Publicado na edição 345 (1ª quinzena de setembro de 2012) Viviane Sousa
No dia 23 de setembro, a copacabanense Ruth Pinto Ferreira Fernandes completa 100 anos. Morando há 63 no bairro, ela conta, deslumbrada e emocionada, sobre sua infância sofrida e como veio morar em Copacabana, local que faz questão de frisar que viu crescer.
Nascida em setembro de 1912, na Tijuca, Ruth Fernandes foi criada em colégio interno e passou por grandes dificuldades ainda criança, quando viu seus pais se separarem em uma época em que o divórcio era mau visto pela sociedade e familiares. Ela conta emocionada que sua vida no internato não foi fácil e que ela e seus irmãos passaram a ver a mãe, Marietta Ferreira, somente aos finais de semana. Já o pai, José Ferreira, só voltou a encontrá-lo quando tinha 18 anos, graças a um pedido do seu falecido marido, que disse que só marcaria a data do casamento após conhecê-lo formalmente. Outro parentesco que faz questão de ressaltar é o de ser neta de Hermenegildo Antonio Pinto, fundador da Beneficência Portuguesa.
Casou-se com o engenheiro Jayme Fernandes e logo se mudou do Catete para Copacabana, de onde nunca mais saiu. Ruth, que já trabalhou na Companhia Telefônica Brasileira, adorava ir à praia com o marido para tomar chope e comer batata frita, além de ter sido uma grande frequentadora de teatros e festas. Conta ainda que sempre gostou de passear e se diz muito ativa, falando que era difícil encontrá-la em casa, pois vivia passeando pelo bairro e participando de atividades na igreja São Paulo Apóstolo.
Em meio as suas recordações lembra com carinho da sua chegada à Rua Leopoldo Miguez, em que mora até hoje e onde só encontrou areia, tendo assim que aguardar a construção do seu prédio. Essa lembrança explica seu deslumbramento quando relata que fica impressionada com a quantidade de pessoas que passaram a morar e frequentar o bairro, além do número de cachorros que vê diariamente nas ruas. Fatos esses raríssimos de serem vistos 63 anos atrás.
Atualmente, a antiga rotina de andanças ficou para trás já que Ruth encontra-se em uma cadeira de rodas devido a um acidente no qual fraturou o fêmur, mas declara que não é a cadeira de rodas que a impede de andar pelas ruas de Copacabana como tempos atrás, mas sim a má conservação das calçadas do bairro nos dias de hoje. Afirma que encontra muitas dificuldades para se locomover, já que as ruas e estabelecimentos da região não possuem estrutura adequada para receber cadeirantes.
Ao ser questionada sobre quais atividades costuma realizar durante o seu dia, ela não pensa duas vezes e avisa que ama jogar caça-palavras, faz isso constantemente e adora observar o movimento da sua rua; passa horas na entrada do prédio olhando a rotina das pessoas que passam por ali. Avisa também que é uma “comilona”, fã assumida de fast food, além de deixar claro que atividade física nunca fez parte da sua rotina, e que, mesmo assim, sua saúde anda muito bem - “obrigada”.
Como nunca teve filhos, vive com a afilhada Marisa Mota, por quem nutre um carinho maternal e afirma que o filho dela é seu neto, sua paixão. Finaliza dizendo que só chegou aos 100 anos graças ao amor e aos cuidados que recebe da sua afilhada e familiares.
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