 nomes em espera, o que levou o voluntário a desenvolver um método para tentar auxiliar os últimos. “Atendo os primeiros e do meio da fila para trás, faço sorteios. Se não fizer isso, até chegar a vez, o bichinho já teria sofrido muito e se ferido ao tentar se arrastar. Não há distinção de raça, cor ou pessoa. Isso dá oportunidades para quem está no fim também”. Há ainda os pedidos para ajuste de modelos comprados pela internet, o que Tonny afirma não conseguir fazer: “Tem que fazer sob medida porque dependendo da situação, pode até machucar”.
Esse trabalho começou por acaso, e de maneira anônima. Há 20 anos, um vizinho de sua antiga oficina pediu ajuda para um cachorro que estava se arrastando. “Acho que esse cãozinho nem é mais vivo atualmente, mas tenho certeza que ele ficou muito feliz, muito satisfeito por a gente ter feito aquilo ali. Ele corria na rua com a cadeira de rodas e todo mundo achava engraçado”. A partir de então, iniciou a produção, de maneira anônima até cerca de três anos atrás, quando perdeu o medo de expôr o trabalho nas redes sociais. “Hoje, tenho mais de 900 mensagens não-lidas no Whatsapp. Não consigo responder todas de uma vez, todo dia respondo aos poucos. Não tenho ajuda de ninguém, só de Deus. O pagamento que recebo é a alegria do cãozinho e do gatinho”, finaliza.
O trabalho de Tonny pode ser conferido no perfil do Instagram @doutorcadeiraderodas.
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