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Copacabana


Orla de Copacabana vista do mar
Orla de Copacabana vista do mar

A "descoberta" de Copacabana


Apesar de Copacabana ter sido integrada ao município-neutro do Rio de Janeiro em 1892, seu nome estava na boca do povo antes mesmo do balneário passar a atrair banhistas. A Rua da Passagem, em Botafogo, era chamada Rua da Copacabana por ser um dos locais de acesso ao então areal. De lá, subia-se pelos Matos da Boticária, onde há o pórtico do antigo Forte do Leme, considerado na época como pertencente ao território de Copacabana. Essa nomenclatura repetida dificulta muitas pesquisas em materiais antigos, visto que tanto o agora bairro como o logradouro apareciam em documentos e na mídia apenas como Copacabana; para diferenciar as localidades, é necessário analisar o contexto, o que pode gerar informações erradas, ou atentar-se ao fato de que as referências à rua geralmente eram acompanhadas do artigo feminino antes do nome ("a Copacabana"). Apenas no fim de 1868 o logradouro em Botafogo ganhou seu nome atual, mas nos anos seguintes, continuou sendo chamada de Rua de Copacabana por quem estava acostumado durante alguns anos.

Durante muito tempo, o areal de Sacopenapã era praticamente desconhecido da população. Ele fazia parte da doação do fundador do Rio de Janeiro, Estácio de Sá, ao bandeirante André de Leão ainda em 1565. Desde então, passou por diversos herdeiros, que mantiveram a região chamada de Praia do Rodriguez pelos portugueses intocada. A construção mais antiga provavelmente foi a Igreja de Nossa Senhora de Copacacabana, cuja data de construção é desconhecida. Sabe-se apenas que ela foi erguida a pedidos do Frei António do Desterro, que, após quase morrer em um naufrágio perto dali em 1770, teria prometido uma homenagem à santa. Em 1776, as duas extremidades foram armadas devido à iminência de invasões espanholas e por muito tempo, a população consistia apenas de pescadores.

As primeiras menções na mídia ocorreram na década de 1820 - nessa e na seguinte, a área virava notícia quando desconfiava-se de que algum escravo fugitivo havia a escolhido como esconderijo ou quando algum crime ocorria, como em 1827, quando a chácara do padre Jacinto Pires foi invadida por cerca de 30 homens que levaram dinheiro (em ouro, prata e cobre) e objetos como fivelas de sapatos, castiçais, um relógio e até mesmo uma escrivaninha, dentre outros itens. Já os primeiro indício de integração do território foi em 1837, quando foi determinado que as terras, ainda fora dos limites da cidade, deveriam gerar impostos para a Corte. Nessa época, algumas chácaras já existiam na região, como a Canta-Gallo, Restinga de Copacabana, Le Blanc (esta, no entanto, poderia ser no atual bairro do Leblon, já que todo o areal desde a encosta do Morro Dois Irmãos era chamado de Copacabana) e outras que eventualmente eram mencionadas em notas. Com casas construídas de pedra e cal, elas possuíam vastas plantações como café e laranja-da-china, fruta tão comum na região que passou a ser vendida em centos na década seguinte, entre outras. Havia também campos para pastos de animais.,

Foi apenas em 1858 que a aparição de duas baleias encalhadas fez com que o a praia virasse motivo de curiosidade. Multidões enchiam o Largo do Paço, de onde saíam embarcações diversas rumo a Copacabana, onde estavam a fêmea com seu filhote. Segundo os pescadores da época, o animal buscara águas calmas devido o nascimento de sua cria. Até o imperador D. Pedro II, acompanhado das princesas Isabel e Leopoldina, esteve na praia as observando em dia 23 de agosto. A retirada delas estava marcada para o dia seguinte, mas, na referida data, os animais desapareceram.

Foi também nessa ocasião que a antiga igrejinha também passou a receber atenção da população. No dia da visita de D. Pedro II, a mesa de sua irmandade foi composta. Um mês depois, já estava sendo discutida a construção de uma nova sacristia, cuja pedra fundamental fora lançada no dia 24 de setembro. A restauração da bicentenária construção também foi discutida e a empolgação da população era tanta que um morador de Botafogo doou uma imagem de Santo Antônio de Lisboa para adornar o espaço até pouco tempo desconhecido de grande parte do povo. Dois anos depois, foi a vez da imagem da santa que dava nome à área foi transferida para a igrejinha erguida. Após um abaixo-assinado, a peça, então exposta ao público na Igreja Matriz da Lagoa, fora transferida, em 8 de janeiro, para a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana. O templo passou, então, a receber cerimônias em homenagem à santa e a Santo Antônio. A verdadeira razão pela qual a imagem veio parar na cidade é desconhecida, mas acredita-se que ela foi contrabandeada - nos primeiros dois séculos, o Rio era muito pobre e seu solo não era propício ao cultivo de cana, o que gerava fortunas apenas no norte do Recôncavo Baiano. Por este motivo, os cariocas tentavam lucrar através do contrabando e a principal cidade explorada era Potosí, na Bolívia, onde havia muitas minas de extração de ouro e prata. Como a Nossa Senhora de Copacabana é boliviana (o nome inca Kopa Kawana foi adaptado pelos espanhóis), cultuada pelos incas à beira do Lago Titicaca, essa teoria é aceita por alguns estudiosos.

A primeira festividade em homenagem, no ano seguinte, à santa boliviana contou com a presença do imperador D. Pedro II e sua esposa, a imperatriz D. Teresa Cristina, o que foi motivo de outra festa paralela. Em todo o trajeto, o casal foi acompanhado de girandolas e bandas musicais, que executaram o Hino Nacional em diversos momentos. O caminho consistia em vir do Centro pela hoje Rua Marques de Abrantes, seguir pela Praia de Botafogo, virar na Rua São Clemente, continuar na Rua Real Grandeza e, de lá, subir o morro, chegando na localidade conhecida como Barroso (mais tarde, com a incorporação do bairro à cidade, a Rua do Barroso foi aberta até a Praça Malvino Reis, hoje Serzedelo Correia, e posteriormente o logradouro foi rebatizado Rua Siqueira Campos), de onde seguia-se ao templo. O movimento era tão grande que, em alguns anos, foi definido que até às 15h, os carros apenas seguiriam pela Estrada de Villa Rica apenas no sentido Copacabana e após esse horário, o caminho estaria aberto para quem desejasse retornar - ou seja, a mão-dupla tornava-se proibida para evitar acidentes.

As novas facetas da região

Nessa mesma época, já era discutida a incorporação de Copacabana à cidade. Em 1849, o Ministério do Império Haddock Lobo havia realizado um Censo no qual contabilizou a população do Rio de Janeiro em 137 mil pessoas. Lobo analisou o crescimento entre 1819 e este período e projetou que, se ele fosse mantido, em 1860 o Rio teria aproximadamente 250 mil residentes. No entanto, um artigo do Jornal do Commercio, publicado em 3 de dezembro deste ano, destacava não só os bairros fundados nesse intervalo de tempo, como Botafogo, São Clemente e Berquó (hoje, todos eles compõe Botafogo) como outras terras já habitadas como Copacabana, Jardim Botânico, Laranjeiras, Cosme Velho, Largo do Machado da Princeza e do Príncipe, entre outros, ressaltando que a população real seria superior a 350 mil. Além disso, em 1861, o Ministério de Agricultura, Commercio e Obras Públicas empregou 18 africanos livres para melhorarem o caminho até a igreja, chamado ou Estrada do Barroso ou Estrada de Villa Rica, facilitando o acesso de carros no dia de Nossa Senhora de Copacabana. Ainda assim, no ano seguinte, o estado deplorável tanto dessa passagem quanto da outra, pela Ladeira do Leme, foi denunciado na mídia - alegava-se que mais dois dias de chuva impediriam o acesso. No entanto, em datas especiais, para garantir a chegada dos fieis à igreja, o acesso ocorria por barcas saindo da Praia do Peixe e da Prainha (Praça XV e Mauá, respectivamente), contornando o Pão-de-Açúcar e visitando até o Arquipélago das Cagarras, o que atrasava a chegava, mas tornava o caminho mais atrativo. O trecho era operado pela Empreza Coral, a primeira a destinar embarcações a Copacabana - antes, a Companhia Nitherahy e Inhomirim oferecia o trecho "Côrte - Botafogo", saindo da Praça XV e com escala no Morro da Viúva - e o desembarque ocorria pela Ponte das Barcas, na altura da Rua São Clemente, em Botafogo. De lá, seguia-se pelos caminhos em terra. Foi também nessa década que os terrenos começaram a ser leiloados, antes mesmo do território ser incorporado ao Rio de Janeiro. A cobrança dos impostos sobre os escravos nessas léguas também eram realizados.

Em 1865, também foi discuta a implantação do Asilo dos Inválidos da Pátria em Copacabana, destinado a quem havia servido no Exército. Ele funcionava na Fortaleza de São João, na Urca, onde os mutilados e os inválidos por causa do trabalho viviam para não ter que mendigar, mas o local era considerado mesquinha. Copacabana era considerada por D. Pedro II uma área estratégica, salubre e pitoresca. Além disso, afastados da população, os moradores se afastariam também de seus vícios e poderiam servir como pescadores ou como agricultores de pequenas hortas. No mesmo terreno, seria construído também um pasto para os cavalos da Corte descansarem após a viagem até o areal - eles eram obrigados a caminhar mais algumas léguas para isso. Na época, a fazenda pertencia a Francisco José Fialho (que, anos antes, comprava o terreno do Leblon do empresário Manuel Hipólito Carlos Leblon após a decadência da caça baleeira), para quem a proposta de compra foi enviada. Havia quem criticasse a distância do Centro, alegando que os moradores passariam seus dias sem nada a fazer: no entanto, os defensores alegavam que o ócio seria transformado em produtividade. Mais tarde,o Asilo foi instalado na Ilha de Caqueirada (também conhecida como Ilha do Bom Jesus, no Fundão. A ideia não saiu do papel em Copacabana devido à dificuldade de obter água potável (apesar de existirem algumas nascentes), que começou a ser levada ao local por Fialho poucos anos mais tarde.

Apesar dessa intenção, havia o interesse em restabelecer as defesas da costa oeste - o que abrangia o Forte do Vigia (atual Duque de Caxias) e o de Copacabana. Os acessos ao Forte do Vigia foram reformados, já que a inclinação íngreme demais não permitia o transporte de materiais para a construção do Forte Guanabara, na Ponta do Anel (em frente à Ilha Cotunduba) - e que mesmo assim, não foi erguido. Nenhuma das ideias foi pra frente e Copacabana, com a mesma velocidade que caiu nas graças da população, voltou a ser esquecida pela mídia da época, voltando a ser notícia apenas pore causa das fugas dos escravos e, anualmente, devido à festa de Nossa Senhora de Copacabana (cujo sucesso ainda era tão grande que a ampliação da capela era discutida).

As primeiras discussões sobre o bonde

O interesse de se levar o bonde para Copacabana começou a ser discutido na década seguinte e ocupou muitas páginas dos jornais da época tamanha a polêmica por trás desse interesse. Em 1870, José Arthur Farme de Amod, proprietário de terras de Ipanema, solicitou ao Governo autorização para montar uma companhia para ligar Botafogo a Copacabana passando pela Rua do Berquó (hoje, General Polidodo) e pelo Morro do Leme, através ou de um túnel ou do alto dele. Reforçando seu pedido, foi realizado um abaixo-assinado que recebeu apoio de nomes como Carlos Le Blon de Meyrach Junior (proprietário de terras no Leblon), Ten. Cel. Antônio José da Silva (proprietário de terras em Copacabana) e o engenheiro Carlos de Araújo Ledo Neves. Em abril de 1972, Guilherme de Oliveira e Silva solicitou ao Ministério da Agricultura a autorização para a construção, mas, no mês seguinte, Visconde de Lages (Alexandre Vieira de Carvalho, mordomo dos príncipes Conde e Condessa D'Eu, também interessado no trajeto) e seu sócio, Dr. Francisco Teixeira de Magalhães, também fizeram o mesmo pedido, dessa vez para o Ministério do Império. Também em maio de 1872, um novo pedido foi encaminhado à câmara municipal, dessa vez assinada pelo vice-consul dos Estados Unidos, Francisco Maria Cordeiro. Todas teriam sido encaminhadas ao conselho do estado juntas.

No entanto, Lages precisou acompanhar os príncipes em uma viagem à Europa e se ausentou do Brasil enquanto a solicitação corria, mas em dezembro de 1873, o decreto 5.460 autorizou a Botanical Garden Rail Road a transferir suas ações a uma empresa nacional e esta poderia estender os trilhos em ruas paralelas às servidas, o que levou à empresa a reclamar o trecho até Copacabana - e também o direito à preferência, já que a companhia já estava em operação expandindo os trilhos pela cidade e que já era responsável por levar o bonde até a Praia de Botafogo, esquina com Rua de São Joaquim (atualmente Marques de Olinda).

O interesse de Oliveira e Silva revoltou Ten. Cel. Silva (que participara do primeiro abaixo-assinado). Ele alegava que tanto Oliveira quando o Visconde de Lages desapropriariam suas terras para passagem dos trilhos e, posteriormente, as dividiram e loteariam,vendendo-as inclusive para os então proprietários. Destacava ainda que os prédios já erguidos poderiam ser também desapropriados para a abertura das ruas do futuro bairro, como ocorrera há pouco na Rua Primeiro de Março, no Centro. Nesse contexto, Ten. Cel. Silva tornou-se sócio de Alexandre Wagner, que havia comprado muitos terrenos, juntos eles receberam apoio de muitas outras famílias da região, que criticavam também o trajeto pelo alto do morro do Leme. Segundo eles, os terrenos no alto dele não eram apropriados para edificações. Além disso, seguindo pela Rua Real Grandeza, a subida para carros era fácil por não ser tão íngreme e os gastos com rebaixamentos e alargamentos seriam pequenos. Essa alternativa ainda valorizaria os terrenos daquela região.

Oliveira e Silva e Ten. Cel Silva travaram batalha pública nos jornais da época, publicando grandes textos defendendo suas versões e atacando a do adversário. Oliveira e Silva alegava o projeto de Ten. Cel. Silva contemplava apenas o interesse financeiro dele e dos demais proprietários. Em sua visão, todas as nações civilizadas com costas marítimas faziam uso da água salgada para proveito da população e a Baía de Guanabara já estaria poluída demais para ser comparada com as ondas limpas de Copacabana, que, em sua ideia, seria transformada em uma "cidade aprazível" junto com o Arpoador. Sua ideia passava pela Rua Real Grandeza, mas englobava ainda o nivelamento da Praia de Copacabana, o loteamento de ruas com 60 palmos de largo e a construção de um boulevard na praia. Eram previstas 400 casas com sistema de esgoto; depósitos de água potável; construção de um gasômetro cujo gás abasteceria toda a região; inauguração de uma lavanderia pública e de um mercado; além da concessão de terrenos para escolas públicas e estações dos bombeiros e da polícia. Ele ainda afirmava que as desapropriações seriam ilegais, mas que as expropriações eram direitos do Estados em nome do interesse coletivo e que os proprietários seriam indenizados. Em meio a tal polêmica, um novo projeto também foi apresentado pelo governo:

Em meio à briga, o cunhado do Visconde de Lages, Paulo José Pereira de Almeida Torres, se envolveu afirmando a existência de um contrato entre o conselho do estado, Lages e Magalhães, que só poderia ser diluído mediante pagamento por indenização por prejuízos, perdas e danos. Além disso, apenas o projeto deles contemplava a integração de Copacabana com o Centro, Torres ainda afirmava que o Conselho de Estado havia julgado que o pedido de seus representados não feria o da Botanical Garden Rail Road e que o requerimento de Oliveira e Silva teria sido indeferido pelo engenheiro Evaristo Xavier da Veiga. Complementando a briga, surgiram defesas pela ideia de Cordeiro, que visava apenas o assentamento de túneis nas ruas de Olinda (Marques de Olinda), Bambina, São João (São João Batista), Real Grandeza e de lá, subindo o morro, sem a necessidade de abertura de túnel. Por fim, o decreto 5.785, de 1874, autorizou Lages a levar o bonde da Rua do Ourives, no Centro, até Copacabana, através da Companhia Ferro-Carril de Copacabana.

Em meio à polêmica, Copacabana foi cenário de um grande avanço para a cidade. A praia recebeu uma das pontas do cabo submarino da Companhia Telegráphica Platino Brasileira, ligando o Rio de Janeiro à Europa, ao Norte e ao Rio da Prata. Eles foram instalados nos terrenos de Fialho. Quando os superintendentes desta companhia e da Western And Brazilian Telegraph demonstraram interesse em construir uma estação definitiva no bairro, Wagner aceitou abrir mão de parte de suas terras, mas Fialho novamente foi o escolhido - dessa vez, para evitar transtornos, uma vez que o cabeamento já estava em sua propriedade. Foi também em 1874 que o primeiro chafariz da região foi inaugurado, ao lado da igreja.

No fim de 1877, o bonde voltou a virar notícia. Desde a concessão, diversos anúncios de terrenos ao longo do caminho eram divulgados utilizando o futuro meio de transporte passando na porta como chamariz. No entanto, no fim desde ano, a companhia Botanical Gardens conseguiu embargar a obra, que já alcançava a Rua da Pedreira (Pedro Américo), na Glória. O proprietário da empresa estrangeira, Charles B. Greenough, alegava que os trilhos desta companhia estariam sendo cortados durante à noite - além disso, a nova empresa atenderia também muitos endereços já servidos pela mais antiga, que obtivera a concessão exclusiva de diversos endereços através de diversos decretos e cobrava valores maiores que os prometidos pela concorrente. Greenough ressaltava que a outra empresa poderia levar o bonde a Copacabana, desde que a linha não partisse de alguma área abrangida pela sua. Apesar dos argumentos, o embargo não foi aceito e as obras, retomadas imediatamente, o que resultou em uma nova briga midiática. Os cocheiros foram matriculados no fim do ano seguinte, o que era necessário para abrir a linha ao funcionamento, e Lages e seu sócio solicitaram autorizaração para criarem um estabelecimento de banho em Copacabana por 50 anos, mas a Companhia Copacabana voltou a ser notícia após seus funcionários agredirem um carvoeiro com pás e pedras e também por manter um depósito de estrume de estrume em suas cocheiras, o que estaria infectando e prejudicando toda a vizinhança.

O crescimento impulsionado pelas ações do Dr. Figueiredo Magalhães

Antes mesmo do bonde chegar, alguns negócios já começaram a se estabelecer pela região. Em novembro de 1878, o médico Francisco Bento Alexandre de Figueiredo Magalhães, especialista em moléstias da uretra, do útero e dos seios, abriu Casa de Operações e Convalescença da Copacabana. Em um primeiro momento, ela recebia todo tipo de pacientes (menos os doentes contagiosos), mas a procura foi tão grande que menos de dois anos depois o espaço ficou restrito aos operandos e aos banhistas medicinais. Devido ao sucesso, Dr. Figueiredo Magalhães, que havia se afastado da direção, retomou suas atividades além do seu consultório (que ficava na Rua Primeiro de Março, 39). Posteriormente, em 1887, ele considerou inaugurar também um hospital para portadores de varíola, o que gerou manifestações negativas por parte dos moradores da Villa Rica.

Para facilitar o acesso de suas gôndolas (que conduziam passageiros de Botafogo para lá), ele aprimorou toda a estrada saindo da Rua Real Grandeza e passando pelo Morro da Copacabana, o que contrastava com os demais logradouros da cidade - no entanto, essas melhorias logo ficaram ultrapassadas e o caminho se igualou aos demais. Vizinho a ele, foi inaugurado poucos dias depois o Hotel da Copacabana. Administrado por Sá Coelho, ele recebia famílias interessadas em tomarem banho de mar ou apenas descansar e também servia a elas refeições (almoços, jantares e lanches). As diligências para ambas as casas começou a funcionar imediatamente, saindo de hora em hora de Botafogo. Exatamente três meses depois, o Grande Hotel do Leme foi inaugurado, oferecendo também vinhos, cervejas, refrescos e charutos e com a vantagem de estar localizado a poucos passos da praia. Disponibilizava ainda animais para levar os pensionistas a passeios ou mesmo até a igreja e transporte gratuito desde a descida da Rua Real Grandeza até sua porta. Na mesma época, José Martins Barroso abriu uma rua, ainda sem nome, e que posteriormente viria a ser a Rua Siqueira Campos. A encosta da Babilônia também já vinha sendo ocupada - inclusive havia leilões de terrenos até o alto, perto do telégrafo.

A história dos bondes ganhou um novo capítulo quando, em 21 de fevereiro de 1880, o decreto 7.673 declarou caduca a licença concedida a Lages e Teixeira pelo suposto não cumprimento de cláusulas contratuais. Antes disso acontecer, outro decreto, o 7.615, de 24 de janeiro do mesmo ano, dera autorização ao engenheiro Carlos Alberto Morsing (o mesmo que indicou a D. Pedro II o engenheiro austríaco Henrique Folgare para ser o responsável pelas obras da Central do Brasil e que mais tarde foi nominado chefe da comissão de obras da estrada de ferro Madeira-Mamoré) de abrir uma estrada de ferro entre o fim da Praia de Botafogo e Angra dos Reis, passando ainda por Copacabana, Jacarepaguá, Guaratiba, Santa Cruz, Itaguaí e Mangaratiba. O decreto ainda dava a Morsing o benefício durante 90 anos. Nessa época, a mídia já se referia a Copacabana como bairro e apontava o grande número de moradores pagando impostos na região. Os trilhos da Empresa de Copacabana já chegavam até a Glória e os sócios foram intimados a retirarem e recuperarem o calçamento como estava antes - o que não foi feito pelo menos até 1886. Boatos midiáticos acusavam a Botanical Garden de pagarem pela licença que caducou a autorização de Lages e Teixeira, que cobraria 100$ por viagem (contra 200$ cobrados pela Botanical Garden em seus trechos).

Em 1882, o Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas abriu licitação para receber propostas de interessados em levar o bonde até Copacabana e Praia da Saudade, o que fez os capitalistas ingleses que financiariam a proposta de Morsing se retraírem, uma vez que isso acabaria com o interesse deles em lucrarem na região. O trajeto fora pré-determinado pelo governo e saía da Rua do Ourives - no entanto, não era definido se o transporte seguiria pelo morro da Copacabana ou do Leme, mas a abertura de túneis cortando ambos já era discutida. Isso gerou manifestações de Teixeira de Magalhães, que apontou ser ilegal a cassação da licença concedida a ele e a Lages. Apesar disso tudo, o engenheiro Diogo Ferreira de Almeida e o comendador José Pinto de Oliveira pediram o privilégio de levar uma linha férrea ao bairro, o que foi negado devido ao benefício de Morsing. A licitação foi declarada nula devido à ausência de projetos que atendessem aos requisitos: o de Teixeira de Magalhães e o da Botanical Garden não atendiam todas as cláusulas e a dos negociantes importadores Backenseur e Meyer foi entregue um dia após o fim do prazo - estes alegaram terem sido os únicos a preencherem os requisitos e também terem entregue tudo dentro da data permitida. Por sua vez, os moradores de Botafogo, satisfeitos com o serviço prestado pela Companhia de Botafogo, defendiam que ela deveria ser escolhida para abastecer de transporte público o bairro vizinho.

Nessa mesma época, no Morro da Copacabana, os moradores reclamavam da ausência de água e luz (os pedidos de combustores de gás correntes já persistiam durante anos - na Ladeira do Leme, eles foram atendidos apenas em 1888) e a escuridão atraía criminosos ao local. Além disso, Dr. Figueiredo Magalhães, antes de se oferecer para levar o bonde ao local, se oferecera a reformar o caminho novamente, mas recusou a proposta financeira do governo de 500$, informando que seriam necessários 800$. Após não conseguir tal benefício, colocou a venda todas as suas propriedades e seus prédios no bairro. Poucos dias depois, Dr. Tito Galvão conseguiu autorização do governo para investir até 200$ na melhoria do mesmo caminho, o que fez Figueiredo Magalhães voltar atrás e aceitar a proposta de 500$. Pouco tempo depois, foi solicitada à Comissão de Obras Públicas a aquisição de um terreno em Copacabana a fim de abrir nele um parque - como resposta, Figueiredo Magalhães ofereceu parte de seu terreno, onde seriam abertas duas ruas e duas travessas (uma delas foi batizada com seu nome).

Uma nova concessão para os bondes foi feita e nele, o Ministério da Agricultura despachou o pedido de Figueiredo Magalhães em construir bondes para Copacabana, ligando-os com os da Botanical Garden. Ao mesmo tempo, o projeto 219/82 dava ao engenheiro Alvaro Rodovalho Marcondes dos Reis o direito de levar mais uma linha férrea até Angra, passando por Copacabana, o que resultou em uma dúvida pública sobre a concessão de Morsing: ninguém sabia se ainda vigorava. No final do período da nova disputa, apenas duas propostas eram consideradas válidas: a de Theodoro Duvivier, representando capitalistas de Paris e Londres, visava o estabelecimento de um balneário em Copacabana e prometia também o calçamento de todas as ruas por onde os carris passassem; e a de e de Moreira Pinho, agente de loteria, que abrangia também a construção de um túnel ligando Laranjeiras ao Rio Comprido (posteriormente, foi aberto o Rebouças). Dessas, a de Duvivier foi a escolhida, também partindo da Rua do Ourives (como a de Lages) e tendo como destino a Praia da Saudade. Diversos estabelecimentos comerciais situados em terrenos pode onde o bonde passaria promoveram leilões, já que acreditava-se que logo eles seriam demolidos.

Em pouco tempo, o projeto de Duvivier foi alvo de críticas pelo fato das plantas apresentadas serem diferentes das do edital. Em meio a muitas polêmicas, Figueiredo Magalhães voltou a solicitar que ele construísse os trilhos entre Copacabana e os trechos operados pela Botanical Garden (que passou a se chamar Companhia Carris de Ferro do Jardim Botânico). Duvivier pediu ampliação do prazo para apresentação de um novo projeto, o que foi indeferido. Por este motivo, sua licença também foi considerada caduca e uma nova concorrência foi sugerida em setembro de 1883, apesar de Duvivier ter tentado recursos durante alguns anos e insistido até para receber a restituição das apólices depositadas como garantia de seu contrato. No entanto, boatos diziam que o Governo Imperial estaria negociando com a Jardim Botânico - o engenheiro Dr. Antônio Maria de Oliveira Bulhões, chefe de fiscalização da companhia de ferro-carril urbanas e suburbanas chegou a ser escolhido para conduzir a obra, que ainda não tinha o trajeto definido - a Rua Salvador Correia (atual Avenida Princesa Isabel) já era aberta, o que permitiria a passagem do bonde por ela. Logo, a chegada do bonde a Copacabana tornou-se uma das principais demandas da população carioca na época, recebendo tanto destaque quanto os pedidos de demolição do Morro de Santo Antônio, por exemplo. Diversos interessados pediram essa concessão ao governo ao longo de muitos anos, mas todas as solicitações eram indeferidas por diversos motivos. Outras intervenções também era discutidas como uma grande avenida ligando Copacabana ao Caju.

Antes do transporte chegar ao bairro, o uso saudável do bairro voltou a ser alvo de notícias. Em 1889, a praia recebeu seu primeiro evento esportivo. Nesse ano, foi disputado um desafio de natação que partiu da Ponte d'Armação, em Niterói, e teve como ponto de chegada Copacabana. Três atletas disputaram a prova: Theodoro John, Joaquim Antonio de Barros e Agostinho Fernandes. Nessa mesma época, o estudo "Hospitaes maritimos para crianças escrophulosas e rachiticas", assinado pelo médico Dr. Carlos Costa, apontava Copacabana como o local ideal para o estabelecimento de um hospital marítimo, como já existia na França e na Itália, visando reduzir a mortalidade infantil através da terapia com água do mar e a atmosfera praiana. Ainda na área de saúde, o Ministério da Marinha visava abrir no bairro um hospital para beribéricos tamanha a incidência da doença - muitos se tratavam na clínica de Figueiredo Magalhães, cujo espaço foi alugado para a instalação do novo espaço e devido ao sucesso, ampliado em 1891. A obra aumentou a capacidade de 100 para 150 pacientes.

Paralelamente, bonde continuou sendo alvo de interesse de diversas pessoas. Já em 1890, o americano Conrad de Struve voltou a pedir a autorização, anunciando inclusive um plano para o caso da Jardim Botânico reclamar de trilhos na mesma região dos seus, como já fizeram anteriormente, Sua proposta visava também a construção de uma vila proletariada em Copacabana, assim como hospitais, casas de saúde e estabelecimentos marítimos, o que manteria as qualidades higiênicas do local, assim como creches e escolas para crianças e adultos. Se a proposta fosse colocada em prática, Copacabana viraria uma pequena cidade com cinco mil habitantes. Os trilhos, após passarem pela Rua Real Grandeza, desceriam a Figueiredo Magalhães ou através de um túnel ou de um corte a céu aberto. Até o preço fora anunciado: as passagens custariam 100 rs. No entanto, a Jardim Botânico havia feito o pedido em dezembro de 1889, o que foi anunciado no dia seguinte após o pedido de Conrad de Struve vir a público. Ao mesmo tempo, a Companhia de Botafogo também se mostrou interessada, propondo reduzir a passagem de 200 para 100 rs, a fim de concorrer com a ideia de Struve. O capitão-tenente Collatino Marques de Souza também demonstrou pretensão em construir a linha, oferecendo abatimento de 50% da tarifa para militares fardados e passagem gratuita para funcionários dos correios, bombeiros, de segurança pública e do telégrafo em viagens profissionais.

O ponto final da questão do bonde

Em meio a tantos interessados, a Jardim Botânico firmou contrato com o conselho de intendência municipal em 30 de agosto de 1890, tornando-se a detentora dos direitos dos trilhos. A concessão fora ampliada até 1930 sem que o trajeto fosse definido. Em meio às obras, a linha "Copacabana" que ainda não alcançava o bairro, já passou a funcionar no fim daquele mesmo ano: ela levou muitas pessoas ao cemitério São João Batista no dia de finados. O dilema da construção, no entanto, não chegou ao fim: finalmente foi publicado o decreto com o projeto de Morsing (10.415/89), oferecido à Companhia de Ferro de Sapucahy. Ele passaria por um túnel no Leme e chegaria a Copacabana em linha reta. A vila proletariada de Struve também era prevista: os terrenos de Duvivier foram adquiridos com essa finalidade. A Empreza de Construções Civil, já visando a valorização da região, planejou a construção de chalés de verão, mas menos de um ano depois, os terrenos foram colocados à venda. Todos entre a Rua do Barroso e o Morro do Vigia pertenciam à companhia, do mar até as vertentes dos morros São João, Babilônia e Vigia. Havia também unidades perto da igrejinha.

O início da obra do túnel na Rua Real Grandeza, realizada pela Jardim Botânico, foi marcada por uma festa em 28 de fevereiro de 1891. Os operários saudaram o início da chegada do progresso ao bairro com uma salva de 21 tiros por meio de minas carregadas por dinamite que começaram a abertura do espaço por onde a locomotiva passaria. A obra estava prevista para ser concluída em seis meses e previa também passagem pelo Hospital dos Beribéricos, cuja propriedade, antes alugada, foi permutada por parte dos terrenos do Hospital Nacional dos Alienados. Antes Hospício D. Pedro II, a propriedade em Botafogo era administrado pela Santa Casa da Misericórdia, que vendeu a gestão ao Estado. Inicialmente, foi prevista a construção de uma universidade, o que logo foi esquecido. Além disso, a Pedreira de Itapemirim que existia no local já não rendia mais tanto quanto antes, o que permitiu o Estado, governado pela ditadura de Deodoro da Fonseca, a realizar a troca com o comendador Antonio Teixeira Rodrigues, Visconde de Santa Marinha, que havia adquirido a propriedade de Figueiredo Magalhães. A crise financeira daquele período inviabilizava a compra de um terreno nesta praia com essa finalidade e ela era a única apontada como suficientemente salubre para o tratamento dos enfermos. A permuta, no entanto, foi anulada pelo Governo por irregularidades: ao ir à Europa, em 1890, Figueiredo Magalhães deixou uma procuração em nome de Marinha autorizado-o a vender, comprar, arrendar, alienar ou hipotecar suas propriedades, principalmente as de Copacabana durante sua ausência. No entanto, o médico retornou no ano seguinte e a procuração foi invalidade. Ainda assim, Marinha assinou a permuta, trocando também os terrenos da Sociedade Portuguesa de Beneficiência, da qual era presidente, por uma parte do de Botafogo. Por este motivo, era prevista a nova enfermaria para beribéricos no Leme. Projetado por norte-americanos e ingleses, o novo espaço gerou protestos, uma vez que isso prejudicaria a salubridade dos edifícios e da casa de caridade que ali existia.

Apesar de quase pronto (chegou a ser anunciado que faltava menos de um mês para a conclusão da obra), o Túnel de Copacabana foi atrasado. Não se sabe porque ele não foi concluído ainda em 1891, mas, no final do ano, a Jardim Botânico pediu autorização para prorrogar o prazo de conclusão da construção. Havia duas frentes de trabalho, uma em Copacabana e outra em Botafogo, que se encontraram no fim de dezembro. Em Copacabana, também eram assentados os trilhos que conduziriam até a estação. Paralelamente, vários prédios eram construídos pela Companhia de Construções Civis, urbanizando o bairro. O túnel foi inaugurado em 2 de janeiro de 1982, mas a previsão de abertura ao público era abril: faltava o revestimento e o rebaixamento do solo - a iluminação ficava alta demais e não surtia o efeito desejado. Ainda assim, ele já atraía transeuntes, que reclamam da falta de aviso por parte dos operários de quando as novas detonações ocorreriam. O italiano Luigi Lapé morreu no local, provavelmente atingido por uma delas. Finalmente, em 14 de maio, a linha da Real Grandeza e a de Copacabana se juntaram. O primeiro bonde chegou no areal às 10h, recebido por uma salva de 21 tiros. A inauguração oficial foi no dia seguinte. Após isso, a Jardim Botânico pediu ao Governo a desapropriação das terras pertencentes à viúva e aos filhos de Barroso, assim como o casebre construído ali, afim de melhorar o traçado da linha. A 2ª seção da linha foi inaugurada em 6 de julho e essa data foi transformada na oficial, apesar do transporte já circular antes. Os convidados se reuniram por volta das 13h na Rua Gonçalves Dias, no Centro, de onde o transporte saiu com destino à Rua do Barroso. As passagens custavam 300 rs (três vezes mais que o prometido por muitos dos interessados em construir o transporte anteriormente) e, a partir desse dia, tornou-se proibido o tráfego de peões e cavaleiros no túnel e nos terrenos da Jardim Botânico. Em pouco tempo, a mídia já anunciava que o melhor emprego de capital era a compra de terrenos no "futuroso" bairro de Copacabana pelos preços ainda vendidos pela Empresa de Construções Civis. O bonde de carga foi inaugurado apenas no começo de 1893.

Apesar de muitos afirmarem que Copacabana começou a se desenvolver a partir dessa ocasião, diversas ruas já estavam abertas tanto nela quanto no Leme (na época, não havia a divisão entre os bairros) como Bernardo de Vasconcellos (que abrangia as ruas Gustavo Sampaio e o trecho equivalente ao da Av. N. Sª de Copacabana até a Rua Siqueira Campos), Toneleros, Figueiredo Magalhães, Salvador Correia (Avenida Princesa Isabel), Barroso (Siqueira Campos), do Itororó (Paula Freitas), Lomas Valentinas (paralela à praia; podia ser ou a Barata Ribeiro ou a Domingos Ferreira), Bento de Amaral (trecho da orla entre a Rua Siqueira Campos e a Praça Almirante Júlio de Noronha, no Leme), entre outras. Havia também uma olaria chamada Santa Clara, que pode ter dado nome ao logradouro onde ela funcionava.

O começo do século XX

Foi ainda no final do século XIX que Copacabana ganhou um novo ícone, contrastando com a igreja: o bar e restaurante Mère Louise, que funcionou durante quase 40 anos no Posto 6. Inaugurado pela francesa Marie Louise Chabas, o local, situado no fim da linha do bonde, era conhecido por sua alta gastronomia e também por ser um cabaré nos moldes parisienses, onde os jogos de roleta, os "colos e pernas nuas" e os quartos de aluguel por hora que atraíam os clientes ilustres - até deputados, senadores e ministros eram vistos na casa, aproveitando os atrativos e ouvindo as histórias de Louise, como a de quando ela assistiu a proclamação da terceira república da França. Louise, de origem provençal, chegou no Rio em 1875 e mantinha diversas casas, sendo esta sua principal. Conhecida por seu gênio forte, Louise também era generosa e participativa comunitariamente: em 1912, já idosa, ela ajudou os pescadores de perto da igrejinha no resgate de afogados vitimados pelo mar revolto quando já era uma "velha gorda e baixa". Além disso, de tanto confiar em seus clientes, tomou inúmeros calotes a ponto de tornar-se insustentável manter o luxo da casa. Por este motivo, o espaço foi vendido no ano seguinte para a Cervejaria Brahma, que tentou mudar o nome para Restaurante Egreginha - nas tentativas de alterar o tipo de negócio, o barítono Gaston Demars chegou a ser anunciado como atração fixa da casa, que, no entanto, continuou sendo conhecido como Mère Louise pela população.

No ano seguinte, Louise reapareceu em Copacabana com outra casa, mais modesta - outras duas, na Rua Santa Clara, permaneciam funcionando, mas sem a presença da proprietária, que já estava muito doente para gerir seus negócios. Muitos dos seus antigos clientes a procuraram para despedir-se da senhora geniosa e já desenganada. Contra todas as expectativas, Louise recuperou-se e passou a frequentar a Galeria Cruzeiro, com uma lista de seus devedores sempre embaixo de seu braço, exibindo-a tanto para conhecidos como estranhos. Nela, constavam inclusive nomes importantes da época que teria comido e bebido de graça em seu antigo estabelecimento, indo embora sem pagar. Louise morreu em 1918 e seu obituário ganhou um grande espaço no jornal Correio da Manhã, cujo proprietário, o jornalista Edmundo Bittencourt, passou a ser o proprietário do antigo Mère Louise do Posto 6. A data da aquisição é desconhecida, mas dizia-se que a polícia fazia vista grossa para os acontecimentos que ocorriam dentro da casa devido à influência de Bittencourt, também era advogado - ele chegou a resolver problemas relativos ao estabelecimento com o próprio presidente da república. Em 1921, o prefeito Carlos Sampaio, visando a duplicação da Avenida Atlântica, tentou comprar ou obter o espaço, construindo, em troca, um hotel confortável que além de gerar espaço aos turistas em Copacabana (que, até então, contavam apenas com o Hotel Londres, de 1918), acabaria com o rendez vous. Bittencourt aceitou a ideia de erguer um hotel, desde que a Prefeitura não se envolvesse. O projeto foi apresentado e aprovado por Sampaio, que, apesar disso, se interessou por outro terreno, visando o aproveitamento da Prefeitura por 20 anos. A ideia de concorrência com o suposto futuro hotel de Bittencourt estremeceu as relações entre as partes. Bittencourt procurou o presidente Epitácio Pessoa e, com sua influência, retirou da Prefeitura o ofício de Sampaio que pedia autorização para arrendar o terreno desejado, anteriormente doado à municipalidade pela Companhia de Construções Civis, à Companhia Brasileira de Hoteis, dos irmãos Guinle.

Anos mais tarde, Octávio Guinle, junto com Francisco Castro Silva, construiriam o Copacabana Palace, que se tornou mais ícone da região. O prédio foi tornou um ícone na região. Ele foi encomendado para hospedar o grande número de turistas que viriam ao Rio de Janeiro para a Exposição Internacional Comemorativa do 1º Centenário da Independência, em 1922, e foi o primeiro grande prédio de Copacabana. Ocupava um grande terreno na recém alargada Avenida Atlântica, ao lado da Pedra do Inhangá (demolida posteriormente para a construção da piscina, do anexo e do Edifício Chopin) e só foi inaugurado um ano após o evento devido algumas dificuldades em sua construção. Em suas dependências, funcionava o ostentoso Cassino Copacabana, que permaneceu em atividade até 1943, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu o jogo no Brasil.

Quando o Copacabana Palace foi inaugurado, o hábito de ir à praia já havia se popularizado. A procura crescera gradualmente, na medida em que o bairro se desenvolvia e a população descobria os prazeres do banho de mar (até então apenas para fins terapêuticos). Em 1906, o prefeito Pereira Passos determinou que cada praia tivesse uma sala para socorrer os afogados e nelas, equipamentos e medicamentos urgentes deveriam ser disponibilizados. Devido a apreciação dessa forma de lazer, 11 anos depois, o prefeito Amaro Cavalcanti assinou o decreto 1.143, que, além de obrigar os espaços a terem plataformas suspensas para os guarda-vidas observarem as atividades praianas, determinava regras para o uso da praia. Os banhos eram permitidos apenas das 5h às 9h e das 16h às 18h entre 1º de abril e 30 de novembro. Nas demais datas, das 5h às 8h e das 17h às 19h. Aos domingos e feriados, o horário era ampliado em uma hora. As regras também passaram a determinar o uso do bandeiras vermelhas para sinalizar perigo.

Posteriormente, em 1924, foi inaugurada a Colônia Aimbire Z14, no Posto 6, para ajudar no sustento dos pescadores (que, depois dos índios, foram os primeiros habitantes de Copacabana). A sede original funcionava em Jacarepaguá e a data de fundação não é conhecida, pois a documentação original foi perdida em um incêndio. Inicialmente, o Governo autorizou a instalação desde que ela não se opusesse às conveniências militares. Junto a ela, foi autorizado também um posto de socorro naval, que serviria de abrigo às embarcações e aos pescadores. Posteriormente, foi renomeada como Colônia de Pescadores Z-13, com um sede na Lagoa Rodrigo de Freitas e até hoje funciona vendendo os peixes frescos, pescados pelos profissionais registrados, à população ao lado do Forte de Copacabana, também construído no começo do século XX. A fortificação foi encomendada pelo Ministro da Guerram Marechal Hermes da Fonseca, e inaugurada em 1914 como a edificação militar mais moderna da América do Sul. Após cinco anos, o espaço do templo religioso foi obtido e o Forte ganhou suas dimensões atuais. Um dos seus acontecimentos mais importantes foi a Revolta dos 18 do Forte, em 2 de julho de 1922, que visava pôr fim à república velha. Militares, principalmente jovens tenentes, se reuniram no local para os protestos. Os últimos 28 revolucionários deixaram o local acuados pelos bombardeios que ocorria (as famílias que viviam no Leme foram aconselhadas a deixar a região devido à situação), marchando pela Avenida Atlântica e acompanhados do civil Octávio Corrêa. Apenas ele e mais 17 chegaram à Rua do Barroso, onde o grupo foi derrotado – apenas o tenente Antônio de Siqueira Campos e o brigadeiro Eduardo Gomes sobreviveram, o que um provocou um enorme desejo de mudança na população: o povo passou a querer o progresso.

A Copacabana contemporânea

O crescimento de Copacabana fez com que o bairro fosse cada vez mais procurado como endereço das famílias cariocas. Logo, os primeiros prédios começaram a surgir, com unidades confortáveis como os palacetes, porém vendendo a ideia de modernidade aos novos moradores. Imóveis compactos, inicialmente planejados para abrigar famílias durante finais de semana, passaram a atrair outro perfil de público, o que ampliou o perfil dos moradores. Na década de 1950, Copacabana já possuía comércio e lazer próprio, o que fazia a região ser totalmente independente do Centro. Nessa época, o crescimento imobiliário estava em seu auge; toda a classe média queria morar no bairro. Muitos judeus foram atraídos pelos novos empreendimentos residenciais: grande parte deles se concentrava na região que, ao mesmo tempo que Copacabana crescia, era destruída para a abertura da Avenida Presidente Vargas Foi nesse período que pequenos grupos de religiões de origem africanas começaram a se reunir na praia para celebrar a virada do ano vestindo roupas brancas e cedendo oferendas a Iemanjá. A beleza dos rituais atraíam multidões no começo, mas logo passaram a ser esquecidas, o que fez com que alguns hoteis promovesse uma queima de fogos com o intuito de atrair novamente o público - era a origem da grandiosa festa que acontece anualmente na noite do dia 31 de dezembro.

Entre 1956 e 1958, Copacabana voltou aos jornais com três tragédias. A primeira foi o incêndio no Hotel Vogue, na Avenida Princesa Isabel. Sua boate era frequentada pela alta sociedade e pelos artistas da época, que se apresentavam no palco. Foi um dos piores acidentes do tipo ocorridos na cidade até então. O caso deixou várias vítimas, que não puderam ser salvas por causa da altura em que se encontravam (a escada dos bombeiros alcançava somente até o 8º andar, patamar máximo autorizado até poucos anos antes). Dois anos depois, a iminência de queda do Edifício São Luiz Rei atraiu a imprensa e os curiosos para a Rua Figueiredo Magalhães. Durante cinco dias, o acidente virou uma grande atração midiática e, quando a derrocada finalmente aconteceu, a estrutura (que ainda estava em construção) destruiu outro prédio e mais duas casas, cujos moradores haviam sido retirados. Ainda em 1958, o o assassinato da estudante Aída Cury tornou-se o primeiro crime da "era moderna" do Rio de Janeiro. A jovem teria sido abusada sexualmente, torturada e jogada do alto do décimo segundo andar de um prédio na Avenida Atlântica.

Em meio a tantos acontecimentos trágicos, um movimento musical trazia leveza à região: nascia a bossa nova, que ultrapassou fronteiras e conquistou o mundo. Encontros no apartamento dos pais da cantora Nara Leão atraíam artistas como Roberto Menescal, Carlos Lyra, Chico Feitosa e Ronaldo Bôscoli. Em pouco tempo, o Beco das Garrafas virou o núcleo cultural do bairro. Casas noturnas como Little Club, Bacará e Bottle's Bar passaram a receber shows de nomes como Elis Regina, Maysa, Dolores Duran (que realizou seu último show Little Club – sua morte ocorreu no dia seguinte dele), Marcos Valle, Baden Powell, Dóris Monteiro, Wilson Simonal e até convidados internacionais como Ella Fitzgerald, Sacha Distel e Sammy Davis Jr. No entanto, ao mesmo tempo que a bossa nova era levada ao mundo todo, o Beco das Garrafas logo ficou decadente. Os artistas que não se mudaram para o exterior se tornaram famosos demais para se apresentarem e devido à capacidade reduzida das casas, tornou-se inviável continuar pagando seus cachês. Em 1968, com o surgimento do Canecão, em Botafogo, e das discotecas, o italiano Alberico Campanas, que empresariava o espaço, desistiu do negócio. A decadência fez com que alguns dos espaços fossem transformados em casas de strip tease. Apenas em 2014 que duas das tradicionais casas (a Bacará fora incorporada ao Bottle's Bar cerca de três décadas antes) foram reabertas com programação diária de apresentações.

Durante o apogeu do espaço, cada vez mais Copacabana era procurada por pessoas que passariam somente breve temporadas. Por isso, começaram a ser erguidos condomínios com pequenos apartamentos voltados para esta finalidade, como os edifícios Master (que já foi tema de um documentário) e Richard (o antigo 200 da Rua Barata Ribeiro), entre outros. A concentração populacional nessas construções começou a mudar o perfil dos moradores do bairro, já que estes imóveis começaram a ser usados como moradias permanentes e foram ocupados por um público diferente daquele que podia pagar por um dos confortáveis apartamentos já erguidos na região.

No início de 1970, a paisagem da orla foi alternada com o aterro da praia para o alargamento da Avenida Atlântica. O mar, em alguns pontos, foi afastado cerca de 80m de sua arrebentação original. A área de lazer cresceu, a capacidade de banhistas foi ampliada e o calçadão ficou protegido da ação das ondas. Com o novo espaço e a posterior instalação dos quiosques, a praia passou a atrair ainda mais pessoas, que iam para pegar sol, tomar banho de mar ou praticar algum esporte. Foi em Copacabana que nasceram modalidades como o frescobol e o futevôlei, além de ser também o berço do vôlei de praia feminino.

Nos anos 80, o bairro já não ostentava o luxo de seus tempos áureos. O comércio, que antes era restrito a atender à elite, passou a ser cada vez mais popular. Os camelôs tomaram às ruas, cada vez mais cheias de pedestres. Na década de 1990, Copacabana passou por muitas mudanças urbanísticas. O bairro recebeu uma ciclovia, em 1992, e poucos anos depois as tradicionais pedras portuguesas foram substituídas por concreto em parte dos seus logradouros.


Apesar de Copacabana ser um dos bairros mais famosos do mundo, atraindo uma enorme quantidade de turistas durante o ano todo, na década de 2010 ela atraiu olhares também pelas festas realizadas. Grandes shows já vinham acontecendo desde os anos anteriores, mas, em 2013, a vinda do Papa Francisco ao Brasil em ocasião da Jornada Mundial da Juventude fez com que o bairro recebesse um número recorde de pessoas simultaneamente – o evento foi considerado pelo prefeito Eduardo Paes o maior da história do Rio de Janeiro. Inicialmente, era prevista apenas a missa de abertura na praia, sem a presença do pontífice, a Cerimônia de Acolhida e a encenação da Via Sacra. No entanto, chuvas fortes inviabilizaram o uso do Campus Fidei, em Guaratiba, fazendo com que a Vigília e a celebração da Missa de Envio fossem transferidas para Copacabana nessa ocasião, foi contabilizado público de 3,7 milhões de pessoas (o recorde do réveillon foi de 2,3 milhões, na virada de 2012 para 2013).

Outro grande evento que movimentou Copacabana foi a Copa do Mundo, no ano seguinte. Uma arena com capacidade para 20 mil pessoas foi montada perto da Rua Princesa Isabel, reunindo torcedores em cada partida. Havia também outros telões na parte externa, ampliando a capacidade do público. Durante os jogos, a orla tornou-se quase que um cenário multinacional, com turistas dos mais variados países (principalmente argentinos, chilenos e mexicanos) vivendo em clima de festas. Dois anos depois, foi a vez da Olimpíada 2016 encher o bairro de espírito esportivo. Os Jogos Pan-Americanos, em 2007, já haviam mostrado que a região tinha capacidade de receber algo de tamanha magnitude – naquela vez, outra arena, como a do mundial de futebol, já havia sido erguida, assim como o espaço para as competições de vôlei de praia. Outras modalidades, como natação, ciclismo e corrida também foram disputadas no local, o que fez com que ele fosse escolhido novamente para muitas das provas dos jogos olímpicos como vôlei de praia, maratonas aquáticas e ciclismo.


Nos dias atuais, Copacabana segue como um dos bairros mais procurados pelos turistas, apesar dos muitos problemas que afetam a região. Além da praia e do calçadão, os turistas apreciam muito as estátuas de Carlos Drummond de Andrade e de Dorival Caymmi, além do Forte de Copacabana, atualmente aberto para visitação.

Fonte: SN. Edifícios deixam marca na história de Copacabana. Jornal Posto Seis, Rio de Janeiro, julho/2012, páginas 26 - 27.

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