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"Copacabana 130 anos": Natal nas ruas


Árvore de Natal na Praça do Lido, em 1952

A chegada do Natal faz muitas pessoas relembrarem o passado, quando as ruas eram enfeitadas para celebrar a festa. A proximidade da data fazia com que muitos logradouros recebessem decorações, o que ficou na memória afetiva de muitos.


Em Copacabana, até 1924, não há registros de comemorações públicas. Naquela data, o hotel Copacabana Palace, inaugurado no ano anterior, abriu as portas para a comunidade, que contemplou uma árvore de Natal repleta de presentes para a criançada. Alguns eram bastante valiosos, como um pequeno automóvel infantil e uma máquina de costuma para esse público, mas no geral, brindes menores fizeram a alegria dos presentes. O sucesso foi tanto que, em 1925, nova ação de distribuição de mimos, novamente dispostos em uma árvore de Natal, atraiu os pequenos moradores, que se divertiram também com um chá dançante. Os adultos que os acompanharam foram agraciados por uma orquestra de jazz-band, que antecipou a celebração de virada de ano – comemorar o réveillon no bairro só se popularizou na década de 1950, ainda muito ligado à religiosidade.


Foi apenas em 1952 que o bairro viu nascer o embrião do que viriam a ser as grandes ornamentações. Naquele ano, a cidade do Rio recebeu a que viria ser chamada de “Primeira Árvore de Natal”, que, na verdade, eram duas. A pioneira, de fato, ficava na Cinelândia, mas pegou fogo imediatamente após a inauguração por causa de um curto circuito. No dia seguinte à reconstrução, foi a vez da de Copacabana ser acesa; ficava na Praça do Lido. Nascia, então, a tradição de levar clima festivo para as ruas e já naquele ano, o Cristo Redentor foi adornado e a Quinta da Boa Vista recebeu um presépio, além de outras árvores menores terem sido rapidamente instaladas ao longo da Avenida Rio Branco. Em 1953, marcando esse início em toda a cidade, foi realizado o “Primeiro Natal de Rua do Brasil”, nome atribuído pela Prefeitura àquele marco. Copacabana, novamente, foi incluída no roteiro: dessa vez, o adorno do Lido tinha 25 metros de altura.


Em paralelo, o Poder Público estimulava os negócios a se mobilizarem em prol da festa, o que foi um sucesso. Já em 1955, a Avenida Nossa Senhora de Copacabana foi inteiramente decorada entre as ruas Siqueira Campos e Constante Ramos. O empenho foi tanto que cada árvore previamente plantada recebeu iluminação temática, complementando os outros adornos. Até a figura de Papai Noel desfilou pelo bairro, alegrando a todos, o que se seguiu nos anos seguintes.


As dimensões da celebração cresceram a tal ponto que, em 1961, toda a extensão daquele logradouro foi grandiosamente enfeitada. O clima festivo tinha início ainda na Avenida Princesa Isabel, onde uma estrela de 14 metros podia ser vista acompanhada da inscrição “Boas-Festas, comércio de Copacabana. Feliz ano novo” – cada letra tinha dois metros de altura. Ao lado, um pinheiro natalino de 17 metros complementava o brilho da festa, que ficava ainda maior no caminho ao Posto 6. Todas as árvores plantadas receberam bolas de 25 e 15 cm, além de enfeites metálicos. Fora isso, a cada 50m, anjos cor de rosa com 4m de altura foram pendurados nos postes. O presépio foi instalado na Praça Serzedelo Correia, que, em 1962, recebeu um órgão gigante que reproduzia canções natalinas (no ano seguinte, “Noite Feliz” passou a ser executada repetidamente).


Naquele ano, outra faixa, semelhante à anterior, foi novamente colocada acima do túnel, mas com dimensões ainda maiores. Os efeitos sonoros podiam ser conferidos ali também, na estrela de Natal, que era sonorizada. No canteiro central, um enorme Papai Noel quase da altura do morro inteiro complementava a festa, que voltou à Praça do Lido na festa seguinte: uma torre com 50 sinos foi instalada no local, com patrocínio do comércio do bairro, que ainda financiou um órgão sonorizado em cima dos túneis da Avenida Princesa Isabel e uma árvore gigante na Praça Serzedelo Correia. Os clientes das lojas que custearam os adornos também foram presenteados: eles concorreram a prêmios como carros, televisões, geladeiras e muito mais.


Com o passar dos anos, a festa continuou crescendo. O Copacabana Palace voltou a partricipar em 1965, quando sediou a a IX Exposição do Clube de Decoradores e Bazar de Natal de “O Cruzeiro” no Copacabana Palace. Durante cinco dias, o salão do hotel exibiu peças decorativas assinadas por vários artistas, mas foi em 1968 que a festa ganhou dimensões inimagináveis para os dias atuais: um helicóptero levou Papai Noel até a Praça Cardeal Arcoverde, inaugurando a I Feira de Natal de Copacabana. O Bom Velhinho distribuiu presentes e doces para a criançada presente, que contemplou a árvore montada na altura da Rua Barata Ribeiro.


Ao longo da década seguinte, o cenário mudou. A 1970, a Prefeitura tornou-se responsável pela festa e com isso, as empresas do bairro foram vetadas de colaborar financeiramente com a decoração, apesar de serem livres para montar as suas nas imediações dos próprios negócios. Dessa forma, um grupo de comerciantes da Rua Santa Clara ornamentou um quarteirão, complementando os anjos instalados pela Prefeitura em cima dos túneis da Avenida Princesa Isabel, mesmo lugar utilizado ano seguinte, quando a população rejeitou os enfeites chamando-os de monótonos, já que eram iguais aos do Natal anterior. As críticas continuaram em 1972. Apesar de uma parcela defender os adornos, outra os considerava obras de fachadas, que não beneficiavam em nada a parte da sociedade que mais precisava de ações do Poder Público. A crise chegou a tal ponto que em 1973, o diretor da Riotur demitiu-se após o governador Chagas Freitas determinar a retirada dos enfeites de Copacabana, que traziam baleias, foguetes e robôs com mensagens natalinas e alto-falantes que deveriam reproduzir canções natalinas, mas tocavam músicas populares em volume que incomodava a população.


Já em 1974, havia comentários saudosos sobre os enfeites do passado, considerados mais luxuosos que os instalados pela Prefeitura, e para os empresários de Copacabana, a ausência do clima natalino nas ruas, somada às chuvas que assolaram o Rio naquele mês de dezembro, ajudaram a afastar os clientes das lojas, resultando em uma queda considerável nas vendas – para eles, a população não estava se dando conta da proximidade da festa, que seria em uma semana. Em paralelo, a figura do Papai Noel era considerada ultrapassada, o que levou o personagem a ser substituído por 14 bonecos de neve quando os adornos, finalmente, foram levados às ruas, enfeitadas também por losangos coloridos e luzes temáticas. A Rua Santa Clara novamente foi ornamentada pelos lojistas, que penduraram estrelas e bolas em toda sua extensão. No ano seguinte, a Rua Raimundo Corrêa foi adornada pela primeira vez para o Natal, por iniciativa da população. A estreia foi o que salvou a festa no bairro, enfraquecido pelos atrasos de planejamento por falta da municipalidade.


Em paralelo, a construção do hotel “Le Méridien”, no Leme, contribuiu para enfeitar Copacabana. Anualmente, a partir de 1976, um enorme pinheiro formado por luzes coloridas, com 70m de altura, passou a ser montado na fachada voltada para este bairro, dando início à tradição que viria a ser adotada por outros hoteis, como o Rio Othon (que, em algumas ocasiões, além de uma árvore instalada em deu terraço, trouxe ao público também uma mensagem desejando feliz ano novo) e, porteriormente, em 1993, o Copacabana Palace.


Apesar da crise da festa nas ruas, ela voltou a ganhar força na década de 1980. Em 1983, uma árvore de Natal com 1.050 lâmpadas, totalizando 14m, foi montada na Avenida Princesa Isabel, remetendo às celebrações do passado. Do ano seguinte, as alegorias gigante voltaram a ser montadas em cima do Túnel Novo. Essa retomada, entretanto, foi freada em 1986, quando a imprensa da época noticiou que a Light teria proibido iluminações nas ruas, evitanto gambiarras e poupando energia elétrica. A situação complicou-se a ponto de funcionários da Comissão Municipal de Energia impedirem a Riotur de pegarem os enfeites no depósito.


Nesse momento, a festa nas ruas já havia perdido seu brilho. Em paralelo, os shoppings começavam a se popularizar, tornandos-se concorrentes das lojas de rua. Em 1997, como estratégia para recuperar os clientes que migraram para esses centros comerciais, os lojistas de Copacabana voltaram a investir em decoração natalina (ainda que muitos viessem fazendo esse tempo todo), acreditando que a população sairia de casa para contemplá-la e, consequentemente, aproveitaria para fazer as compras. Tal medida impulsionou o concurso de vitrines decoradas promovido Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Sindilojas), que premiou três escolhidas por um corpo de jurados.


O Natal de rua de Copacabana foi reaceso apenas em dezembro de 2021, quando a orla recebeu adornos temáticos após muito tempo. A árvore de 14 metros, o letreiro de “Feliz Natal” e os demais enfeites foram bastante fotografados pela população, que, pela primeira vez na era das redes sociais, pode desfrutar dessa festa popular.

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