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Especialistas defendem instalação de placas imortalizando personalidades em Copacabana


Recentemente, Cândido Portinari foi homenageado com uma placa instalada em um dos endereços no Leme onde o pintor viveu e montou um ateliê. A homenagem ao artista faz crescer a lista das diversas placas espalhadas pelo bairro e por Copacabana, reforçando no Rio a ideia que já é tendência no exterior: imortalizar personalidades culturais e/ou históricas em seus locais de moradia.


A menção a Portinari, instalada no Edifício Waldorf (Avenida Atlântica, 900), faz crescer a extensa lista de nomes cujas passagens por Copacabana e pelo Leme está preservada, como Clarice Lispector, Jorge Amado, Grande Otelo, Vanja Orico, Leonel Brizola, Nara Leão, Emilinha Borba (sua rival artística, Marlene, apesar de ter vivido também na região, recebeu uma placa na Urca), Ferreira Gullar, Waldir Calmon (no caso deste, a placa relembra o endereço de sua boate, na Rua Gustavo Sampaio), entre outros. Apesar de as menções serem numerosas, ainda não estão integradas em um circuito turístico que ajude os visitantes a conferirem cada uma, conforme é realizado no exterior.


“Isso já é uma prática muito antiga na Europa. Você passa pelas cidades históricas e todas as casas que alguma celebridade da cidade morou têm uma plaquinha”, aponta o turismólogo Silvio Sallowicz. “É muito bacana porque acaba trazendo um pouco de cultura e informação. Muita gente, hoje, não sabe quem foram as pessoas que fizeram história, fizeram música ou tiveram alguma participação na sociedade. É sempre bom lembrar da memória dessas pessoa e isso acaba passando informações turísticas.


O profissional aponta que a prática, apesar de já consolidada no Rio, ainda não se popularizou em outras cidades brasileiras. “Em São Paulo, não é muito comum. O que existe são placas de rua que falam o que alguém fez ou com o que trabalhou; o que a pessoa era, mas não nas residências, não”.

A partir do momento que as menções já existem e são numerosas, na opinião de Sallowicz, elas poderiam ser transformadas em uma fonte de renda turística. “Eu montaria um roteiro a pé passando por umas dez casas. Poderia até desenvolver roteiros voltados para nichos culturais. Por exemplo, o cara adora música. Ele visitaria endereços de cantores, compositores… Seria diferente do que adora literatura. Valeria muito a pena!”.


A medida é apoiada também pelo historiador Jack Brandão: “Acho isso imprescindível. Principalmente no Brasil, temos um grave problema de esquecimento global. Esquecemos tudo, não temos memória. Você chega na Alemanha, por exemplo, e está cheio de “aqui morou”, “aqui nasceu”, “aqui viveu”. Isso é importante, é necessário”. Em sua visão, as reformas urbanas realizadas no começo do século XX ajudaram a apagar esse passado carioca. “O Rio era a capital do Brasil, mas toda a história da cidade e do Brasil foi jogada fora com Pereira Passos. Precisamos desse acervo iconofotológico coletivo para estar inseridos em uma sociedade”.


Apesar de ser defensor desse modelo de preservação de memórias, Brandão aponta que são necessários determinados critérios para definir os homenageados. “O Brasil é um país que aprendeu a criar heróis… Temos essa ânsia de criar mitos. Aquele que é um hoje daqui a cinco anos, nem falo de um década, deixa de ser. Há pessoas que realmente contribuíram de forma efetiva para a sociedade brasileira, para a arte, para a cultura. Até no campo da ciência isso seria necessário. Vital Brasil, Carlos Chagas… A memória deles tem que ser memória sempre”.


O historiador complementa mencionando que as placas funcionam, no imaginário popular, como as esculturas que imortalizam certos nomes. “Na praia, há a do Drummond e a do Caymmi. Quando a pessoa vê a imagem, por mais que não conheça quem está por trás, faz com que isso entre em seu acervo. ‘Eu sei quem é, já vi a estátua’. Como acontece com a Brigitte Bardot, em Búzios. Ela está bem velhinha, mas ainda faz diferença porque sem ela, a cidade não existiria como hoje. Ela não teria status no Brasil como o Machado de Assis, mas naquela região, foi importante e merece ser lembrada”.


No Rio, a Prefeitura realiza um trabalho de identificação dos patrimônios culturais desde 1992. O mapeamento é realizado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), órgão vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento Urbano (SMPU), e as placas instaladas pelo Poder Público são as azuis e redondas que já são conhecidas dos cariocas. Desde 2010, os circuitos do Patrimônio Cultural Carioca deixaram de ser focados em arquitetura e passaram a abranger 22 temas ligados à cultura e à identidade do Rio, como literatura, cinemas, samba, choro, bossa nova, entre outros. Ao todo, o município possui 263 delas, sendo 20 na área de Copacabana e Leme; dessas, ao menos cinco são destinadas a personalidades (a listagem enviada pela assessoria desconsiderou a dedicada a Vanja Orico, instalada em 2013 na esquina das ruas Sá Ferreira e Raul Pompeia, onde há um parque infantil).


Apesar de esse tipo de informativo ser cada vez mais numeroso, alguns nomes, como Oscar Niemeyer, Elza Soares, Tito Madi, Eliseu Visconti, Rodolpho e Henrique Bernardelli (os irmãos, oficialmente, dão nome à Praça do Lido e estão lá registrados em um busto), Sansão Pereira, João Gilberto, Tancredo Neves, João Goulart, Juscelino Kubitschek, Roberto Burle Max, Lucio Costa, Assis Chateaubriand, Chacrinha, dentre outros, seguem sem placas na região. Até a casa de Ary Barroso, imortalizado em duas estátuas no Leme, segue sem nenhuma menção à vida do compositor naquele imóvel, na ladeira que leva o nome dele. Além disso, espaços históricos de Copacabana também não estão sinalizados com nenhum marco, como os edifícios Albervânia, cenário do atentado da Rua Toneleiro, no número 180 daquele logradouro; e Mamoré, situado na Av. N. Sª de Copacabana, 1.386, moradia do ex-presidente Café Filho que foi cercado pelos militares em uma tentativa de golpe quando o político tomou posse após o suicídio de Getúlio Vargas.

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