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Flamengo, Cosme Velho e Laranjeiras

Thayssa Rodrigues

Largo do Boticário, no Cosme Velho, antes de ser revitalizado

Durante muito tempo, a área ocupada pelos bairros Flamengo, Laranjeiras e Cosme Velho era uma só: um espaço margeando o antigo Rio Carioca. A região, originalmente, era habitada por índios tamoios e marinheiros portugueses que abasteciam suas embarcações nas águas da região. Posteriormente, o espaço foi dividido entre grandes proprietários de terras, que instalaram no local algumas chácaras e passaram a cultivar uma grande variedade de produtos, de acordo com as diferentes épocas agrícolas pelas quais o país passou. Aos poucos, a urbanização chegou a esse espaço e os bairros começaram a se formar. No entanto, mesmo com os avanços trazidos pelo tempo, os três locais ainda reúnem construções da época em que a cidade estava começando a se desenvolver, transformadas, hoje, em patrimônios culturais tombados pelo estado e admirados pelo público. Uma parte da cidade que alia a modernidade do Aterro do Flamengo, produzido de forma totalmente planejada e artificial, aos palacetes centenários que abrigam museus interessantíssimos.

Flamengo

Antes da fundação da cidade, a área do Flamengo era habitada por índios tamoios, que utilizavam os recursos naturais da região para sobreviver em suas tribos. Com a chegada dos portugueses ao Brasil e as expedições, a área passou a ser frequentada, também, por navegadores de passagem pela região, entre 1503 e 1504. Nessa época, embarcações lideradas por Gonçalo Coelho, paravam estrategicamente nas águas da foz do Rio Carioca, na atual Praia do Flamengo, para reabastecer de água potável seus barcos. Os portugueses chamavam essa área de Aguada dos Marinheiros, por sua serventia.

Em 1531, Pedro Lopes de Souza, integrante do grupo expedicionário liderado por Martins Afonso de Souza, que havia chegado as margens do Rio Carioca um ano antes, construiu ali uma residência, apontada como sendo a primeira casa de pedra da cidade. Por isso, os tamoios rebatizaram o espaço de acordo com seu idioma nativo: a tribo passou a chamar o lugar de "cari oca", já que, na língua dos nativos, "cari" significa branco e "oca", casa. O nome prevaleceu e, até hoje, as pessoas que nascem na cidade são conhecidas por serem cariocas. A localização foi escolhida para facilitar a vida dos marinheiros durante o tempo que precisassem permanecer por lá, antes de seguirem viagem e, posteriormente, serviu de moradia para o primeiro juiz da região, Pedro Martins Namorado, nomeado para essa função em 1565, por Estácio de Sá, que havia fundado a cidade no mesmo ano. Entretanto, por ter sido construída tão próxima as águas, a casa não resistiu por muito tempo e acabou sendo destruída por uma ressaca.


O primeiro sinal de urbanização do bairro, mesmo que de forma discreta, aconteceu ainda no século XVII, quando uma estrada foi aberta na área, a fim de tornar possível o acesso ao Engenho D'El Rey, localizado no espaço que atualmente abriga o Jardim Botânico. A via foi feita com a intenção de facilitar o transporte da produção de açúcar a um porto da cidade. Durante um tempo, a região continuou sendo um espaço habitado, em sua maioria, por marinheiros portugueses e alguns representantes importantes da elite do país que, junto a suas famílias, instalaram na área alguns comércios. A origem do nome dessa parte do litoral carioca, conhecida atualmente como Flamengo, se divide em algumas vertentes, mas a maioria dos historiadores aponta ter relação com o animal flamingo, um pássaro rosa, que costumava frequentar as encostas da região em seus tempos primórdios e era chamado por muitos habitantes de Flamengo.


No século XIX, tempo em que a cultura cafeeira dominava a economia, o bairro foi habitado por muitos donos de cafezais, que construíram em suas terras enormes palacetes para abrigarem suas famílias. Entretanto, com o fim da atividade, a maioria deles optou por deixar os terrenos. Apesar da mudança de proprietários, algumas dessas casas centenárias resistiram ao tempo e permanecem até hoje na região, muitas delas transformadas em sede para centros culturais e museus que encantam o público.

Laranjeiras

Assim como o Flamengo, o bairro Laranjeiras também se desenvolveu às margens do Rio Carioca, sob as mesmas condições que as terras vizinhas. Inicialmente, a área servia como ponto de permanência para navegadores portugueses, e posteriormente, para famílias inteiras vindas de Portugal. A origem do nome para esse lugar, aliás, remete aos ricos proprietários de terras que permaneceram por lá durante esse período inicial de ocupação elitista, quando área ficou tomada por chácaras agrícolas, que cultivavam alguns pés de laranja. Foi nesse momento que algumas construções imponentes foram feitas no bairro, como moradias para esses proprietários. Com o passar dos anos, muitos dos herdeiros desses sítios lotearam os terrenos e venderam suas terras. Assim, muitas mansões foram demolidas e deram lugar a diversos prédios. Entretanto, algumas delas foram tombadas como patrimônio histórico e preservadas até a atualidade com suas características arquitetônicas originais. É o caso, por exemplo, dos palácios Guanabara e Laranjeiras. O primeiro foi construído em 1853 pelo comerciante José Machado Coelho, que o vendeu, em 1865, para o governo imperial, para servir de moradia aos recém-casados Conde E´Du e Princesa Isabel. Na ocasião, a Rua Paissandu, que dá acesso ao palácio, recebeu dezenas de palmeiras imperiais para embelezar o caminho dos ilustres moradores, que permaneceram por lá até a proclamação da república. Posteriormente, o terreno foi integrado ao patrimônio da União, passando para os poderes do Estado. Já o segundo palacete foi construído, entre os anos de 1910 e 1913, pela Família Guinle, que o rodeou de um enorme jardim. A residência foi comprada pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, em 1949, e atualmente, é utilizada como sede do governo. Os jardins do local, entretanto, são abertos ao público e oferecem um passeio deslumbrante. Na esquina da propriedade, esta localizado o Mercado São José, que antigamente abrigava a senzala de uma antiga fazenda que existia ali. Em 1880, a Companhia de Fiações e Tecidos Aliança se instalou no bairro, trazendo com ela uma população mais pobre, composta por familiares de seus operários, que construíram suas casas próximas a indústria. Em 1945, o terreno da fábrica foi vendido e, em seu lugar instalado, o empreendimento imobiliário de grande porte denominado Cidade-Jardim Laranjeiras, composto por um conjunto de grandes prédios. A essa altura, o bairro já era cortado por inúmeras ruas e servido por linhas de bondes que as percorriam. A inauguração dos Túneis Santa Bárbara, em 1963, e Rebouças, em 1965, intensificaram o crescimento imobiliário da região, que passou a ser rota de ligação entre as zonas Norte e Sul da cidade.

Cosme Velho

A origem do nome do bairro é apontada, pela maioria dos historiadores, como sendo uma homenagem a Cosme Velho Pereira, um comerciante português que vivia na área e que era proprietário de grandes porções de terra da região, quando ela ainda era apenas considerada parte da margem do Rio Carioca. Por estar situado no entorno dessas águas, seu desenvolvimento seguiu o mesmo avanço que os dos bairros vizinhos, Laranjeiras e Flamengo, sendo habitado, igualmente, por índios, marinheiros e famílias endinheiradas da elite portuguesa, que construíram por ali enormes casarões. A diferença entre ele e os outros dois bairros citados anteriormente é que, dos três, ele é o que apresenta mais áreas conservadas no estilo antigo de habitações. O bairro abriga a estação de trem do Corcovado, que leva ao pico do morro de mesmo nome, onde está localizado o Cristo Redentor, um dos principais pontos turísticos da cidade. Na região do entorno da estação, estão localizados muitos outros pontos de visitação turística, como museus e casarios antigos. É na Rua Cosme Velho que está o charmoso e pitoresco Largo do Boticário, uma área que antigamente pertencia a um empresário boticário (como se chamavam os farmacêuticos no século retrasado), que lhe rendeu esse nome. O lugar é composto por algumas casinhas construídas ainda no século XIX, que permite que os visitantes se sintam no cenário perfeito do Rio antigo. A viela é cercada por uma intensa vegetação, formada pela Floresta da Tijuca, que embeleza ainda mais o ambiente. Um pouco mais adiante, seguindo pela mesma rua, em direção à Praça São Judas Tadeu, é possível encontrar a Bica da Rainha, nomeada dessa forma por ter sido frequentada pela Rainha de Portugal. A fonte foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938. Em 1991, o então prefeito Marcelo Alencar, decretou que a área formada pelos bairros do Cosme Velho e de Laranjeiras passava a ser, desde então, um ambiente de proteção ambiental, por abrigar tantos locais importantes para a cultura do país. A lei protege algumas construções antigas, como a famosa fonte e muitas mansões da mesma época de construção. Da mesma forma, o Flamengo possui dezenas de ambientes tombados pelo Iphan e igualmente resguardados pela lei.

Independente da nomenclatura adotada após a urbanização da região que antigamente era uma única faixa de terra banhada pelo Rio Carioca, os três bairros formados ali (Flamengo, Laranjeiras e Cosme Velho) possuem a tradição como elemento em comum e são considerados pontos turísticos da cidade por reunirem uma série de construções da época em que ela ainda estava começando a se desenvolver. Grande parte desses imóveis, transformados em sede de centros culturais e museus, denominados patrimônios culturais pelo estado. Dentre as atrações da região, estão: Parque Guinle (Rua Paulo Cezar Andrade, 407 - Laranjeiras)

O belo Parque Guinle localiza-se dentro do Palácio Laranjeiras. O palacete foi construído entre os anos 1910 e 1913, pela Família Guinle, e comprado, em 1949, pelo Presidente Dutra, para receber diversos representantes de estado. Atualmente a mansão pertence ao governo do Estado e, por isso, não está aberta ao público. Os jardins do terreno, entretanto, formam um belo parque e podem ser visitados por quem desejar. A área é composta por alamedas, gramados, árvores, plantas tropicais e um pequeno lago. Centro Cultural Municipal Oduvaldo Vianna Filho (Praia do Flamengo, 158 - Castelinho do Flamengo)

O Centro Cultural Municipal Oduvaldo Vianna Filho foi criado em 1992 e ganhou esse nome em homenagem a um importante dramaturgo carioca, conhecido também como Vianinha. O espaço apresenta exposições, seminários, debates e mostras especiais de filmes, além de oferecer oficina de literatura, filosofia e artes, assim como alguns cursos relacionados ao tema. Além da programação apresentada pelo centro cultural, o espaço chama atenção do público devido ao estilo de sua construção, que lhe rendeu um apelido pelo qual é conhecido por todos da região: "Castelinho do Flamengo". O projeto arquitetônico do castelo, tombado como patrimônio histórico da cidade, foi desenvolvido pelo arquiteto italiano Gino Copede, em 1918, ano em que serviu de residência a um rico empreendedor da época, o comendador Joaquim Silva Cardoso. O imóvel ainda passou por algumas famílias importantes da elite portuguesa ao longo dos anos, até ser vendido, na década de 1990, para transformar-se no referido centro cultural. Desde então, segue encantando os visitantes, tanto pelo conteúdo apresentado em suas salas, quanto pela beleza de sua fachada preservada.

Casa de Arte e Cultura Julieta da Serpa (Praia do Flamengo, 340)

A Casa de Arte Julieta da Serpa está instalada em um palacete com estilo francês de arquitetura, tombado pelo Departamento Geral do Patrimônio Cultural, da Secretaria Municipal de Cultura, em 1997, devido à riqueza de detalhes empregada na construção, realizada na década de 1920. A casa de arte passou a funcionar ali em 2002 e, desde então, permite aos visitantes desfrutarem de um ambiente decorado minunciosamente para transportá-los a uma área parisiense, em pleno Rio de Janeiro. O local abriga exposições, teatros e eventos culturais variados em seus sofisticados salões, além de opções gastronômicas da culinária francesa no restaurante do palacete.

A história do imóvel começou em 1920, quando Demócrito Lartigau Seabra, filho de uma importante família da época, encomendou a construção a um renomado arquiteto francês, a fim de oferecer a sua esposa a casa mais bonita da cidade. Após a morte do filho do casal, Carlos Alberto, em 2001, a residência da família foi vendida a uma firma, que pretendida derrubá-la para construir um prédio no terreno. O projeto, entretanto, não seguiu adiante, já que local estava protegido pelo município como patrimônio cultural. Diante do impedimento, a firma vendeu o imóvel, no ano seguinte, ao antiquário Carlos Alberto Serpa de Oliveira, que fundou a casa de cultura, nomeando-a em homenagem a sua mãe, Juliana da Serpa.

Parque do Flamengo

Ver página Parque do Flamengo Museu do Telefone e das Telecomunicações - Localizado dentro do Instituto Oi Futuro ( Rua Dois de Dezembro, 63 - Flamengo)

Inaugurado em 1981, o Museu do Telefone expõe, desde então, um acervo enorme sobre a história da telefonia, desde o início de seu desenvolvimento até os dias atuais, reunindo exemplares de aparelhos utilizados em diferentes épocas e lugares, além de vídeos, textos e arquivos sonoros. O ambiente, moderno e interativo, conta, por exemplo, com peças curiosas, como réplicas do primeiro aparelho de transmissão de ondas de rádio, inventado por Marconi; o primeiro aparelho telefônico, patenteado por Alexander Graham Bell; e um exemplar utilizado por D. Pedro II durante sua estadia no Brasil. O museu funciona dentro do Instituto Oi Futuro, instalado em um prédio construído em 1918, que preserva, até hoje, sua fachada original, no estilo contemporâneo de arquitetura. O instituto oferece atividades culturais variadas ao público, além da viagem no tempo das comunicações promovida pelo Museu do Telefone. Largo do Boticário ( Rua Cosme Velho, 822)

Conjunto de casarios no estilo arquitetônico do Rio antigo, preservam características neocoloniais, da época de seu surgimento, no século XIX. O local recebeu esse nome por fazer parte de uma área habitada inicialmente por um boticário do império de muito prestígio. O pequeno vilarejo onde as casas estão dispostas é cercado pela vegetação abundante da Floresta da Tijuca e devido a beleza de suas construções, foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural em 1987.

Bica da Rainha (Rua Cosme Velho, 381)

Fonte construída no século XIX, para canalizar as águas de uma nascente, era constantemente frequentada pela Rainha de Portugal, D. Maria, assim como outras figuras ilustres do império, como D. Carlota Joaquina, esposa do regente D. João vi, que acompanhava a sogra até a bica. Diz a lenda que os integrantes da corte acreditavam que a fonte tinha poderes terapêuticos e por isso levavam D. Maria até o local, na esperança de amenizar seus problemas de saúde mental. Há quem diga que a famosa expressão popular "maria vai com as outras" remete a essa época e às tantas idas da Rainha a fonte sem que ela mesma se desse conta do caminho percorrido, já que sofria de demência. A Bica da Rainha foi tombada pelo IPHAN em 1938 e restaurada no mesmo ano, mantendo suas características originais. O monumento está localizado no mesmo terreno que o Memorial da Pediatria Brasileira.

Memorial da Pediatria Brasileira ( Rua Cosme Velho 381)

O Memorial da Pediatria Brasileira está localizado no terreno acima da famosa Bica da Rainha. O espaço abriga um museu destinado a contar a história da pediatria no país, além de um centro destinado a pesquisa e documentação relacionada a essa atividade. O local possui várias salas que retratam consultórios médicos, ornadas por itens utilizados em diferentes épocas da profissão. Tudo isso em um terreno que abriga um extenso jardim frequentado por animais característicos da fauna brasileira, devido a proximidade com a Floresta da Tijuca.

Museu Internacional de Arte Naif do Brasil - MIAN (Rua Cosme Velho, 561)

O museu destina-se a a divulgar mostras de mestres naifs brasileiros e outros representantes do estilo, como o primeiro artista moderno a ser considerado naif, Henri Rousseau. O espaço conta com seis mostras permanentes em seus salões.

Fontes: In: http://www.julietadeserpa.com.br/artecultura_jclub.php In: http://www.rioecultura.com.br/instituicao/instituicao.asp?local_cod=69 In: http://www.historiadorio.com.br/bairros/flamengo In: http://www.omb100.com/riodejaneiro-flamengo/historia In: http://www.riodejaneiroaqui.com/portugues/flamengo-bairro.html In: http://www.riodejaneiroaqui.com/portugues/largo-do-machado.html In: http://www.historiadorio.com.br/bairros/catete In: http://www.rioecultura.com.br/instituicao/instituicao.asp?local_cod=399 In: http://www.bairrodaslaranjeiras.com.br/principal/historia.shtml In: http://www.historiadorio.com.br/bairros/laranjeiras In: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1034271 In: http://oiacontece.com.br/conheca-o-oi-futuro-flamengo/ In: http://www.oifuturo.org.br/o-instituto/linha-do-tempo/ In: http://www.nsdagloria.com/ In: http://www.riodejaneiroaqui.com/portugues/cosme-velho.html In: http://www.riofilmcommission.rj.gov.br/locacao/largo-do-boticario In: http://www.rioecultura.com.br/coluna_patrimonio/coluna_patrimonio.asp?patrim_cod=50

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