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Grupo anima Laranjeiras com rodas de choro semanais


(Foto: Divulgação)

Quem frequenta a feira da Rua General Glicério, em Laranjeiras, já sabe que o grupo Pixin Bodego é uma atração muito disputada no local. Há 10 anos, os artistas fazem roda de choro no espaço, a partir das 12h, mantendo vivo o gênero musical e animando o público fiel. Composto por seis músicos, o conjunto frequentemente recebe novos participantes nas apresentações, já que todos que sabem tocar são bem-vindos para se juntarem, resultando em shows sempre diferentes uns dos outros.


“Como não há choro em muitos lugares, os músicos não têm espaço. A Lapa é o coração do Rio, mas nenhuma casa toca”, observa o percussionista Almir Alves, conhecido como Almir Bacana, explicando como funcionam as participações: “Se chega alguém que sabe tocar, é convidado para se sentar com a gente. Sempre arranjamos uma cadeira. Em algumas ocasiões há três flautas tocando, ou duas e um sax, um trompete... Às vezes, a pessoa chega com o neto e em dado momento, pergunta se pode se apresentar com a gente Em 90% dos casos, volta no dia seguinte. É um espaço democrático. Ser músico é isso”.


Os agregados chegam a ser convidados para compôr o grupo em algumas ocasiões: “Às vezes sou chamado para um lugar e não tem ninguém para tocar sopro. Lanço mão de um amigo da roda e chamamos quem estava na praça para dar apoio”, conta, mencionando que graças às participações, eventualmente o choro ganha sonoridade de samba. “Meu objetivo era esse. O Pixinguinha, quando montou o Oito Batutas, dizia ser como samba. Botei instrumento para fazer marcação, mas tem pandeiro, tamborim, bandolim, violão e cavaco”. Ao longo dos 12 anos de apresentações, o grupo segue sem apoio financeiro: “Fazemos tudo sem ajuda de ninguém, nunca tivemos patrocínio nem da Prefeitura nem do Governo. A maneira que arranjamos de arcar com gastos é passar o pandeiro”, explica, mencionando ser morador de Paty do Alferes, o que faz com que precise, pelo menos, do valor da passagem, além dos demais gastos dos outros artistas.


Apesar de o choro ser um estilo musical muito popular na década de 1920, Almir fica muito satisfeito quando vê que o público infantil está prestigiando as apresentações. “Parabenizo os pais por estarem com filhos ali. As pessoas falam que crianças se divertem em celulares, mas gostam porque os responsáveis dão os aparelhos para elas se entreterem. Quando chegam em um espaço como aquele, amam música”. menciona. Recentemente, o Instagram do grupo (@pixinbodega) publicou um vídeo de um menino de quatro anos tocando pandeiro. “Coisa mais linda do mundo! Crianças olham aquele monte de instrumentos e ficam encantadíssimas”.


Além dos pequenos, a terceira idade também costuma apreciar bastante nas apresentações. “Na semana passada, uma senhora de 85 anos dançou o tempo todo. Ela estava amando. No final, comentou que sempre quis ir e vivia pedindo para o filho levá-la”, lembra, lamentando a falta de opções de diversão para esse público: “Não há programas para eles. Quando há, eles botam uma roupinha bonita; vão com os filhos ou outro parente, que muitas vezes os ajudam nas caminhadas; e curtem muito. A gente vê nos rostinhos. As músicas que tocamos são de quando eram meninos. ‘Carinhoso’, por exemplo, tem mais de um século”. Dentre os fãs das apresentações, Almir cita Dona Teresa, de 90 anos, como a mais assídua: “Quando ela não vai, até justifica”


Essa retomada do gênero musical é reconhecida pelo músico como ainda muito discreta: “O choro parou. É como os sambas enredo. As pessoas conhecem os de ‘1900 e lá vai fumaça’, mas não sabem o da Mangueira do ano passado. Mesma coisa com o choro. Hoje, há uma meninada fazendo, mas não toca fora das rodas e não sabemos onde elas são”. Em sua visão, esse esquecimento se deve ao passado musical do Brasil.


“O choro começou muito lá atrás, com Ernesto Nazareth. Essa turma tocava divinamente bem e a sociedade abraçou a ideia porque os arranjos eram rebuscados. Era música da alta sociedade. Com o passar do tempo, a indústria fonográfica chegou ao Brasil com a mentalidade de vender disco. Precisava de gente nova e bonita. O choro ficou de escanteio, afinal, tinha suas origens em negros e pessoas simples. Quando chegou na França em 1922, foi uma coisa absurda. As casas ficaram lotadas todos os dias. Pixinguinha viajou na mesma época da Semana de Arte Moderna. Ela acontecia aqui e ele estava lá a convite do empresário Arnaldo Guinle. Todos os jornais da América e da Europa rasgaram elogios, mas os daqui falaram mal. Isso ajudou a tirar o chorinho de circulação. Voltou bem mais tarde. O subúrbio ainda manteve algo, mas sem compromisso”


Assim como os artistas do passado, o Pixin Bodega – nomeado em homenagem a Pixinguinha e Zé Bodega – também recebeu reconhecimento internacional. Recentemente, o grupo foi exaltado por uma TV francesa, que veio gravar uma série de reportagens e incluiu o grupo na programação. Apesar do reconhecimento no exterior, Almir lamenta a falta de apoio no próprio país. “É muito difícil viver como músico no Brasil, ainda mais fazendo algo mais rebuscado. Não é todo mundo que conhece. Precisa de tempo para consolidar”.


Com um CD lançado, cuja divulgação foi interrompida devido à pandemia, o Pixin Bodega planeja começar a se apresentar também em Copacabana. Por enquanto, ainda não há confirmações, mas a programação do grupo pode ser acompanhada no Instagram @píxinbodega.

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