Conforme apresentado na edição anterior, o Cinema Atlântico foi uma das primeiras salas de Copacabana, inaugurada em 1919. Antes mesmo de abrir as portas, firmou contrato com o Cinema Odeon, no Centro, e ganhou exclusividade para transmitir os filmes da Companhia Brasil Cinematográphica. Posteriormente, novos acordos foram acertados com o Cinema Pathé, garantindo as películas da Fox, e o Cinema Avenida, o que levou as produções da Paramount para as telonas daquele novo espaço. Isso, imediatamente, fez do Atlântico o favorito da região, atraindo a elite, que chegou a conseguir que a prefeitura mudasse o ponto do bonde, originalmente na esquina da Rua Figueiredo Magalhães, para a frente do estabelecimento, facilitando o transporte.
Como era comum na época, o Atlântico contava com apresentação de orquestra. Logo impulsionou a abertura de estabelecimentos vizinhos, como um bar e café homônimo, que aproveitou a fama da sala de projeção para ganhar fama. Em pouco tempo, o cinema passou a se entitular como o melhor do Rio. Assim como a sala concorrente em Copacabana, o Atlântico também colaborou para a construção da Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, com festas, como recitais de piano, e festivais variados em prol de grupos religiosos, dos escoteiros e do orfanato mantido pelas freiras do Colégio Sagrado Coração de Maria, que já funcionava nessa época – o Colégio Mallet Soares também realizou festas ali.
Apesar de fazer muito sucesso nas exibições, também foi bastante procurado por organizadores de concursos de belezas femininos. O primeiro, em 1923, foi promovido pelo jornal Beira-Mar, e teve como vencedora Palmyra Castro, com 1.954 votos. Posteriormente, em 1926, houve outro, realizado pelo Circuito Nacional de Exhibidores, junto com outras seis salas de diversos lugares da cidade. As fotos das participantes eram oferecidas pela própria organização e pelos produtores de cada cinema, visto que não era comum as pessoas terem suas próprias câmeras. A vencedora, em Copacabana, foi Noemia Napolitano, com 1.465 votos – ela ainda venceu mais um concurso, também promovido pelo jornal Beira-Mar.
Nesse mesmo ano, o Cinema Atlântico passou a emprestar seu espaço para bailes de carnaval e ensaios de agremiações como “Sim... Disfarça e Olha”, da Ladeira do Leme; “Bloco do Lisboa”, da Rua Constante Ramos; e “Bloco do Oceano”, da Rua 20 de Novembro (atual Visconde de Pirajá, em Ipanema). Outros eventos carnavalescos sediados ali foram as Festas dos Ranchos, com diversos conjuntos reunidos. O Atlântico também foi um dos pioneiros no que diz respeito ao cinema falado no bairro. A exibição de “Hollywood Revue”, em 1929, pôs fim às exibições mudas naquele endereço, cada vez mais disputado pela alta sociedade, assim como o “Cinema Americano”, seu concorrente.
Em 1932, a visita ilustre de Carmem Miranda fez o Cinema Atlântico virar notícia. A artista, que começava a despontar para a fama e ainda não era contratada por nenhuma rádio, já se destacava no cenário cultural e foi uma das atrações do Festival do Pobre, promovido pela Associação das Senhoras de Cariedade, e saiu do protocolo ao apresentar um tango argentino em meio ao programa que prometia apenas músicas nacionais.
Em 1934, as matinés deram início ao lazer durante o dia no bairro. Até então, todas as sessões eram noturnas e não restava outra opção à população de Copacabana, do Leme e de Ipanema sem ser a praia. As novas sessões, às 14h, eram dedicadas a todos os públicos, mas o proprietário Luiz Severiano Ribeiro (que posteriormente batizou um conglomerado de salas), pessoalmente, decidiu por exibir filmes também às 10h dos domingos, estes voltados ao público infantil.
O Cinema Atlântico funcionou até 1938, quando a empresa Vital Ramos de Castro comprou o prédio, reformado e transformado no Cinema Ritz, que recebeu o público até 1956. Este contava com 1 mil lugares e foi um dos pioneiros a oferecer meia entrada para crianças e estudantes. Você lembra dele? Mande suas lembranças para a gente!
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