Ainda relembrando os cinemas do Posto 6, esta coluna cita, nessa edição, o Caruso, que funcionou durante 30 anos no número 1.362 da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, esquina com Avenida Rainha Elizabeth. Inaugurado pela empresa D. V. Caruso & Filhos em um momento onde a concorrência era grande até no próprio entorno, foi apontado como “suntuoso” antes mesmo de abrir suas portas, já que seguia o modelo das demais salas, com muito luxo e conforto.
Apesar do investimento inicial para tudo funcionar perfeitamente, o Caruso não se livrou, em um primeiro momento, de realizar sessões sem refrigeração, como ocorria eventualmente nos demais cinemas, mas diferente de outros, o motivo era algo além da falta de manutenção do equipamento. O que causava os transtornos eram as faltas d’água recorrentes que afetavam o Rio, o que só viria a ser resolvido com a construção da Elevatória do Lameirão na década seguinte. Na medida em que o problema passou a ser constante, o cinema foi apelidado pelos frequentadores como “Sauna do Posto 6”.
Em meio a essa situação, o Caruso passou a ser apontado como um dos melhores da cidade, o que afetou o valor dos ingressos, considerados elevados para a época. Por diversas vezes o espaço foi multado devido ao preço apontado como abusivo, mas isso não impedia a cobrança alta, muito menos afastava o público, que lotava o espaço. Todos queriam assistir a filmes ali e a oferta de títulos era considerada excelente. Foi ali, por exemplo, que ocorreu a estreia nacional de “Juventude Transviada”, com James Dean, título que começou a inspirar o comportamento dos jovens da época e marcou época.
Em maio ao enorme sucesso da sala, o Caruso virou notícia por motivos inusitados polêmicos, como quando, em 1954, frequentadores queixaram-se da dificuldade em estacionar seus carros em uma das poucas vagas próximas dali, já que a mesma seria reservada ao presidente Café Filho, que se recusou a viver no Palácio do Catete, endereço do suicídio do seu antecessor, Getúlio Vargas, dois meses antes. Oficialmente, as informações eram de que ele moraria na Gávea Pequena, no Alto da Boa Vista, mas o dirigente seguiria em Copacabana, no número 1.386 da mesma via.
O Caruso, assim como outros cinemas, também foi endereço de vários festivais, como o da “História do Cinema Russo e Soviético”, patrocionado pela Filmoteca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; e o “Das Maravilhas de Walt Disney”, que ajudou a difundir os desenhos deste estúdio no Brasil. Em outros momentos, houve também sessões oferecidas pelas embaixadas do México e da Itália, entre outras programações especiais
Nessa altura, o cinema era gerido pelo exibidor Lívio Bruni, responsável por outros espaços diversos na cidade, inclusive em Copacabana. Posteriormente, em 1971, ele foi um dos apoiadores da construção de um mausoléu para os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira nos cemitérios São João Batista e Caju e para angariar fundos, programou no Caruso a pré-estreia nacional do filme “Em Família”, dedicando toda a verba à ação.
Com o passar do tempo, a decadência também atingiu o Caruso, que ainda cobrava valores elevados por uma sala apontada como um “pulgueiro”. Problemas como a baixa qualidade da tela e das projeções se tornaram frequentes na década de 1970 e a situação piorou quando as obras do mezanino foram paralizadas, fazendo o público dividir espaço com materiais de construção e sujeira levada por eles. Até morcegos eram presença constante. Melhorias foram realizadas e entre altos e baixos, a sala manteve-se aberta até 1984, quando foi fechada para nova reforma – a maioria das que ainda funcionavam naquela época foram reformadas e modernizadas nesse período. Apesar da promessa de reabertura, o local foi transformado em uma agência bancária, função do endereço até os dias atuais.
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