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Espetáculo leva aos palcos reflexão sobre a terceirização da culpa na sociedade atual


(Foto: Claudia Ribeiro)

No mês da mulher, o monólogo “As Pessoas” entra em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim propondo uma reflexão sobre a terceirização da culpa. Com sessões até 19 de março, às sextas e aos sábados, às 20h; e aos domingos, às 19h; o espetáculo, protagonizado pela atriz, produtora e autora Márcia Santos, aborda de maneira crítica e bem-humorada comportamentos contemporâneos que, em geral, são percebidos pela população apenas nas ações alheias por meio de ideias como “os outros são egoístas”, “...não sabem votar”, “... são mal educados”.


Foi esse incômodo que motivou Márcia a desenvolver o trabalho. Na peça, ela vive Zelma, protagonista que enxerga todos os erros alheios, ainda que sua própria vida seja um caos no qual ela própria se coloca. “Acabo passando minha inadequação para a personagem”. “As Pessoas” proporciona um encontro de Zelma com ela mesma, que não consegue mudar o mundo sozinha.


“Ela tem um pessimismo antropológico em relação ao ser humano. Ao mesmo tempo, vai citando pequenos comportamentos do dia a dia no qual o público se identifica. Há uma cena sobre uma mulher completamente bêbada na rua, no carnaval. Ela começa a tirar a roupa; se joga no chão nua, de pernas abertas; e um monte de gente filma e fotografa. Ninguém a ajuda. Isso aconteceu de verdade, recebi em vídeo. Ao redor, os outros riam e filmavam. Recebi isso de uma mulher. Que feminismo é esse?”


Durante uma hora, diversas outras questões são debatidas, como o uso atual da internet. “É extremamente invasivo isso de julgamento, patrulhamento da vida privada…”. O espetáculo aborda até essas tentativas alheias de tentar revolucionar o planeta. “Há uma fala nele que gosto muito: ‘acho que as pessoas dizem que querem mudar o mundo porque é uma utopia’. Isso coloca a responsabilidade no colo de qualquer um, mas as pessoas não querem mudar os comportamentos do dia a dia e sem modificar suas rotinas, elas não vão transformar o mundo. O que elas fazem?”, questiona.


Zelma vive também outras inquietações de Márcia, como a passagem do tempo. “Ela tem problema com a velhice e a morte. É uma questão que permeia nossa vida, principalmente a dela, uma mulher madura que vive em uma sociedade que preza a beleza e a juventude eterna fake. É uma preocupação junto com tudo que vem de fora. O quão cruel é envelhecer e termos que falar que as pessoas ficam fofinhas, na melhor idade? É melhor para quem? Para o fabricante de remédio, com certeza. Às vezes, os idosos vivem anos sem uma vida ativa”.


Apesar dos incômodos da personagem, Márcia garante que as reflexões são apresentadas de maneira bem humorada. “O texto é uma crítica, mas Zelma brinca, fala que acabou aquela história de se explicar pra alguém; basta excluí-la. Se morreu alguém, é só escrever ‘meus sentimentos’, colocar carinha triste e ir à praia. As pessoas riem, mas se identificam porque na realidade, a gente não dá conta de dar colo para todos e acha que dá suporte com o ‘sinto muito’. O público reflete sobre esse tipo de atitude”.


Serviço: Temporada até 19 de março | Sessões: sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h | Local: Casa de Cultura Laura Alvim (Avenida Vieira Souto, 176 - Ipanema) | Ingressos: R$40 (inteira), R$20 e R$15 (lista-amiga) | Classificação: 14 anos | Duração: 65 minutos | Capacidade: 190 lugares

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