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Copacabana: bairro consolidou ideia de comércio de bairro no Rio de Janeiro

Publicado na edição 347 (1ª quinzena de outubro de 2012)

Gisele Motta

Copacabana mudou. Nos anos 50, as ruas repletas de casas atraíam pessoas de todo o Rio de Janeiro devido às grandes boutiques. Depois de 60 anos, o bairro plácido virou um grande centro comercial. A construção dos edifícios ajudou o comércio, criando uma dinâmica entre as residências e as lojas: o térreo da maioria dos endereços ficou destinado às áreas comerciais. Surgiram assim diversos empreendimentos importantes que ainda estão em atividade. O bairro inaugurou o Shopping Center, as escadas rolantes, redes de fast-food, como o Bob’s e magazines oferecendo quase tudo que era lançado na Europa.


Robert Falkenburg, conhecido como Bob, introduziu o conceito de lanchonete fast-food no país. O primeiro Bob’s foi fundado em 1952, na Rua Domingos de Ferreira, em Copacabana. Hoje, a loja usa o rótulo de “original” e tem um cardápio que inclui lanches de quando foi inaugurada, como sanduíche de pernil, de salada de ovo, hot-dog, panquecas e Banana Split.


Magazines como a Casa Sloper e a Ducal eram as boutiques da moda. A Casa Sloper, que encantava as senhoras, inspirou a música de João Bosco, “Bijuterias”, na qual os versos finais “Transparentes, feito bijuteria da Sloper da alma” caracterizam a antiga loja de departamento. A Ducal tinha uma promoção imbatível: quem comprasse um paletó, ganhava duas calças. O nome do estabelecimento era em função disso, usando a junção das primeiras sílabas das palavras “duas calças”. A Confeitaria Colombo também fez história no bairro, sendo construída no Centro no século XIX, abriu uma filial em Copacabana em 1944, onde hoje funciona um banco. Ela foi transferida para o Forte de Copacabana, no final dos anos 2000 e também abriu uma filial no Barra Shopping.


O Shopping Cidade Copacabana (conhecido popularmente como Shopping dos Antiquários) também trouxe inovações à região. Foi o primeiro shopping center da cidade do Rio, um investimento de Arnon de Mello, pai do ex-presidente Collor, em parceria com Roberto Marinho. Na ocasião de sua inauguração, em 1960, era considerado o maior espaço comercial da América Latina com 320 lojas. Desde sua construção, o local mudou bastante. Hoje aglomera a maior comunidade de antiquários do Rio de Janeiro, como explica o ex-presidente da Associação Nacional dos Antiquários e proprietário da Machado Antiguidades, Manoel Machado. “O comércio de rua de Copacabana sofre muito com a falta de segurança, mas também com a falta de espaço tanto das lojas como dos estacionamentos para os clientes. Os alugueis são muito caros, e as lojas pequenas. Nós, antiquários que trabalhamos com móveis precisamos de espaço.” Sendo assim, ir para dentro dos shopping foi a solução encontrada. Outra questão é o comportamento dos consumidores, que mudou. A facilidade hoje é essencial, e os shoppings fazem sucesso pelo conforto e acessibilidade.


O Centro Comercial de Copacabana (CCC) foi um marco no bairro. Inaugurado em 1954 no lugar da antiga estação de bondes e do Hotel Malvino Reis, inovou ao ser o primeiro Shopping Center com escadas rolantes no Brasil. Entrou em um período de decadência após dois grandes incêndios e com a construção de outros centros comerciais mais modernos. Atualmente vive em seus melhores momentos com muitas lojas oferecendo produtos e serviços aos moradores. Segundo Victor Hugo, atual dono da Centro Foto Canetas, localizado no subsolo do CCC desde sua construção, vinham pessoas até da da Zona Norte para fazer compras.

Victor Hugo observa que, hoje em dia, há centros comerciais em todas as áreas da cidade, o que evita esse deslocamento. No entanto, esse não é o único fator que prejudica o comércio de bairro. “As lojas de família tradicionais acabam também porque os filhos muitas vezes seguem outras profissões e não dão continuidade ao comércio dos pais.” comenta o comerciante. Ele é dono da loja de fotografia há 25 anos, originalmente fundada por Cortes Scheyer.


A família Scheyer, que chegou no Brasil fugindo da Segunda Guerra Mundial ainda mantém uma ótica na quase vizinha Galeria Menescal. Os Scheyer estão na Galeria há mais de 50 anos, onde tiveram, primeiramente, um comércio de cutelaria. Depois, inauguraram a Ótica Karina. Segundo Augusto Scheyer, responsável pela loja, o local não sofreu muitas alterações, depois de mudar de ramo. “Os clientes são muito fiéis. Atendo bisnetos dos clientes dos meus avós” comenta.


A Galeria Menescal foi construída nos anos 40 como um local de lojas finas. Uma das exigências para sua construção foi o subsolo reforçado, para servir de abrigo em casos de ataques aéreos na guerra. Sua decoração, com piso de mármore, afrescos e relevos no estilo art-déco foi preservada, contando inclusive com as luminárias originais. Na época de sua inauguração, a maioria das lojas permaneceu fechada devido um impasse entre a construtora e o Instituto dos Marítimos. Hoje, não sobra espaço livre.


Apesar da crença que as flores saíram de moda, a Flora Santa Clara está no bairro desde os anos 30. Clarice Almeida, filha do proprietário, Afonso Almeida, diz que seu pai frequentava a loja desde criança, e a comprou quando ficou adulto. Segundo ela, a casa continua em atividade pela diversidade, apostando não só no comércio de flores. “Os concorrentes das floriculturas são os supermercados, e outras lojas de presentes como as de chocolate”, comenta. Assim, a loja investiu na variedade e conta com bebidas e chocolates próprios.


Segundo o presidente da Associação Comercial de Copacabana (Ascopa), Fernando Polónia, um dos grandes desafios dos comerciantes são os vendedores ambulantes. Segundo ele, o trabalho dos guardas municipais é fiscalizar os camelôs e eles não fazem isso. “Os lojistas reclamam porque eles pagam impostos, alugueis caríssimos e não podem competir com os ambulantes, que às vezes vendem mercadorias parecidas em frente às suas lojas, ainda tapando a vitrine”, denuncia. Para ele, a falta de fiscalização prejudica não só o comércio, mas o “conceito” do bairro. “Estamos num dos lugares mais bonitos do mundo, que é um patrimônio mundial, que de certa forma é desvalorizado pelos ambulantes”, reclama.


A concentração de tantas lojas e centros comerciais transformaram Copacabana em um verdadeiro reduto de compras ou um shopping a céu aberto. Foi o que imaginou a Ascopa, no final dos anos 90. A Associação surgiu com o apoio do antigo Banco Real, depois da criação do Rio Sul, que ocasionou uma fuga dos clientes de Copacabana. Segundo Polónia, “Um dos objetivos era estender o horário do comércio de 19h para as 22h. Queríamos também fazer as lojas com as vitrines iluminadas e chegamos a contratar seguranças com o apoio dos lojistas”. A iniciativa funcionou em parte. Embora o projeto “Open Mall” tenha oficialmente acabado, principalmente porque as grandes lojas não quiseram aderir ao pagamento das taxas, as lojas mudaram, e hoje ficam abertas até mais tarde, funcionando inclusive sábados e domingos.

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