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Ícone do Leme, Edifício Montese tem história associada à Segunda Guerra Mundial

A última edição da coluna “A Arte de Copacabana” exaltou o mosaico que enfeita a portaria do Edifício Montese, no Leme. Após a repercussão da reportagem, alguns moradores entraram em contato com o Jornal Posto Seis convidando a equipe de reportagem para conhecer o prédio, cuja história está diretamente associada à Segunda Guerra Mundial e que até os dias atuais, é um dos mais icônicos do bairro.


Com o retorno dos oficiais após o fim do conflito, na Europa, o alto escalão do Exército se reuniu para tirar o prédio do papel. Todos reuniram o soldo recebido, o que tornou possível um financiamento desse porte na Caixa Econômica Federal; alguns civis (como o próprio arquiteto) foram convidados a se juntarem; e o terreno, onde havia duas casas geminadas, foi adquirido. Diferente dos demais lançamentos imobiliários do momento, este prédio não foi erguido com fins comerciais, o que levou a cada comprador economizar em relação à compra em outros empreendimentos. Além disso, algo até então inédito pôde ser ofertado: cada unidade foi personalizada conforme o desejo de quem que a estava financiando, já que havia várias versões da planta.


Os compradores podiam escolher também se queriam varanda ou não, se teriam sala de jantar, como seria o piso da sala de estar (havia duas variações de tacos de madeira, uma com desenhos geométricos e a outra sem; um com lajota vermelha; e outra considerada de luxo, com o mesmo mármore encontrado no hall), se os tetos receberiam sancas decorativas... Até a posição de algumas paredes foi feita conforme o desejo de quem pagava, o que resultou em unidades, nas colunas A e B, com as mais diversas composições. Havia apartamentos com dois ou três quartos, ainda que alguns poucos tenham aberto mão da sala de jantar ou do escritório para criar mais um. Se houvesse armários embutidos, um dos banheiros seria menor; se não, maior – estes eram tão grandes que, nos dias atuais, alguns proprietários dividiram em dois cujas dimensões ainda chamam a atenção. Já na coluna C, onde os maiores apartamentos foram construídos, todos haviam quatro quartos, mas as possibilidades de personalização também foram ofertadas.


Apesar das incontáveis possibilidades, um detalhe, futuramente, tornou-se um problema: a garagem. Ainda que todos os compradores originais fossem pessoas de alto poder aquisitivo, naquela época, não era comum que as pessoas tivessem carros, portanto, ela foi projetada para receber pouquíssimos automóveis. Com o tempo, foi necessário modernizá-la, criando novas vagas onde antes era passagem. A única obra se deu para construir uma nova entrada à coluna C, originalmente acessada apenas por escadas. Essa, entretanto, não foi a primeira mudança no projeto do edifício: a mais relevante aconteceu ainda durante a construção.


Ainda nesta etapa, apenas um morador da antiga vila de casas, o compositor Ary Barroso, recusou a deixar sua residência. Enquanto os militares interessados em erguer o Montese resolviam essa pendência, a legislação municipal foi alterada e passou a exigir uma distância específica entre cada bloco de um condomínio, o que não seria possível naquele terreno, um dos maiores da região. A solução foi conectar algumas unidades por meio de jardins de inverno, fazendo dos três blocos um único prédio, detalhe bem visível no Google Maps.


Os primeiros moradores chegaram em 1952, quatro anos após a compra do terreno, e, pouco tempo depois, viveram momentos tensos no local. Um dos residentes do Montese era o General Jurandyr Mamede, que após proferir um violento discurso contra o presidente Juscelino Kubitschek após sua eleição, em 1955, passou a ser sitiado em seu apartamento, até então com vista para o mar – naquela época, havia apenas casas baixas na frente. Com isso, um navio ficou ancorado na frente do prédio, aterrorizando os vizinhos devido à incerteza do que a embarcação poderia fazer com o edifício.


Passado o susto inicial, o Montese tornou-se um ícone do Leme que, apesar de conhecido pelos moradores do bairro apenas pelo nome, sem necessidade de descrição, reserva uma surpresa: uma horta. Acessada por uma passagem no interior do edifício, o local é um oásis em meio à cidade: durante a visita da equipe do Jornal Posto Seis, até uma jacupemba, ave que até poucos anos atrás era difícil de ser avistada no município do Rio de Janeiro, foi flagrada voando por ali.


Antigamente, essa passagem servia como acesso para as crianças do prédio e seus amigos ao bosque até então existente na encosta do morro. Naquela época, o portão de ferro fundido da portaria ficava constantemente aberto, permitindo a entrada de todos os pedestres ao prédio. Dessa forma, até a rampa da garagem virava um grande play para os pequenos vizinhos, que se divertiam correndo no declive e descendo ele de bicicletas e velocípedes. Nos dias atuais, tudo isso ficou no passado: com grade e outra porta complementar, o Montese atualizou-se aos padrões de segurança atuais. “Ainda que tenha se tornado “apenas mais um” edifício do Leme, a imponência do passado segue evidente, sinalizando que ali já houve um tempo de prestígio e encanto que o tempo não conseguiu apagar por completo.


Em relação à autoria do painel, questão levantada na edição anterior do Jornal Posto Seis, a dúvida continua. Nenhum dos moradores consultados têm informação sobre quem seria A.Z., que assina a obra. Sua identidade não consta nem na documentação do prédio

 
 
 

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