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Colônia de Pescadores Z13 celebra 100 anos


A colônia de pesca Z-13 completou 100 anos no fim de junho. O centenário da instituição, a mais tradicional da região, marca a resistência dos pescadores, que ocupam aquele trecho da praia há, pelo menos, dois séculos, e ainda lutam por direitos e reconhecimento.


O aniversário foi definido a partir do registro do espaço. A partir de 1919, a Marinha organizou os grupos que realizavam a pesca como ofício e no dia 29 de junho de 1923, o núcleo de Copacabana foi oficializado. A data, conforme a visão do atual presidente do espaço, José Manoel Rebouças, foi a melhor possível, já que coincide com o Dia de São Pedro, padroeiro da atividade. “Foi exatamente em uma ocasião festiva. Os pescadores já faziam comemorações”.


Apesar de a legitimação ter ocorrido há 100 anos, há registros de profissionais do mar ocupando aquele espaço antes mesmo de Copacabana ser incorporada à cidade. Não se sabe quando aqueles homens chegaram ou a razão pela qual se fixaram naquele trecho chamado, até então, de “Igrejinha”, em menção ao templo religioso que foi construído no local onde, atualmente, existe o Forte de Copacabana, mas ainda em 1858, foram eles quem ajudaram a mídia da época a compreender o que levou duas baleias a encalharem nas areias da praia, fenômeno que inseriu Copacabana “no mapa”; até o D. Pedro II, que, acompanhado das princesas Isabel e Leopoldina, veio à região. “Se olhar as fotos antigas, antes mesmo de haver construções em Copacabana já havia os pescadores aqui”, conta Rebouças, que menciona outros episódios.

Eram também os profissionais de Copacabana que faziam os resgates no mar antes mesmo de a Prefeitura criar o Serviço de Salvamento, em 1917 – o poder público criou o órgão exatamente por conta do grande número de socorros prestados pelos pescadores. Há registros até de que a francesa Louise Chabas, proprietária do icônico estabelecimento Mère Louise, inaugurado no fim do século XIX naquele canto da praia, teria ajudado na ação a bordo de uma das canoas do grupamento, uma vez que o mar estava revolto demais, causando um enorme número de afogamentos.


O passado da colônia é repleto de outros episódios, conforme lembra o presidente. “O Forte de Copacabana foi reconstruído com uma mega operação de guerra e os pescadores continuaram ao lado”, comemora, lembrando as tensões políticas que existiam durante a Primeira Guerra Mundial, período no qual a fortificação estava sendo ampliada. “O alimento da época era peixe e ninguém sabia pescar”, analisa, sugerindo ter sido este o motivo pelo qual os trabalhadores do mar não foram expulsos na época. Futuramente, as embarcações foram usadas como trincheiras na Revolta dos 18 do Forte, em 1922, primeiro movimento contra a República Velha no país; as fotos deste episódio foram preservadas na sede da Z13, no Posto 6.


Apesar de tantas histórias e da oficialização em 1923, apenas na década de 1980 a área começou a ser regularizada. “A construção foi feita naquela data”. A cessão do terreno se deu apenas em 2014 - até então, pertencia à Superintendência do Patrimônio da União. “A colônia resistiu a toda a evolução da urbanização e chegou aos dias atuais como um modelo de sustentabilidade, mostrando ao mundo que os pescadores têm importância muito grande na produção de alimentos, no equilíbrio e na manutenção dos oceanos, além de estarem presentes em grandes pesquisas científicas (a Z13 é parceira do Museu Nacional)”, comemora o presidente, que se mostra grato às instituições do entorno pelo reconhecimento no centenário. “No dia, o Forte, o 3º Grupamento Marítimo, o Clube Marimbás, o Hotel Fairmont e a Subprefeitura abraçaram a colônia como uma criança”.


Para Manoel, presidir a instituição na ocasião do centenário é algo muito especial. “É um momento de grandes emoções. Sou cearense e pesco no mar desde muito cedo. Vivi a experiência que meu pai passou, das dificuldades em uma época tão difícil e muitas vezes sem direitos sociais. Ele contava muito as histórias dos jangadeiros que vieram do Ceará tentar garantir isso na época do Vargas. Ele não conseguiu curtir os benefícios, mas a gente desfruta hoje o que muitos lutaram lá atrás. Quando chego na colônia e lembro que Vargas recebeu esses navegadores aqui em Copacabana, sinto uma alegria muito grande”, menciona, continuando: “Fico muito emocionado mesmo porque chegamos até aqui passando por todas essas situações. Foram momentos muito fortes e a colônia continua aqui com seus barquinhos pequenininhos usando um pouco da água do oceano. Para mim, como pescador, acho que Deus preparou o momento para eu estar aqui. Aproveitei da melhor forma possível a chegada do centenário”


A data foi marcada com uma grande festa no local no próprio dia 29 que teve início com o padre da Paróquia da Ressurreição, Darlan Carvalhal, abençoando os barcos. Em seguida, estes realizaram uma pequena procissão, com a presença das mulheres dos pescadores, levando a imagem de São Pedro pelo mar. Quando todos voltaram, a placa comemorativa dos 100 anos foi instalada. No momento, as bandeiras foram hasteadas e o Hino Nacional, executado antes de um pescador cantar para o público presente.


O dia teve sequência com uma missa e o almoço oferecido pelo Hotel Fairmont, com apoio do Clube Marimbás, aos trabalhadores do local e seus familiares. No fim da tarde, outra missa foi rezada. Os festejos tiveram fim com o grande show de forró oferecido pelo cantor e cordelista Marcos Lucena. “Entrou para a história da Z13”, ressalta Rebouças, que promete mais atividades celebrando a data: “O centenário vai até 2024”. Em meio às festas pelo passado, a colônia também se prepara para o futuro. No dia 24 de junho, foi concluído o curso de formação de novos pescadores, que atendeu jovens moradores das comunidades do entorno. Ao todo, 17 profissionais se formaram e alguns já começaram a trabalhar no local. “Eles aprenderam tudo o que é necessário para pescar”, comemora Rebouças.

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