O Cinema Flórida, na Rua Siqueira Campos, 69, foi o primeiro de Copacabana a ser construído em um endereço previamente existente e usado para outra função. Ali, existia, desde 1948, o Mercadinho de Copacabana, que atendia aos anseios da população de fazer compras em estabelecimentos como aquele, que reuniam diversos gêneros alimentícios em um só lugar, acabando com a necessidade da população de ter que ir a açougues, padarias, armazéns de secos e molhados, feiras, etc. O espaço, grandioso, foi planejado para atender 10 mil pessoas por dia. Após aproximadamente 10 anos de funcionamento, o estabelecimento foi fechado e o prédio, reformado e transformado no cinema, que preservou a fachada antiga.
A estreia se deu em 5 de março de 1959, com uma sessão fechada para convidados de “Um Corpo Que Cai”, de Alfred Hitchcock. Passados dois dias, foi a vez de “Guerra e Paz”, protagonizado por Audrey Hepburn, abrir as portas ao público geral. O Cinema Flórida funcionava com apenas duas sessões diárias, número este que foi aumentado na medida em que o tempo passou, e poltronas numeradas, uma novidade daquele período. Diferente dos demais, foi aberto para atender exibições “road show”, ou seja, enquanto houvesse público interessado, sem necessariamente acompanhar a programação de outras salas, o que resultava em ingressos mais caros que os dos demais. A estratégia, entretanto, surtiu um resultado inesperado: passados dois meses, foi fechado pelo prefeito Sá Freire Alvim por este motivo, visto que a Comissão Federal de Abastecimento e Preços (Cofap) ainda controlava o aumento dos preços. Ainda assim, a proposta “road show” foi preservada. Outras interdições sucederam a esta por falta de segurança aos espectadores e por ausência do pagamento de impostos de indústria e profissões e de localização.
Passado o turbilhão inicial, o Cinema Flórida foi visitado até por artistas estrangeiros, como a cantora norte-americana Brenda Lee, que se apresentou no local ainda em 1959, e a estrela de Hollywood Yvone de Carlo, que veio ao Brasil no ano seguinte lançar seu novo trabalho, “Os Dez Mandamentos”. Como “Escreveu Seu Nome a Bala”, que protagonizou cinco antes antes, estava em cartaz, prestigiou uma das exibições pessoalmente, quando foi homenageada.
Após esses momentos de glória, novas interdições entraram para a história do Cinema Flórida. Em 1962, a falta de segurança novamente foi o motivo do fechamento temporário: a sala, toda em madeira e forrada com tecidos, seria perigosa em caso de incêndios. Além disso, a fachada estaria em desacordo com a legislação vigente. Passados dois anos, foi interditado pela censura do estado da Guanabara e pela polícia por não exibir filmes brasileiros, o que era obrigatório por decreto.
Apenas em 1968, quando a sala foi comprada por novos proprietários, que uma grande reforma teve início. A ideia era promover os grandes lançamentos, o que nunca aconteceu: logo o cinema encerrou suas atividades e o prédio retornou à função original, transformado novamente em um mercado, a Casa da Banha. Após o fim deste grupo, o Mundial se instalou no endereço, ocupado pela empresa até os dias atuais.
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