Espetáculo que narra a trajetória do marinheiro João Lopes, no século XVI, considerado o primeiro homem europeu a assumir a paternidade de um filho gerado com uma indígena Maracajá, às margens da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, chega ao palco do Futuros - Arte e Tecnologia para temporada até 17 de setembro, de quinta a domingo.
Segundo o diretor da peça, Marco André Nunes, a ideia surgiu a partir do estudo de outro espetáculo da Cia, Guanabara Canibal, de 2017, e que continha uma história de um marinheiro, piloto português, degredado no Brasil como punição por traficar machados para indígenas, sendo considerado um traidor dos europeus. Ele estabelece contato com a aldeia Maracajá, na Ilha do Governador, quando acaba por se relacionar com uma indígena com a qual tem um filho.
Quatro anos depois, uma embarcação espanhola chega ao Brasil, rouba toda madeira (Pau-Brasil) e leva João Lopes com eles. O marinheiro volta para a Europa, não se sabe se a pedido dele próprio ou forçadamente, mas tenta voltar para o Brasil para rever o filho. “João consegue retornar nas caravelas de Fernão de Magalhães, uma vez que ele sabia que a expedição passaria pelo Brasil. Convence a expedição a parar no Rio de Janeiro para abastecer, pegar mantimentos, mesmo depois de ter parado em Salvador, e ficam por duas semanas na Cidade. Nessa parada, ele reencontra o filho e resolve levá-lo para a Europa”, explica.
“Diferentemente do padrão reproduzido ao longo da colonização, no qual a mestiçagem originou-se do estupro e violência europeia, a trajetória de João Lopes aponta para excepcionalidade: para além das relações de dominação, o afeto entre pai e filho”, acrescenta.
Este fato é considerado o primeiro registro de mestiçagem entre um homem europeu e uma mulher indígena. Não que não houvesse milhões de estupros antes disso, no entanto, esse é o primeiro registro de um “carioca”. “Mas o que quer dizer isso, o que encobre essa situação? A peça tenta abrir um pouco essa discussão. A peça nasceu junto com o Guanabara Canibal. É uma continuidade direta”, aponta Marco André.
Ainda de acordo com o diretor, a expedição de Magalhães tem um final bem trágico, quando, de todas as caravelas que saíram da Europa, apenas uma retorna e vários acontecimentos levam a isso. “O próprio Fernão de Magalhães morre no trajeto, alguns navios são afundados, tem motim, embarcações se perdem, uma grande parte da tripulação morre quando entram em embates geopolíticos na região, e acaba jogando um contra o outro, morrendo em batalhas”, conta.
Em continuidade à "Trilogia Carioca", Terra Desce tem texto de Pedro Kosovski, e é uma realização da Aquela Cia, companhia teatral com mais de quinze anos de atividades ininterruptas e reconhecimento nacional e internacional da crítica e público tendo recebido os principais prêmios de teatro do Brasil.
“A criação tem como ponto de partida as narrativas da colonização do Brasil posicionando crítica e poeticamente personagens e acontecimentos históricos sob à luz da atualidade. Com uma dramaturgia tensionada entre a fabulação e a memória histórica e uma encenação onde a fisicalidade dos intérpretes, a performance musical e visual têm primazia”, revela Pedro Kosovski.
Serviço: Espetáculo "Terra Desce" | Até 17 de setembro - De quinta a domingo, às 20h | Teatro Oi Futuro Flamengo (Rua Dois de Dezembro, 63 - Flamengo) | Ingressos: R$ 60 (inteira) / R$ 30 (meia)
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