Os moradores do entorno da Rua Guimarães Natal sofrem com um problema crônico há aproximadamente cinco anos: os ruídos oriundos da subestação da Light que existe naquele endereço. Desde que os transformadores antigos foram substituídos por equipamentos mais modernos, que geram menos impactos ambientais, a poluição sonora passou a incomodar de maneira ininterrupta, inclusive de madrugada.
“É um zumbido permanente que extrapola os padrões previstos pelas normas”, aponta o engenheiro Paulo Codo, que reside naquele trecho. Em sua visão, o barulho persistente gera um grande transtorno para quem vive ali: “No meu prédio, para dormir, as pessoas precisam fechar as janelas e ligar o ar condicionado. As contas de luz estão vindo R$800, R$900 porque usam o aparelho durante 24 horas, todos os dias”.
De acordo com o engenheiro, as tentativas de conserto por parte da Light são ineficazes: “Colocaram uma barreira, Disse: ‘você tá esquecendo que o ruído se expande e vai para cima’. A PUC foi encarregada de fazer isso, mas não tem experiência nessa área de acústica. O laboratório que tem lá é de vibrações mecânicas, que é diferente”, aponta.
Suas queixas são semelhantes às do morador Flauberto Goes, que é vice-presidente da Comissão de Direitos Ambientais da OAB/RJ. “Já existe até uma ação na Promotoria, mas a gente sabe que tudo isso é demorado. Já coletamos mais de 300 assinaturas em um abaixo-assinado, mas a melhor coisa que aconteceu foi a publicação de outra reportagem (no Jornal O Globo). Só assim a Light veio aqui e mandou profissionais da PUC, mas o trabalho ficou pior ainda. Instalaram uma espécie de porta antirruído, mas numa situação dessas, não funciona porque o som sobe. Tinham que enclausurar a subestação, como a da Rua Figueiredo Magalhães. O muro da unidade da Rua Guimarães Natal é baixo”. No dia 25 de novembro, outra barreira teria sido instalada na parte interna da unidade, de acordo com registros feitos por Goes, o que teria aumentado o volume dos ruídos.
O morador cita ter investido na instalação de janelas acústicas para seu apartamento, mas nem isso resolveu o problema. “Melhorou um pouquinho, mas continuo tendo que ficar com o ar condicionado ligado o tempo todo. Só posso dormir com tudo fechado porque à noite, o barulho parece pior ainda. Só não entrei na Justiça porque a perícia é cara. No mínimo, custa R$15 mil. Mesmo que eu ganhe, vou perder dinheiro e já gastei com os vidros”.
A administradora do Parque da Chacrinha, Dalva Braga, reforça as reclamações. “Isso impacta o parque e todo mundo. Está causando problemas mentais sérios nas pessoas porque causa desestabilidade do cérebro e do sistema nervoso, além de provocar desequilíbrio ambiental. A Secretaria de Meio Ambiente iria vir nessa semana (começo de dezembro) fazer a medição do ruído e dar o laudo técnico para a associação de moradores entrar com processo. Durante o dia, não se escuta muito, mas quando o movimento do parque diminui, é horrível”, queixa-se, mencionando o desaparecimento de espécies até então comuns no espaço: “Havia grupos de esquilos e tucanos que viviam aqui em volta da administração. Eles não aparecem mais por causa do barulho. É ensurdecedor”. Os mico-estrelas também deixaram de ser vistos no local.
Em novembro, a Associação de Moradores Praça Cardeal Arcoverde preparou uma carta aberta para a Light, na qual informa que o ruído atinge edifícios das ruas Guimarães Natal, Assis Brasil, Otaviano Hudson, Maracanaú, Tonelero e da Travessa Guimarães Natal, adjacente à subestação. No material, assinado também por outros 13 grupos, é destacado que a situação aumentou o sofrimento das pessoas que ficaram confinadas durante a pandemia de COVID-19. “Tentaram fazer um abaixo-assinado, mas sumiu e ninguém sabe o que ocorreu com ele”, observa o presidente Marcelo Costa.
Consultada, a Light informa que os transformadores da Subestação Leme, na Rua Guimarães Natal, foram trocados para modernização e que atualmente, os equipamentos contam com o uso de óleo vegetal, que é biodegradável e absorvido mais rapidamente pela natureza, gerando menos impactos ambientais. A empresa constatou, após inspeção técnica, a existência dos ruídos que, mesmo naturais, provocam incômodos na população e garante ter definido um projeto de pesquisa de desenvolvimento para buscar soluções. Finaliza garantindo que todas as etapas estão sendo cumpridas conforme o cronograma, o que tem sido acompanhado pelo Ministério Público Federal..
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