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Edifícios deixam marcas na história de Copacabana

Publicado na edição 341 (1ª quinzena de julho de 2012)


Nos 120 anos de Copacabana, alguns terrenos já sediaram diversas construções. Em poucas décadas, a região que era um grande areal ganhou casas. Em pouco tempo, vieram os edifícios, que modificaram a paisagem bucólica e transformaram o bairro em uma pequena metrópole dentro da cidade. Essas transformações deram fama a alguns endereços, que caíram no esquecimento com o passar dos anos.


Um deles foi o ateliê dos Irmãos Bernardelli, na esquina da Avenida Atlântica com a Rua Belfort Roxo. A casa foi uma das pioneiras no bairro e foi construída antes mesmo da abertura do logradouro que margeia a praia. Após a morte dos proprietários, em 1931 e 1936, a população do bairro tentou preservá-la (o que não era comum na época), atraindo a atenção de muitas publicações. Apesar dos desejos, a casa foi demolida na década de 1940, para a construção do Cinema Lido, do grupo Severiano Ribeiro. O projeto, no entanto, nunca saiu do papel e em seu lugar foram feitos diversos edifícios residenciais. No local, foram construídos os edifícios Queen Elizabeth e seus vizinhos.



Nessa época, o Edifício Guarujá já se destacava no horizonte de Copacabana. Construído em 1928, seus 10 andares fizeram dele a construção mais alta da orla durante muitos anos. Foi erguido seguindo as determinações do Plano Agache, que previa que as edificações fossem afastadas da orla para não fazer sombra na areia. Dessa forma, situava-se na esquina da Avenida Atlântica com a Rua Constante Ramos e possuía um jardim na frente de sua fachada que era usado por um restaurante que existia em seu térreo, durante o verão. A construção possuía detalhes luxuosos e era moderna para a época; até garagem oferecia aos moradores.


No entanto, com o término da vigência do Plano Agache, a área externa do edifício (que pertencia a um único proprietário) foi vendida durante a década de 1960. O terreno não sobreviveu à especulação imobiliária e outro prédio foi construído no espaço, emparedando a fachada do Guarujá e desvalorizando os imóveis, que deixaram de ter vista para a praia e passaram a ser de frente para uma empena-cega (o mesmo aconteceu com outros dois edifícios localizados entre as ruas Joaquim Nabuco e Rainha Elizabeth). A construção transformou-se em uma ruína, que não foi demolida por causa de problemas judiciais. Somente em 1998 o edifício foi restaurado e hoje funciona como “um residencial com serviços para satisfazer os hóspedes que estão viajando a negócio”, de acordo com o site oficial, com portaria voltada para a Rua Domingos Ferreira. Assim como aconteceu com o edifício, outros dois (entre as ruas Joaquim Nabuco e Rainha Elizabeth) também foram prejudicados com o fim.


No Bairro Peixoto, o Edifício São Luís Rei foi o que atraiu olhares curiosos em 1958. A construção estava localizada na Rua Figueiredo Magalhães, perto da Rua Capelão Álvares da Silva, onde hoje há um edifício-garagem, e ainda não havia sido inaugurado quando começou a tombar. Suas obras foram interrompidas no início daquele ano devido a um desnível na estrutura.


Após a estabilização, das obras no Edifício São Luiz Rei foram retornadas, porém nunca concluídas. No final de janeiro, a construção começou a ruir e a inclinar-se em direção à Rua Décio Villares. Após cinco dias, a queda dele já era prevista e aguardada pelos curiosos e pela imprensa, que transformaram o acidente em uma grande atração. À noite, a derrocada aconteceu, derrubando também dois prédios e uma casa, cujos moradores foram retirados previamente.


O edifício do Hotel Vogue é outro que ficou marcado na história de Copacabana. Seu endereço é uma incógnita para as gerações que não conheceram o prédio, que ficava no número 23 da Avenida Princesa Isabel, onde atualmente existe a pista em direção à praia e o canteiro central, ao lado do prédio onde atualmente funciona a loja Só a Rigor. Sua boate era frequentada pela alta sociedade e os principais artistas das décadas de 1940 e 1950 apresentaram-se em seu palco. O imóvel era o mais valioso entre os que impossibilitava a duplicação do logradouro (que, na época, terminava na Avenida Nossa Senhora de Copacabana – o único trecho completo eram as faixas rumo a Botafogo).


Em 1956, o imóvel foi destruído pelo fogo. O incêndio foi um dos piores ocorridos na cidade até então. As labaredas começaram nos dois primeiros andares e logo destruíram a boate. A propagação foi rápida devido à grande quantidade de material inflamável existente no local. As chamas tomaram conta dos vãos da escada e do elevador e rapidamente tomaram conta do prédio inteiro. O caso foi trágico e deixou diversas vítimas, que não puderam ser salvas devido à altura em que se encontravam, o que impossibilitava a fuga e o resgate (a escada dos bombeiros só alcançava até o 8º andar).


Após a demolição dos restos da estrutura, os dois prédios que estavam no caminho das pistas da duplicação da Avenida Princesa Isabel foram colocados abaixo. Perto dali, o Edifício Leão Veloso, na Avenida Atlântica, também deixou sua marca na história de Copacabana. A casa que passou a ficar na esquina dos logradouros foi demolida.Na época, muitas construções altas foram destruídas e substituídas por outras mais modernas, mesmo após poucas décadas de existência. Por isso, a intenção era acabar também com o Leão Veloso e aumentar o tamanho do terreno (em forma de L por causa do imóvel).


O que tornou sua história diferente foi a insistência de um único morador em não vender seu apartamento. O prédio passou quase duas décadas com esse único imóvel no térreo ocupado. A briga com a construtora que comprou as outras unidades foi demorada porque ele não precisava dos serviços do condomínio, como elevador e luz no corredor. Na época, a portaria bem cuidada contrastava com as ruínas dos andares superiores, tomadas de ratos. A venda aconteceu somente no final da década de 1980. O último residente lucrou muito mais que o valor real da propriedade, o que chamou atenção da mídia.


Em 2002, o Edifício Master ganhou destaque após o lançamento do documentário contando sua história. Construído nos fundos do terreno onde um dia funcionou o Hotel Londres (o mais luxuoso do bairro até a inauguração do Copacabana Palace), possui cerca de 500 moradores distribuídos nos 276 conjugados. A grande densidade demográfica também foi motivo de destaque para o Edifício Richard (o antigo número 200 da Rua Barata Ribeiro – a numeração foi alterada para 194 devido à má fama do prédio), que já foi alvo de muitas histórias com seus 507 apartamentos (que abrigam mais de 1.200 pessoas). Apesar da antiga fama, atualmente é um prédio residencial como outro qualquer, sem os problemas como prostituição e venda de drogas que fizeram dele tema de peça, teatro e filme.

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