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Última casa da Avenida Atlântica será demolida

Publicado na edição 372 (2ª quinzena de outubro de 2013)

A última casa da Avenida Atlântica, localizada quase na esquina da Rua Santa Clara, será demolida. O imóvel teve sua derrubada aprovada pelo Instituto Rio Patrimônio Histórico e a obra já foi iniciada. A propriedade, de dois andares, tem 850m² e foi erguida há mais de 90 anos.


Construída em uma época na qual o bairro inteiro era cheio de imóveis baixos, pouco se sabe sobre sua origem, já que, cercada da outros casarões, não atraía tantos olhares curiosos como nos dias atuais. A data de sua conclusão é desconhecida, mas em uma foto de 1925, ela já aparecia de pé, com a fachada bastante diferente da atual. Se, antes, entre seus vizinhos estavam o exótico palacete da família Smith-Vasconcelos, o Hotel Londres (o primeiro de Copacabana), a casa de veraneio dos Guinle e a residência do empresário Assis Chateubriand, hoje ela é cercada de altos edifícios. O único lado livre é a frente, que permitiria a visão para o mar caso o muro não fosse tão alto e a Avenida Atlântica não tivesse sito aterrada. No entanto, a altura das construções ao seu redor, ao invés de esconderem a antiga estrutura, fazem sua fachada de pedra destacar-se.


Em 1987, a já septuagenária construção foi copiada para servir de cenário para a novela “O Outro”, onde ganhou tanta importância que passou a ser quase um personagem de trama, quando sua derrubada na ficção foi discutida. Até uma passeata contra a demolição chegou a ser organizada. Os prédios vizinhos também receberam réplicas fieis na cidade cenográfica erguida em Guaratiba especialmente para a ocasião, com o intuito de reproduzir todos os detalhes da “casa de pedra”, nome pelo qual tornou-se conhecida.


Até 2012, o imóvel pertencia à Sra. Zilda Azambuja Canavarro Pereira, que morreu em maio, aos 100 anos. Era raro ela ceder entrevistas, mas, nos anos 80, dizia não saber há quanto tempo morava na casa, adquirida pelo seu marido, o comandante do II Exército General José Canavarro Pereira. Recurava-se também a dar detalhes sobre seu interior, como o número de cômodos, limitando-se a dizer que a construção era relativamente moderna (provavelmente referindo-se à obra que modificou seu exterior) e que a história dela não interessava a ninguém. Zilda dividia-se entre a casa de Copacabana e o Hotel Quitandinha, em Petrópolis, por isso raramente era vista entrando ou saindo. Apesar de passar pouco tempo no local, recusava-se a receber corretores por não ter interesse em se desfazer da propriedade.


Após sua morte, foi iniciado um processo no Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural, do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, pedindo sua demolição. Por se tratar de um imóvel anterior a 1938 (data do primeiro cadastro municipal da cidade – logo, este ano consta na documentação de todos as construções erguidas até então), qualquer alteração deve ser previamente aprovada. A derrubada, solicitada ainda em 2012, foi assentida. A destruição ainda não tem data para acontecer, segundo o segurança do local, Felipe Eusébio, que diz que ali será erguido um hotel.


A parte interna da “casa de pedra” já começou a ser desmontada: algumas das janelas do segundo andar foram retiradas e a parte da frente do jardim transformou-se em canteiro de entulhos. No entanto, a parte externa deve permanecer de pé por mais algum tempo: apesar da Secretaria Municipal de Urbanismo declarar não tornar públicas as informações sobre esse tipo de processo devido à privacidade do proprietário de cada imóvel, o pedido de demolição ainda não consta na listagem das solicitações de licença publicada pelo site da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU) – lista esta que, segundo o órgão, deve ser pública para casos específicos envolvendo a reinvindicação da propriedade.

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