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Jornal Posto Seis homenageia Marlene no centenário da cantora


Novembro é o mês do centenário da cantora Marlene. A artista, que se manteve ativa em sua carreira até sua morte, em 2014, foi um dos grandes nomes da era do rádio, mas não se limitou a esse rótulo e se reinventou nas mais de sete décadas de atividade.


Nascida Victória Bonaiuti em 22 de novembro de 1922, veio ao mundo sete dias após a morte do pai, o que a levou a ser criada apenas pela mãe. Sua primeira oportunidade como cantora, às escondidas, se deu quando entrou na faculdade, ainda menor. A Federação dos Estudantes do Estado de São Paulo buscava pessoas para se apresentar e para sua surpresa, o presidente da federação era seu vizinho, que, ciente que a jovem seria vetada em casa, sugeriu o pseudônimo “Marlene”, em homenagem a Marlene Dietrich, para que ela pudesse participar sem ser reconhecida.


A verdade logo veio à tona e por ideia de uma amiga, mudou-se para o Rio. Começou no Cassino Icaraí, em Niterói, e depois foi contratada pelo Cassino da Urca. Nessa altura, sua primeira gravação, “Coitadinho do Papai”, venceu o concurso de marchinhas de 1946, mas seu nome ficou em evidência apenas no concurso “Rainha do Rádio” de 1949. A favorita para o título era Emilinha Borba, a maior artista do Brasil naquele momento. Os votos eram abertos ao público, que comprava as cédulas de votação em prol de levantar verba para a construção do Hospital dos Radialistas. Nesse cenário, a empresa de bebidas Antactica, que desejava impulsionar Marlene como garota-propaganda, deu um cheque em branco para garantir a compra de quantos cupons fossem necessários para garantir sua vitória.


Surgiu, então, a rivalidade midiática entre as duas artistas, que durante toda a era do rádio, foram as duas maiores cantoras do país. Os fã clubes de Emilinha não perdoaram Marlene pela derrota e admiradores desta, por sua vez, respondiam os ataques usando o mesmo tom, o que resultou na necessidade de dividir em dois o auditório da Rádio Nacional, separando o público das duas. Durante muitas décadas, as vaias para ambas as cantoras, partindo do público que prestigiava a outra, inviabilizou apresentações em dupla, apesar de, em 1950, as artistas terem gravado três músicas em dueto para tentar colocar panos quentes na situação, em vão. As duas só vieram a cantar juntas em 1997, no show “Vivendo a Rádio Nacional”, com Ângela Maria e Cauby Peixoto, e voltaram ao estúdio em 2002, no CD “Emilinha Pinta e Borba”, onde regravaram “Entre Tapas e Beijos”, brincando com a situação que permeou as carreiras de ambas.


Apesar da grandiosidade que esse assunto ganhou ao longo da trajetória de Marlene, sua carreira foi além disso. Aventurou-se em diversos estilos musicais, cantando desde baião a MPB. Chamou a atenção também cantando músicas com protestos sociais, como “Lata D’Água”, seu maior sucesso.


Seu prazer por conhecer a realidade do povo a levou a aceitar o convite do Império Serrano em 1972, fazendo de Marlene a terceira mulher a defender um samba-enredo (antes dela, Carmen Silvana integrou o carro de som da mesma agremiação, em 1964; e Elza Soares, do Salgueiro, em 1969), mas a pioneira na primeira voz. A artista retornou para os desfiles de 1973, interpretou os sambas da Vila Isabel em 1975 e foi enredo da Tupi de Brás de Pina em 1987.


Fez sucesso também no exterior, com apresentações em quase todos os continentes. Um dos pontos altos de sua carreira foi a temporada de quatro meses e meio no Teatro Olympia, em Paris, acompanhada de Edith Piaf. “Era um teatro muito moderno, as cortinas eram elétricas e demoravam muito para fechar e abrir. No final, tive que fantasiar enquanto o público ainda nos via”., lembrou em entrevista ao Jornal Posto Seis em 2010. Na ocasião, relatou ter planos para o futuro, como um segundo DVD, que não saiu do papel. Além do primeiro, participou de 18 filmes, duas novelas, duas minisséries e 12 peças de teatro, inclusive “A Dama de Copas e O Rei de Cubas”, onde dividiu cena com seu papagaio Rivelino, que criou por mais de 40 anos. Morreu em 2014, aos 91 anos.

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