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Temporada de migração de baleias atrai animais ao litoral


(Fotos: Paula Kotouc)

A temporada de migração de baleias jubartes está acontecendo neste exato momento. Desde maio, os animais estão se deslocando em direção às águas quentes para se reproduzir. O movimento acontece anualmente, mas nos últimos anos, tem sido marcado por um crescimento no número de avistamentos. Para conferir como o trabalho de monitoramento é realizado, a equipe do Jornal Posto Seis acompanhou uma saída dos pesquisadores do Projeto Ilhas do Rio, que faz o acompanhamento desses animais em águas fluminenses, na manhã do dia 17 de julho.


O grupo se encontrou ainda cedo na Urca e logo embarcou para tentar a sorte no mar. Apesar de todo o preparo, engana-se quem pensa que avistar os bichos é algo fácil e corriqueiro. Muitas vezes, nenhum aparece; por isso, a atenção em todas as saídas tem que ser máxima: qualquer mínimo movimento até na linha do horizonte pode indicar a passagem de algum animal. Nesta expedição em questão, demorou cerca de uma hora até alguém anunciar “a baleia esguichou ali, perto das Cagarras”. A partir do anúncio, o acompanhamento teve início e o animal só voltou a ser visto perto da Ilha Rasa – presume-se que era o mesmo pela direção em que nadava, o tempo entre uma visão e outra e também pelas “pegadas” deixadas na água. Chamadas de liseiras, essas marcas são formadas a partir da água carregada por cada uma delas quando voltam a mergulhar.


Do barco, é impossível precisar quantos animais foram avistados a cada saída– naquela data, estima-se que foram 17, mas podem ter sido mais, uma vez que só é possível diferenciá-los comparando o padrão da parte de baixo da cauda, que é diferente em cada exemplar, como uma impressão digital. Na hora, os movimentos são muito rápidos. Por este motivo, nem sempre os pesquisadores conseguem fotos nítidas da cauda aparecendo inteira, mostrando o padrão completo. Quando isso acontece, as imagens são comparadas com as feitas em outras expedições e os animais, catalogados. “No Projeto Ilhas do Rio, há 71 fotoidentificados. Tem que ficar comparando, não é fácil”. Esse trabalho associa um código a cada baleia, que, se vista novamente, em outro ano, recebe atualizações sobre suas informações geográficas. “Elas estão migrando, não passam duas vezes. O trabalho com esses bichos é de formiguinha”. Há ainda uma plataforma internacional com dados coletados por diversas entidades.

No barco, as informações são coletadas no momento em que os pesquisadores estão com os animais – durante o tempo todo, uma distância segura, de cerca de 100m, é mantida pela tripulação. Até o tempo entre o mergulho profundo e a nova aparição é cronometrado: em média, esse intervalo demora entre quatro e oito minutos. A profundidade da água naquele trecho também é registrada por um ecobatímetro (equipamento que mede essa distância por meio do tempo de retorno do eco de um sinal sonoro refletido no fundo) – no geral, todas elas nadavam em águas com média de 50m.


Cada movimento é celebrado pelos pesquisadores, que, mesmo vendo estes animais com certa frequência anualmente, ainda se emocionam. “Olha o pulão”, comemoram, quando uma jubarte aparece com o corpo inteiro fora d’água. Quando algumas foram flagradas movimentando as nadadeiras, frases como “olha, aquela está dando tchau” foram ouvidas, assim como outras, em tom empolgado, como “a baleia foi andando (sic) para lá”. Algumas aparições são tão rápidas que nem as pessoas acostumadas com aquele trabalho notam: em certo momento, enquanto todos olhavam na direção de onde uma havia mergulhado, a equipe do Jornal Posto Seis aproveitou para fotografar a paisagem e naquele instante, outra apareceu a uma distância relativamente perto do barco, sumindo logo em seguida, em um piscar de olhos, antes que os pesquisadores se virassem após ouvirem o aviso.

Após algumas aparições, um susto: um cetáceo, que já havia sido avistado e estava sendo procurado após mergulhar, chegou nadando sorrateiramente e pulou com o corpo inteiro para fora a cerca de 2m do barco, a bombordo. A aproximação, entretanto, não foi comemorada. “É um exemplo prático de como os acidentes acontecem. Estão se repetindo no mundo todo. Um leigo ficaria perto dela”, descreve a bióloga Liliane Lodi enquanto o barco ganhava velocidade para se afastar do animal, que estava agitado e deu outro salto. Se continuasse perto, poderia ocorrer um imprevisto. Pela movimentação do animal, foi compreendido que a aproximação foi intencional.


Liliane aproveitou o momento para fazer uma alerta: há operadoras oferecendo passeios para ver baleias, no Rio, sem o devido treinamento. A pesquisadora frisa que existe o receio de que a exploração predatória desse tipo de turismo, que está em crescimento na cidade, afaste os animais do litoral em futuras migrações, o que acabaria com o trabalho de pesquisa e também com o turismo de contemplação. “Se eles se afastarem, ninguém mais irá ver”. Esta modalidade de passeio já está consolidada, com sucesso, no Espírito Santo, na Bahia e em São Paulo, conforme mostra o site do Projeto Baleia Jubarte, que estuda essa espécie. No Rio, entretanto, ainda está em fase de implementação: “Quem está levando as pessoas aqui sequer está interessado em aprender como agir corretamente. Não conhecem nem os sinais que indicam se o animal está estressado com a aproximação, o que está resultando em acidentes no mundo todo devido às dimensões de uma baleia”. Para fins de informação, a estudiosa lançou recentemente a cartilha "Boas Práticas Para a Observação de Cetáceos na Cidade do Rio de Janeiro", disponível gratuitamente em formato digital. O material pode ser baixado no Instagram @baleiasgolfinhosrj, no link da bio.

Após o susto, a bonança. Um grande período de tranquilidade transformou a expedição quase que um passeio pelas ilhas do litoral da Zona Sul carioca, ainda que os olhares continuassem atentos. Foi exatamente essa concentração que permitiu o avistamento de um grupo grande bastante distante: ao menos nove animais estavam reunidos, nadando juntos, encerrando a saída com chave de ouro.

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