O Dia da Mulher é celebrado em março e para marcar a data, o Jornal Posto Seis entrevistou a presidente da Academia Nacional de Letras e Artes (ANLA), Lucia Regina de Lucena. A instituição, originalmente, foi criada para representar o expoente feminino da literatura brasileira, mas atualmente é aberta a acadêmicos de todos os gêneros. Na conversa, Lucia falou sobre sua gestão, a participação das mulheres principalmente no meio literário e questões variadas que englobam grupos artísticos. Confira:
Jornal Posto Seis: Como foi sua trajetória até chegar na presidente da ANLA?
Lucia Regina de Lucena: Há uns anos, fui convidada para fazer parte da academia pelo amigo José de Andrade e Melo. Ele ocupava a cadeira patroneada por Cecília Meireles. Eu sempre adiava aceitar, até que ele faleceu repentinamente numa sessão de outro grupo que também presido. Fique muito chocada, triste e traumatizada. Com isso, a presidente da ANLA da época disse que eu estava intimada a ocupar aquela cadeira. Como homenagem ao amigo, tomei posse. Fiquei participando até que um dia, aceitei presidir. Gosto de trabalhar pela cultura, que é muito carente no Brasil. Já fui reeleita quatro vezes. Até gostaria de passar o bastão, mas acabam me reelegendo. Vamos ver se esse vai ser o último mandato ou não... Estou fazendo muitos trabalhos pela academia. Agora, quero publicar uma antologia, mas me falta tempo, e promover um concurso. Também dou muito espaço para os novos poetas e escritores, pessoas que estão começando a brilhar no caminho da escrita e das artes.
Jornal Posto Seis: Como a ANLA foi criada?
Lucia Regina de Lucena: Ela surgiu como um protesto à proibição de mulheres na Academia Brasileira de Letras (ABL). Nasceu, então, a Academia Feminina de Letras e Artes, em 1975. Quando a ABL permitiu mulheres, a ANLA aceitou homens e passou a ser nacional.
Jornal Posto Seis: Qual o papel feminino nas letras e artes atualmente, em sua visão?
Lucia Regina de Lucena: No momento, existem várias academias de letras e o quadro acadêmico delas incluem muitas mulheres. Há bastantes escritoras, romancistas, poetas... Até na ABL hoje há muitas escritoras, como Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon, mas ao meu ver, poderia acolher mais. Não sei se elas não se candidatam... É uma pena! Ela reúne os expoentes da literatura, ainda que muitos não façam parte de lá. A Clarice Lispector nunca se candidatou. As mulheres deveriam participar, mas a maioria está bem representada.
Jornal Posto Seis: Que escritoras femininas da atualidade você indicaria aos leitores?
Lucia Regina de Lucena: É uma pergunta difícil de responder porque temos uma gama de primeiro time. Temos romancistas, cronistas, poetisas... Indicar determinados nomes é difícil porque depende do gosto do leitor. Temos muitas mulheres de valor na literatura. Na poesia, Cecília Meirelles, Cora Coralina e tantas outras já falecidas. Vou falar delas porque em relação às vivas, não quero criar melindres. Há muitas de grande valor em vários estados. Temos Hilda Hirst, Lya Luft, Lygia Fagundes Teles, Vilma Guimarães Rosa, recentemente falecida... Ela foi uma escritora primorosa não por ser ser filha do pai (o também escritor João Guimarães Rosa), mas por seu próprio estilo.
Jornal Posto Seis: Como você avalia a importância das diversas academias artísticas hoje em dia?
Lucia Regina de Lucena: Elas também promovem trabalhos em prol da cultura. Fazem concursos, atividades de sarau, excursões literárias... Acho válido porque somos carentes de cultura. Tudo que é dessa área deveria ter apoio do Estado. Lutamos com muitas dificuldades. Na ANLA, não recebemos auxílio de ninguém. Sobrevivemos à custa de uma anuidade dos acadêmicos, mas o valor é muito modesto e estamos com cadeiras vagas, que serão preenchidas. Muitos candidatos bons serão eleitos na sessão de votação e depois tomarão posse, mas mesmo com eles, se quisermos fazer um evento de maiores proporções, teremos dificuldade. Atualmente, utilizamos a sede da Federação das Academias de Letras e Artes do Rio de Janeiro. Pagamos aluguel, dentre outras despesas.
Jornal Posto Seis: Quando ocorrem as reuniões da ANLA?
Lucia Regina de Lucena: Ainda estamos em recesso devido à pandemia. Não fizemos virtuais porque muita gente não quer. Muitos telefonam com saudade dos encontros, que sempre são muito animados, mas não podíamos nos reunir. Agora parece que vai haver uma flexibilização. Vamos ver se conseguimos fazer algumas sessões no segundo semestre. Fiquei com receio de marcar e irem somente duas ou três pessoas. Muitas dizem ter medo de ir porque é ambiente fechado.
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