Thayssa Rodrigues
A Lapa ostenta um dos cartões postais mais procurados do Rio, que serve de pano de fundo para tantas outras atrações da área: os famosos Arcos da Lapa, construídos ainda no período colonial para servirem como um aqueduto. Posteriormente, foram utilizados como viaduto e ultimamente, transformados em um ícone da Cidade Maravilhosa, reconhecido e admirado no mundo todo. O bairro, que é considerado o berço da boemia carioca, está diretamente ligado à cultura e suas ruas convivem harmoniosamente com diferentes ritmos musicais, que vão desde o samba de raiz à música eletrônica, que animam as noites do local sempre muito movimentado. Por lá é possível encontrar, ainda, a Rua do Lavradio, com construções centenárias e uma tradicional feira de antiguidades; o Passeio Público, considerado o primeiro parque da cidade; e a colorida e encantadora Escadaria de Selarón, recoberta por azulejos que embelezam um caminho próximo a Igreja Nossa Senhora da Lapa do Desterro, que originou o nome desse charmoso espaço urbano. Em 1750, o bairro, que ainda não tinha nome definido, ganharia seu principal símbolo, os imponentes Arcos da Lapa (chamados ainda de Aqueduto Carioca), que começaram a ser construídos seis anos antes e são considerados, até hoje, a obra de maior importância do Rio Antigo. A construção possui um estilo romano e grandes dimensões. São 42 arcos em um trecho que possui 270 metros de extensão. Na época de sua realização, ainda no período colonial, o objetivo do famoso cartão postal era servir como um aqueduto, capaz de levar as águas do Rio Carioca para pontos importantes da cidade, que vinha crescendo em número de habitantes, mas ainda não possuía estrutura para distribuição desse recurso vital para o seu bom desenvolvimento. Até então, o espaço composto pelo bairro em questão, aliás, era considerado inabitável, por possuir apenas a Lagoa do Boqueirão, apontada como sendo insalubre, e as Areias de Espanha, uma pequena praia. Os dois locais foram aterrados para que ruas fossem abertas na região,que passou a ser uma importante via de ligação a Zona Sul da cidade. A praia deu lugar ao aqueduto e a lagoa viraria, mais tarde, o Passeio Público, primeiro parque da cidade. O bairro da Lapa começou a se formar ao redor da primeira construção residencial da área, uma capela levantada junto a um seminário, no mesmo ano de instalação do referido aqueduto. A obra, que foi realizada em um terreno doado pelo Capitão Antônio Rabelo Pereira, foi uma iniciativa do Padre Antônio Siqueira e serviu como homenagem à Nossa Senhora da Lapa. Em 1810, entretanto, o Príncipe Regente D. João VI doou o terreno a frades carmelitas, em troca do espaço que essa congregação possuía no Largo do Carmo (atual Praça XV), que iria ser habitado pelo monarca. Alguns anos depois, em 1824, a igreja foi reconstruída, mas o templo passaria ainda por muitas reformas. Seu interior possui uma decoração minuciosa que contém peças de grande valor, como telas atribuídas a João de Souza e imagens de apóstolos, chapeadas de prata, relacionadas ao Mestre Valentim. A fachada da construção, apesar de ser considerada um grande feito arquitetônico no estilo barroco, possui apenas uma das duas torres completas, estando a segunda inacabada. O fato, porém, possui uma explicação relevante na época de sua construção. Antigamente as igrejas só eram consideradas completamente finalizadas quando instalavam a segunda torre, a partir desse momento começavam a pagar impostos ao governo. Por conta disso, algumas delas optavam por permanecer com apenas uma, não precisando contribuir com quantia alguma, por não estarem oficialmente terminadas. Por conta da Igreja, o largo próximo a ela passou a ser chamado de Largo da Lapa e o bairro, que se desenvolveu ao seu redor, ganhou o mesmo nome. Aos poucos a área começou a se desenvolver e dezenas de ruas foram abertas nesse entorno. A Rua do Lavradio, aberta em 1771 pelo Marquês do Lavradio, que fazia parte do Império que controlava o país, é uma das que se destaca. A via foi tomada por casebres que abrigavam não apenas famílias importantes, mas também comerciantes que instalavam nos imóveis seus bares e restaurantes. O local permanece sendo visitado até hoje por conta dessas construções, características do período colonial, que ainda embelezam o ambiente. O espaço faz parte do chamado Corredor Cultural de Preservação Paisagística e Ambiental do Centro da Cidade, que garante a preservação de alguns bens considerados patrimônios culturais do Rio. A rua, aliás, atrai um grande público não só pela beleza dos casebres instalados ali, mas pela feira de antiguidades que a rua realiza no primeiro sábado de cada mês. Outro lugar muito requisitado na Lapa é o Passeio Público (tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural em 1938), considerado o primeiro parque da cidade. Sua origem está diretamente ligada ao desenvolvimento da região, já que o espaço ocupado pelo logradouro era, antigamente, tomado pela extinta Lagoa do Boqueirão. O lago em questão tinha má fama por ser apontado como sendo portador de águas sujas, mesmo assim, algumas pessoas que viviam a sua volta insistiam em se banhar por lá. No entanto, a área foi aterrada na década de 1770 para dar espaço ao parque, construído entre os anos 1779 e 1783, e permitir a ligação do bairro com a Zona Sul, além de resolver o problema de imundice relacionado ao espelho d´água. Assim, o vice-rei D. Luís Vasconcelos decidiu criar o Passeio Público, que teve como projetista o Mestre Valentim da Fonseca e Silva, considerado o melhor escultor da época. O nome do parque (localizado entre as ruas do Passeio, Teixeira de Freitas, Mestre Valentim e Luís de Vasconcelos) vem em decorrência do contexto no qual ele se desenvolveu, já que no período em que foi idealizado a maioria dos jardins era privado, fazendo parte de terrenos residenciais. Dessa forma, o parque em questão, composto por uma enorme área ajardinada, foi o primeiro destinado ao passeio público. A construção dessa área contribuiu para a valorização do bairro, já que por lá aconteceram festas importantes da elite portuguesa, como algumas comemorações em decorrência do casamento de D. João VI e Carlota Joaquina ( em 1778). A partir de 1896, o antigo aqueduto do bairro, a essa altura já conhecido como Arcos da Lapa, passou a funcionar como um viaduto, por onde trafegavam os bondes de Santa Tereza. Os veículos,que inicialmente eram verdes, foram pintados de amarelo para sobressaírem quando contrapostos a vegetação do local, e permaneceram como meio de transporte pitoresco na região até 2011. A partir de então, os famosos arcos passaram a ser apenas uma grande e imponente estrutura decorativa no largo da região. Outro ponto interessante do bairro para servir de cenário aos visitantes é a famosa Escadaria de Selarón, uma escada multicolorida coberta por azulejos variados, colados minuciosamente no espelho dos 250 degraus pelo ceramista e pintor chileno Jorge Selarón, que morou na rua por onde a escadaria subia de 1990 a 2013, quando morreu. Durante todo esse tempo de estadia, o artista se dedicou a ornar o lugar, que ficou conhecido no mundo todo devido a beleza de seu trabalho, tombado como Patrimônio Histórico e Cultural da cidade em 2005, mesmo ano em que a Prefeitura lhe conferiu o título de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro. Atualmente, a Lapa destaca-se por reunir alguns dos mais belos conjuntos arquitetônicos da cidade, além de ser palco de variadas manifestações artistas, principalmente relacionadas a música brasileira. Entre suas ruas históricas, casebres centenários abrigam casas de shows, bares e gafieiras que produzem música para todos os gostos, desde o samba e a bossa-nova, nascidos ali, no melhor estilo malandro carioca, aos modernos ritmos eletrônicos. Bares e restaurantes também se somam a esse ambiente, que permanece movimentado durante toda a madrugada.
Fontes: In: http://www.lapacriativa.com.br/historia/ In: http://historicidadecultural.blogspot.com.br/2010/01/historia-da-lapa.html In: http://oriodeantigamente.blogspot.com.br/2011/01/lapa.html In: http://www.multirio.rj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=775&Itemid=115 In: http://www.historiadorio.com.br/pontos/arcosdalapa In: http://www.todorio.com/rio/lapa In: http://www.minube.com.br/sitio-preferido/escadaria-selaron-a29641 In: http://lounge.obviousmag.org/anna_anjos/2013/01/selaron.html In: http://www.riodejaneiroaqui.com/pt/escadaria-selaron.html In: http://www.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_hist.gif&Cod=1729 In: http://www.passeiopublico.com/index2.htm In: http://www.passeiopublico.com/htm/construcao.asp In: http://ashistoriasdosmonumentosdorio.blogspot.com.br/2011/12/o-passeio-publico-do-rio-de-janeiro.html
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