Publicado na edição 367 (1ª quinzena de agosto de 2013)
Thayssa Rodrigues
Dando continuidade a série especial “As Vilas de Copacabana”, iniciada há algumas edições, o Jornal Posto Seis aponta, agora, o diferencial desses pequenos vilarejos em meio ao crescimento imobiliário que os cerca. Espremida entre um enorme muro de concreto, que delimita o espaço do prédio vizinho, a Vila 31, localizada na Rua Dias da Rocha, é diferente de muitas outras, pois apenas o lado oposto ao ocupado pelo edifício possui moradias, totalizando cinco imóveis privilegiados por estarem preservados dentro desse ambiente. Moradores relatam a alegria de viver ali, os medos trazidos pelo crescimento acelerado da vizinhança e a valorização da vila como um espaço de moradia cada vez mais desejado.
Segundo a moradora Natalie Yates, o terreno ocupado pela vila era, há muitos anos, um anfiteatro, que ocupava três grandes lotes de terras da região. No entanto, com o tempo, apenas um faixa estreita dessa área foi preservada, sendo ocupada até hoje pelas cinco casas do vilarejo, circundadas por grandes edifícios. “Certo dia veio um fiscal aqui informar que as moradias, de acordo com as normas atuais, precisam de mais espaço para circulação de ar, no entanto, entramos com uma ação avisando que quem construiu ao redor de nossas casas foram os prédios, que colaram seus muros na vila e tiraram essa área de circulação”, afirma, explicando, ainda, que apesar dessas construções terem chegado bem depois da vila, não há como frear a realidade de crescimento imobiliário que impera atualmente: “teria que ter um espaço para arejar essa área, mas não temos mais como alterar isso”.
Além disso, Natalie explica, também, que as leis mudam muito com o tempo, mas as pessoas deveriam se lembrar de como eram as normas quando esses espaços de moradia foram construídos. “Os processos atuais são todos eletrônicos e acabam não incluindo documentações tão antigas quanto as do início da existência das vilas, mas é importante lembrar que antes de tudo isso se modernizar eram elas que estavam aqui, com espaço suficiente para circulação de ar e luz do sol”. Para ela, o espaço é maravilhoso e consegue preservar, mesmo nos dias atuais, um estilo de vida único, diferente do vivenciado por aqueles que residem em prédios ou condomínios modernos. “Desejo um dia conseguir comprar a casa onde moro, porque o ambiente é maravilhoso. Todos aqui torcem para que eu compre, porque as pessoas ficam amigas”, afirma relatando que a convivência próxima e sadia entre os vizinhos é boa também para a filha, Ana Mel Yates Ferreira, de 6 anos, que costuma brincar na rua com amigas de idades próximas a sua, que também moram por lá. “Ela tem uma infância maravilhosa aqui dentro, além de brincar muito na rua, o espaço oferece a ela uma consciência ambiental, por conta da área que ela tem para se desenvolver, que é difícil de ver hoje em dia”.
Ana Mel concorda com a mãe e destaca o que mais gosta de fazer na vila, que chama carinhosamente de jardim: “adoro brincar no meu jardim e molhar as minhas plantinhas!”, explica a menina, que logo é complementada por sua mãe, que afirma que ela sempre sai de casa para regar as plantas, que ficam na porta. “Ela fala para todo mundo que esse é o jardim dela. Nem todas as crianças têm esse privilégio hoje em dia”. Ana Mel faz questão de contar que adora todas as amigas que tem na vila, mas deixa um alerta a possíveis interessados em entrarem para a turma: “é muito legal viver aqui, mas não tem espaço para mais ninguém morar aqui não!”.
A raridade de encontrar atualmente lugares como esse em meio a paisagem urbana faz com que as vilas sejam, de fato, espaços muito desejados, mas que dificilmente possuem algum imóvel disponível. É justamente essa situação que deixa o morador Emanuel Vaz tranquilo, por ter a certeza de que o ambiente não será extinto. “Não tenho medo das vilas acabarem por conta do crescimento imobiliário, porque acho que a tendência desses lugares de moradia é ficarem cada vez mais valorizados, justamente devido à preservação de seu estilo de vida, comparado ao crescimento da área que os rodeia”. Ele relata, também, que os vilarejos possuem um modo de vida peculiar, dificilmente encontrado fora de seus portões: “Todos são conhecidos. Ninguém aqui toca a campainha, por exemplo, as pessoas se chamam pelos nomes mesmo, gritando nas janelas ou nas portas das casas”.
Emanuel conta que mora na vila há três anos, mas a casa onde reside já estava na família de sua mulher há mais de meio século. “Meu sogro morava em uma casa que ficava no terreno ao lado, ocupado agora por um prédio, que ele mesmo construiu. Na época ele decidiu construir o prédio no terreno e veio morar na vila, que já existia”. Com o passar dos anos, o vilarejo foi todo cercado por grandes edificações, destoando na paisagem da rua como um ambiente imerso na grande cidade, mas com características tradicionais bem preservadas. Apesar de não morar com nenhuma criança, o proprietário relata o fascínio que o espaço exerce na vida de uma pequena visitante da família: “a neta da minha esposa vem sempre aqui brincar. Para criança a vila é a melhor coisa que existe! Não dá para elas brincarem no corredor de um edifício, não é? Aqui elas brincam livres pela rua, como se fazia antigamente. Acho que essa liberdade é o grande diferencial”, finaliza.
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