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Cristo Redentor


Estátua do Cristo Redentor, no alto do Corcovado
Estátua do Cristo Redentor, no alto do Corcovado

"Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara..." - a música de Tom Jobim poderia ser suficiente para retratar a estátua localizada no alto do Corcovado, mas o monumento tornou-se algo além de uma peça de pedra para a cultura mundial. Com seus braços abertos voltados para a Baía de Guanabara, a estátua acolhe todo o Rio de Janeiro, abençoando a cidade e encantando moradores e turistas do mundo todo. Há quem considere sua figura sagrada e quem a visite por ser um dos pontos turísticos mais conhecidos do planeta, devido à visão da paisagem urbana vista do local. Independente do propósito do passeio, o Cristo Redentor agrada todos os seus visitantes, que fizeram dele uma das sete maravilhas do mundo moderno. A ideia da sua construção é datada de 1859, quando o padre Pedro Maria Boss, capelão do Colégio de Imaculada Conceição, chegou ao Brasil e teria se encantado com a beleza do Morro do Corcovado. A iniciativa não saiu do papel e, em 1884, foi inaugurada a Estrada de Ferro do Corcovado, que até hoje é um dos caminhos mais tradicionais para chegar topo do morro, que era usado desde os tempos de D. Pedro I para fins militares (qualquer embarcação que tentasse entrar no litoral seria visto lá do alto, o que prevenia ataques à capital).

A obra, encomendada por D. Pedro II, foi considerada um milagre da engenharia, pois os trilhos percorriam 3.824 metros em terreno íngreme. Seu projeto foi desenvolvido pelos engenheiros Pereira Passos (que depois se tornou prefeito do Rio de Janeiro e foi o responsável por grandes obras urbanas) e Teixeira Soares e permitia o transporte até duas composições por viagem. Visando o lazer, foi construído um mirante no alto do morro, chamado Chapéu do Sol (cuja estrutura, redonda, tinha 13,5m de diâmetro e era toda de ferro), e um hotel nas Paineiras, um dos pontos onde o trem (que saía do Cosme Velho) parava. Em 1910, esta ferrovia novamente inovou ao ser a primeira do Brasil a ser eletrificada. Com o início dos preparativos para a comemoração do centenário da Independência, o projeto de instalar um símbolo religioso na cidade foi retomado por uma organização chamada Círculo Católico. Três morros foram cotados para receber a escultura: o Morro de Santo Antônio, no Centro; o Pão-de-Açúcar, na Urca (onde já existia o mirante cujo acesso é feito através dos bondinhos) e o Corcovado, no Cosme Velho, que foi eleito por diversos motivos, como sua localização e altura (o que permitia a visualizações de diversas áreas). Além disso, era onde o projeto original havia surgido. Através de um abaixo-assinado, foram coletadas mais de 20 mil assinaturas, que pediam ao então presidente Epitácio Pessoa a autorização para a construção. No documento, havia um texto escrito por Padre Boss para o livro "Imitação de Cristo", em 1903, enaltecendo as qualidades do local e pedindo uma imagem representando Deus exatamente ali, que dizia:

"O Corcovado!... Lá se ergue o gigante de pedra, alcantilado, altaneiro e triste, como interrogando o horizonte imenso - Quando virá? Há tanto séculos espero! Sim, aqui está o Pedestal único no mundo. Quando vem a estátua, como eu, colossam imagem de Quem me fez?... (...) Acorda depressa, levanta naquele cume sublime a imagem de Jesus Salvador. -Lá vai o meu humilde brado, Deus lhe proporcione eco por todo o Brasil. (...) Nem todos por causas diversas lerão o Livro; ao passo que em todas as línguas e linguagens, a imagem dirá ao grande e ao pequeno, ao sábio e ao analfabeto, a todos: Ego sua via, veritas, et vita. Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Venite at me omnes. Vinde todos a mim."

Após a escolha, o engenheiro Heitor da Silva Costa, escolhido através de um concurso, deu início ao projeto, fazendo desenhos junto com o pintor e gravurista Carlos Oswald, autor do desenho. Foi Costa quem realizou os estudos relativos ao material que seria usado e ao tamanho final da obra. Essa fase do trabalho durou cerca de dois anos. Sua proposta era baseada no Cristo de Mendonza, na Argentina: no monumento, Jesus seguraria o globo terrestre em uma mão e uma cruz na outra. Esta proposta não foi realizada a pedidos de Dom Sebastião Leme, que teria encomendado algo mais simbólico. Por isso, Costa teria se inspirado na antena de rádio instalada no alto do Corcovado para a Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil, em formato de cruz, para concretizar o desenho atual. A ideia, até então, era erguer a peça em bronze, o que logo foi descartado com base no que o governo soviético fez após a Revolução Bolchevique (todas as peças de metal foram fundidas e os materiais foram reaproveitados). Por isso, decidiu-se que o Cristo seria feito de concreto armado. Em setembro de 1923, o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme organizou a "Semana do Monumento", mobilizando toda a sociedade para arrecadar verba para a construção. A Igreja vendeu rifas, organizou festas e contou com a ajuda da população, que aderiu à campanha em peso. Escoteiros iam de casa em casa pedindo dinheiro e até mesmo índios da tribo dos bororós, do Mato Grosso, contribuíram com a obra. No ano seguinte, Costa foi à Europa buscar profissionais para tirar o projeto do papel. Lá, contratou o engenheiro Albert Caquot para ser o responsável pelos cálculos e o escultor Paul Landowski para desenhar a maquete final. Landowski foi escolhido devido à simplicidade de seus trabalhos, que não contavam com o exagero modernista que predominava no cenário artístico da época. Ele foi o autor da cabeça e das mãos da obra, que teriam sido inspiradas nas da atriz brasileira Margarida Lopes de Almeida. A obra no alto do Corcovado teve início em 1926, com o auxílio do engenheiro mestre de obras Heitor Levy (que era judeu, mas se envolveu tanto com a obra que se converteu ao Cristianismo) e do engenheiro fiscal Pedro Fernandes Vianna da Silva. As peças de concreto vinham de Niterói e, já em seu lugar definitivo, foram cobertas com pequenos triângulos de pedra sabão. Apesar dos riscos (o alto do Corcovado está a 709m do mar e a estátua foi erguida em um espaço de cerca de 15m, que impedia a instalação de andaimes para ajudar na construção dos braços), não houve nenhum acidente durante a construção. Em sua inauguração, em 12 de outubro de 1931, a iluminação seria acionada pelo cientista italiano Guglielmo Marconi (que, antes, havia criado o telégrafo sem fio, que serviu de base para o desenvolvimento do rádio), direto de seu país natal, a convite do jornalista Assis Chateubriand. No entanto, as condições climáticas do dia impediram a façanha e o equipamento falhou. Por isso, as luzes foram ligadas no próprio Rio de Janeiro. A festa contou com a presença do presidente Getúlio Vargas e representantes do Vaticano. Até 1942, o acesso ao monumento do Cristo Redentor era feito exclusivamente através dos trilhos construídos na época de D. Pedro II. Neste ano, foi feito um caminho cimentado, que permitia o acesso de carros ao alto do morro. Nesse mesmo ano, o antigo Chapéu do Sol foi demolido e, em seu lugar, foi refeita a escada de acesso, que passou a ter 220 degraus. Até então, os dois atrativos turísticos coexistiam - no entanto, quando o Cristo foi construído, o antigo mirante foi deslocado. Em 1965, a visita do Papa Paulo IV fez com que a estátua recebesse nova iluminação. Dessa vez, ela foi efetivamente acionada da Itália, como foi programado na inauguração. Até 1980, a estátua nunca havia sido lavada sem ser por água da chuva, o que fez com o revestimento de pedra sabão adquirisse coloração cinzenta. A nova restauração aconteceu devido à visita de outro pontífice. Dessa vez, o mirante e a peça seriam visitados pelo Papa João Paulo II, em sua primeira vinda ao Brasil. Nesse ano, os direitos do uso comercial do monumento foram transferidos à Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro. Ainda assim, os herdeiros de Heitor da Silva Costa e Paul Landowski disputam a concepção da obra. Os descendentes de Landowski, junto com uma empresa francesa, garantem existir um documento que afirma que ele seria o único responsável pelo projeto. No entanto, os familiares de Costa garantem que o francês somente teria feito a maquete e alguns detalhes. Há quem defenda que, após as intervenções de Landowski, pouco do desenho do brasileiro continuou existindo e que os direitos são do artista, não do chefe do projeto. Os defensores do europeu garantem ainda que não há nada por escrito que transfira os direitos sobre a obra à Arquidiocese do Rio de Janeiro. Por sua vez, os sucessores do carioca teriam uma declaração assinada por Landowski e reconhecida em cartório em 14 de fevereiro de 1925 na qual ele delegaria os direitos para o Costa. Em 1990, a peça, que beirava os 70 anos, recebeu sua primeira grande restauração. Desde então, a estátua passou por mais uma obra, realizada em 2010. Na ocasião, a estrutura interna (semelhante a um prédio de 12 andares) foi recuperada, assim como o mosaico triangular de pedra-sabão. Os pára-raios, localizados em sua coroa e seus braços, foram consertados após serem quebrados por um raio. Além disso, detalhes causados pela ação do tempo também foram reformados. Antes, em 2003, outra reforma modernizou a área através da instalação de escadas rolantes e elevadores. Quando completou 75 anos, em 2006, o local foi transformado em um santuário pertencente à Arquidiocese do Rio de Janeiro. No ano seguinte, foi eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno em um concurso realizado pelo site "Hillman Wonders", no qual os vencedores foram eleitos por voto popular.

A estátua do Cristo Redentor tem 30 metros de altura. Sua base tem 8 metros e nela há a capela de Nossa Senhora de Conceição Aparecida. De envergadura, a imagem possui 29,60m (o braço direito é 40cm menor que o esquerdo, para aumentar a estabilidade da obra). Sua cabeça está inclinada 33cm para a frente. Trata-se de maior escultura art déco do mundo.

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