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“Em Busca de Judith”: espetáculo expõe relação entre arte, saúde mental e racismo estrutural


(Foto: Divulgação)

Em cartaz até o fim do mês na Sala Multiuso do Sesc Copacabana, o espetáculo “Em Busca de Judith”, com a atriz, cantora e dançarina Jéssica Barbosa, descortina-se a partir de uma história familiar. A peça começou a ser criada há cinco anos, quando a artista ouviu pela primeira vez os relatos sobre a história de sua avó, Judith Alves Macedo, afastada dos filhos e internada num manicômio na Bahia, na década de 1940. A descoberta desta história disparou um processo de investigação sobre as fronteiras da saúde mental e sobre os aspectos sociais e coletivos da loucura, como os sintomas históricos e psíquicos do racismo estrutural.


“Até os 32 anos, eu acreditava que minha avó havia falecido num acidente de carro. Na verdade, quando meu pai tinha 40 dias de vida, minha avó, mulher negra, mãe de cinco filhos, foi internada compulsoriamente num hospital psiquiátrico e ficou lá até morrer, 13 anos depois. Dela se sabe pouco mais do que o nome. É sobre as buscas e descobertas dessa história, permeada pelo silenciamento das vozes femininas e questões que atravessam o sistema manicomial, que trata o espetáculo”, diz Jéssica, que criou o texto a quatro mãos junto com Pedro Sá Moraes, que também assina a direção cênica e a direção musical.


Em cena, a atriz alterna entre o relato biográfico, narrações de antigas fábulas e a teatralidade quase cômica de personagens que marcaram sua busca. Nas canções, compostas por Sá Moraes especialmente para o espetáculo, Jéssica é acompanhada pelo cantor e multi-instrumentista Muato e o percussionista Alysson Bruno (alternando com Loiá Fernandes).


A música também sublinha a busca de Jéssica pelo reencontro com sua ancestralidade negra, como fonte de saúde e estruturação psíquica. Ao longo da pesquisa e criação de “Em Busca de Judith”, para atravessar a dureza da história familiar e dos relatos de sofrimentos indizíveis dos internos nos manicômios, a atriz apoiou-se na conexão com a religiosidade de matriz africana. Por isso tem lugar especial os toques e cantigas para Orixás e Inquices e a dança afro conduzida pelo diretor de movimento Leandro Vieira.


A mãe de Judith, Francisca, dizem os relatos, foi uma mãe de santo no interior da Bahia, vitimada pelo racismo religioso, uma marca da construção social do Brasil. "Eu queria conhecer minha avó”, diz Jéssica, “Acabei descobrindo um universo muito maior que o dela e de nossa família. Todos os preconceitos e fantasias que constituem o imaginário coletivo sobre loucura precisam ser tocados e, a partir desse lugar de escuta, é preciso pensar não só sobre o cuidado, mas sobre a produção de sofrimento psicossocial a partir dos acordos coletivos e da gestão política da vida"


Serviço: “Em Busca de Judith” | Sala Multiuso do Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160) | De quinta a domingo, às 20h30m - até 27 de agosto | Valores: R$30 (inteira) / R$15 (meia) / R$7,50 (associados Sesc) | Duração: 68 minutos | Classificação Etária: 12 anos Gênero: Teatro canção


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