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Jornal Posto Seis 25 anos: entrevistas ajudaram a construir história do veículo

Dando continuidade às comemorações dos seus 25 anos, o Jornal Posto Seis volta a relembrar sua trajetória. Em meio a reportagens diversas, entrevistas com grandes nomes da cultura nacional foram publicadas, evidenciando o apoio artístico do veículo a personalidades imortalizadas pelo tempo.

Dorival Caymmi tocando violão na janela de seu apartamento, em Copacabana
Dorival Caymmi

Dorival Caymmi foi capa em abril de 1998. Fotografado com seu violão na janela do apartamento onde residia, na Rua Sousa Lima, o artista falou sobre Copacabana, bairro onde vivia há 46 anos e seguiu até falecer, uma década após aquele encontro. “Os negócios estavam em Copacabana. Eu já tinha ligações com a noite, com o rádio. (...) Copacabana vinha crescendo de ponta a ponta”, disse, mencionando a razão pela qual se mudou para um apartamento na região, então repleta de casas.


Apesar de citar as mudanças ao longo do tempo, Caymmi destacou que sempre encontrava rostos conhecidos e que essa sensação de familiaridade era seu aspecto favorito do local. Sua paixão era tanta que o baiano se recusou a responder sobre possíveis aspectos negativos. “Não tenho tendência a não gostar de alguma coisa em Copacabana”. Ainda que o artista não estivesse mais vivo, seu centenário foi registrado em abril de 2014, onde imagens inéditas daquele encontro foram publicadas e o jornalista Mauro Franco, responsável pela entrevista, relembrou os bastidores do momento: “Com sua simplicidade habitual, pegou o violão e me convidou a cantar com ele ‘O Que Que A Baiana Tem’, debruçado na janela. Naquela hora pensei que fosse um sonho, mas aquele jeito brejeiro que só o bom baiano tem me desinibiu e… por que não?”.

Elza Soares
Elza Soares

Outra moradora ilustre que ganhou igual destaque nas páginas do Jornal Posto Seis foi Elza Soares. Sua reportagem ilustrou a capa de uma edição de setembro de 1998, na qual a cantora também demonstrou seu amor pelo bairro: “Você não precisa sair na rua, basta chegar na varanda e dizer: ‘que bom, Copacabana existe!”. Atualmente com 90 anos e ainda vivendo em Copacabana, já naquela época Elza demonstrava que a relação com a região seria duradoura: “Eu saio e volto. Não consigo me afastar; sinto saudade e volto. Aqui, todo mundo é feliz.”

Dercy Gonçalves
Dercy Gonçalves

Essa positividade foi destacada também por Dercy Gonçalves em novembro de 1998. “Eu não tenho momentos ruins (como moradora). (...) Acho que tudo que não é agradável, temos que esquecer. (...) Todos os momentos, desde que você queira, são bons”. Apesar dessa visão, ela relembrou que quando chegou a Copacabana, aproximadamente na década de 1940, sofreu preconceito por ser uma artista morando em um lugar familiar. “Ninguém me mostrava apartamento, não me queriam aqui”.


Uma vez instalada, graças ao seu genro, mudou-se do bairro apenas uma vez, mas logo retornou para onde escolheu passar a vida. A passagem do tempo também lhe foi questionada: “Eu não envelheci. Tenho tanta juventude hoje como quando cheguei aqui. Tudo é novo, tudo é fantasia, tudo é bonito porque eu vejo com os meus olhos de felicidade”. Questionada sobre sua visão em relação à região, respondeu com sua famosa espontaneidade: “Os incomodados que se mudem. Acho Copacabana divina!”.


Outra “copacabanense” que ganhou destaque nas páginas do Jornal Posto Seis foi Dóris Monteiro. Em março de 2000, ela lamentou a falta de espaço no cenário cultural aos artistas veteranos: “As gravadoras decidiram que a velha-guarda não tem mais como gravar. Hoje, elas põem em evidência só o que é sucesso garantido”. A Rainha do Rádio de 1956 ainda chamou a atenção para a dificuldade do público em encontrar seus CDs, criticando também o valor ao qual eles eram comercializados – R$59, mais que 30% do salário-mínimo da época.


Já Tito Madi foi entrevistado duas vezes: em maio de 2000 e março de 2013. Na primeira ocasião, o foco foi sua trajetória, que lhe transformou em um dos mais respeitados intérpretes de samba canção. Na data, o cantor relembrou que assim que veio para o Rio de Janeiro tentar construir sua carreira, hospedou-se em um apartamento emprestado em Copacabana, bairro onde criou raízes. “Eu senti a necessidade de vir para cá pois o Rio era e continua sendo o centro cultural, enquanto São Paulo é o centro comercial do país. Naquela época, os cantores do Rio iam para São Paulo e já eram conhecidos; o contrário não acontecia”.

Tito Madi segurando o disco "Não Diga Não"
Tito Madi

Já na segunda entrevista, o artista sofria com as sequelas de um AVC, o que afetou sua carreira. “Não canto mais como cantava”, lamentou. Apesar da condição, ele considerava produções futuras, incentivadas pelo carinho do público em suas idas à rua. Madi garantia ter muitas composições inéditas gravadas em fitas, apesar de não ter nenhum equipamento onde pudesse escutá-las. Enquanto aguardava uma possibilidade de recuperar esses registos, ele estava animado também com o CD que Emílio Santiago prometeu gravar com suas músicas, mas este artista veio a falecer no mesmo mês da entrevista, o que interrompeu o projeto.


Por sua vez, João Roberto Kelly é o recordista de entrevistas no Jornal Posto Seis. A primeira reportagem foi publicada em julho de 2000, onde Kelly destacou o começo de sua trajetória. “Não sei o que aprendi primeiro, a falar ou tocar. Sempre fui fascinado com música”. Assim como Dóris e Madi, o artista também citou a falta de visibilidade midiática, mas sem reclamar da situação: “Não tenho saudade disso ou daquilo. Fiz muitas coisas e continuo fazendo”

João Roberto Kelly no Clube Cultural e Recreativo Posto 6, em Copacabana
João Roberto Kelly

Seu cinquentenário de carreira foi celebrado em janeiro de 2008, onde reforçou sua conexão com Copacabana – sua carreira teve início no Teatro Jardel, na Av. N. Sa de Copacabana, perto da Rua Bolívar, onde fazia partitutas para teatros de revista.


Até “Cabeleira do Zezé”, um de seus maiores sucessos, surgiu após uma conversa informal do antigo Bar São Jorge, no Leme – na mesma conversa, Kelly desmitificou a ideia de que o questionamento “será que ele é?” fizesse referência à sexualidade do garçom homenageado. “Ficamos intrigados com aquele cabelo, imaginando se era da bossa nova, se era do rock...”. Segundo o compositor, teria sido Silvio Santos quem modificou a interpretação popular da letra. “Ele cantava ‘Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é?’ e suas assistentes de palco acrescentavam ‘ bicha’ no final. Eu costumo dizer que essa bicha não é minha”.


Já em fevereiro de 2011, a conversa foi pautada pelo lançamento de sua nova música, “Marcha do Xixi”, sucesso do carnaval daquele ano e guardada desde a festa de 2010,quando voltava do desfile do Cordão da Bola Preta e constatou muita gente urinando em vários lugares. “Todas as minhas marchinhas são flagrantes, achei que este tema iria render”, palpitou, chamando a atenção também para o fato de seu trabalho englobar outros gêneros musicais. “Minha obra é muito grande e está começando a ser pesquisada. Já fiz muitas trilhas (...). Escrevi também muita música romântica (...). Tive também a fase dos sambas críticos”.


Posteriormente, Kelly foi capa da edição de dezembro de 2014, junto com a cantora Waleska. Na ocasião, ambos divulgaram o show que fariam juntos na Sala Baden Powell. O músico voltou a ser notícia em ocasiões diversas, como nas apresentações realizadas nos Baile da Alegria, festas produzidas pela Editora Posto Seis ao longo dos anos. Recentemente, no carnaval de 2020, voltou às páginas do jornal, onde expôs sua visão sobre as mudanças da festa ao longo dos anos: “Seria ingenuidade pensar que iria continuar como antes. Sou muito favorável à renovação. Essa garotada não conheceu aquele carnaval, mas canta as músicas antigas e as novas, se entrosando. Acho a coisa mais normal!”, observou, sugerindo ainda a volta dos bailes: “Sinto falta. Antigamente, aconteciam em todos os clubes. É uma oportunidade de brincar e dançar com mais organização e estrutura. Não é que eles tenham acabado, mas diminuíram muito. Os jovens vão adorar!”.

Clóvis Bornay na Praça do Lido, em Copacabana
Clóvis Bornay

Outra personalidade associada ao carnaval que ganhou destaque foi Clóvis Bornay, entrevistado em fevereiro de 2002. Naquele ano, ele desfilaria em três escolas de samba cariocas e ainda estrearia em uma paulista. Vencedor unânime de todos os concursos de fantasia promovidos pelo Theatro Municipal entre 1937 e 1961, ele levava a sério suas caracterizações, o que o fez relembrar os desagravos midiáticos quando se vestiu como o rei francês Luiz XV, com todos os acessórios, como salto alto e espartilho. Na mesma ocasião, Bornay criticou o nudismo excessivo levado ao Sambódromo pelas agremiações, assim como a indiferença do público dos camarotes em relação aos fantasiados. “A festa está perdendo cada vez mais”, lamentou, antes de mostrar-se triste com a realidade social daquela época: “Meu maior sonho é ver o Brasil sair dessa miséria. Isso é muito triste. Às vezes, penitencio-me por ser considerado o Rei do Carnaval, por ser o exemplo de alegria e, ao mesmo tempo, ver tantas pessoas abandonadas nas ruas e sem família...”.


Na quinzena seguinte, foi a vez de Arthur Xexéo, então morador do Bairro Peixoto, conversar com o Jornal Posto Seis. Novamente, a relação com o bairro onde morou desde a infância, foi o assunto levantado. “Quando comecei a morar em Copacabana, (...) eu podia ir às três horas da manhã comer um sanduíche no Gordon sem nenhum medo. Hoje já é mais complicado andar essa hora pela Av. N. Sa de Copacabana. (...) As características do bairro são as mesmas de 20 anos atrás, só que deterioradas”. A importância do jornalismo comunitário também foi exaltada. “Quando me formei na faculdade, a gente acreditava que este era o caminho, que não haveria emprego na grande imprensa”.


Em sequência, a edição posterior trouxe Heloneida Studart homenageando o Dia Internacional da Mulher. “A ideia feminista ganhou, de uns anos para cá, o coração e a mente das mulheres. A maioria delas sabe que têm direito não só ao voto como à liberdade, ao trabalho, ao salário igual, à felicidade.... Hoje, elas sabem disso”.


Quem também recebeu a equipe do Jornal Posto Seis em sua residência foi Sansão Pereira. Na primeira vez, em setembro de 2003, ele revisitou a época que vivia no Leme e aguardava pelo bonde na Rua Gustavo Sampaio quando conheceu o homem que viria a ser seu primeiro professor, dando início à sua trajetória de sucesso. Naquela conversa, ele, aos 84 anos, orgulhava--se pela dedicação à pintura durante mais de dez horas diárias – estava produzindo paineis que, posteriormente, seriam instalados na decoração do Aeroporto Internacional Tom Jobim.


Passados 11 anos, Pereira foi novamente entrevistado, no contexto do seu aniversário de 95 anos, onde declarou seu amor por Copacabana. “Não moraria em nenhum outro lugar do mundo”. Na ocasião, citou apreciar muito a praia, apesar de raramente ir até ela: sua paixão ainda era a pintura. Artisticamente falando, aproveitou a ocasião para revelar um sonho que nunca chegou a ser realizado: ele gostaria que uma tela sua enfeitasse a Granja Comary, em Teresópolis. “Vi em diversas reportagens que lá não tem quadro nenhum”.


A cantora Marlene também foi destaque nas páginas do Jornal Posto Seis. Homenageada pelos 70 anos na vida artística e 86 de idade em novembro de 2010, ela mostrava-se ansiosa para retomar sua carreira, interrompida após um acidente no qual quebrou o fêmur. Dentre os planos, a artista, Rainha do Rádio de 1949 e 1950, planejava um novo DVD e fazer shows, mas apenas quando deixasse de depender da cadeira de rodas: “Minha voz continua a mesma, mas eu gosto de dançar”.


Outros artistas também comemoraram os aniversários de suas carreiras nas páginas do Jornal Posto Seis. Os 50 anos de profissão foram celebrados por, ao menos, quatro deles. A primeira foi Monique Lafond, em março de 2017, que lamentava a falta de convites para atuar na TV. “Os elencos viraram um caldeirão e eu não estou na panela de ninguém. Há a ideia de que os trabalhos são pequenos demais para mim”, destacou, citando que já fora rejeitada porque seu cachê supostamente seria muito alto, ainda que o valor sequer fosse questionado, e ao oferecer abaixar ele, foi aconselhada pelos mesmos que a recusavam por este motivo a não fazer devido ao peso de seu currículo.


Posteriormente, foi a carreira de Eliana Pittman que foi exaltada, em agosto de 2017. A Rainha do Carimbó destacou o reconhecimento nas ruas, principalmente no que diz respeito a este gênero musical. “Fui eu quem lancei no Rio e agora está super em evidência. As pessoas daqui amam e reconhecem que fui eu quem trouxe”, observou, antes de também elogiar o bairro escolhido para viver: “Copacabana é um mistério. No cantinho que moro, tem o Parque da Chacrinha, que é um oásis. O Bairro Peixoto é outro refúgio. Copacabana ainda tem seu valor”.


As “bodas de ouro” de Watusi com a carreira renderam outra entrevista, em março de 2018. Nela, a vedete, que fez muito sucesso no Moulin Rouge, falou tanto sobre seu histórico profissional quanto dos planos para aquele momento e os anos seguintes. “Na carreira artística, começar é difícil; continuar, ainda mais e recomeçar, só para os fortes. (...) Não sou um nome do passado: estou no presente e me preparando para o futuro”, observou, sonhando em ser transformada em enredo de escola de samba, o que ainda não aconteceu, apesar de sua participação nos desfiles do Salgueiro em algumas ocasiões.


Já a celebração de Fernando Reski foi marcada por uma festa na própria sede do Jornal Posto Seis, ainda que, na data, o artista já somasse 56 anos de carreira – a data foi arredondada para soar mais agradável ao público e para comemorar, com atraso, os 50, que foram esquecidos no momento certo. Na data, o ator foi agraciado com uma Moção Honrosa devido à sua contribuição ao meio cultural.


Além das entrevistas apontadas como inesquecíveis pela equipe, outras reportagens memoráveis também fizeram história, como os 85 anos de Nelson Sargento. O Jornal Posto Seis também realizou diversas homenagens póstumas ao longo dessa trajetória, como os 50 anos de Villa-Lobos; os 80 de Henrique Bernardelli; os 85 de Fábio Sabbag; os 100 de Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Orlando Silva e os 110 anos de Oscarito, além dos 40 anos da morte de Vinícius de Moraes e “Copacabana é um mistério. No cantinho que moro, tem o Parque da Chacrinha, que é um oásis. O Bairro Peixoto é outro refúgio. Copacabana ainda tem seu valor”.


As “bodas de ouro” de Watusi com a carreira renderam outra entrevista, em março de 2018. Nela, a vedete, que fez muito sucesso no Moulin Rouge, falou tanto sobre seu histórico profissional quanto dos planos para aquele momento e os anos seguintes. “Na carreira artística, começar é difícil; continuar, ainda mais e recomeçar, só para os fortes. (...) Não sou um nome do passado: estou no presente e me preparando para o futuro”, observou, sonhando em ser transformada em enredo de escola de samba, o que ainda não aconteceu, apesar de sua participação nos desfiles do Salgueiro em algumas ocasiões.


Já a celebração de Fernando Reski foi marcada por uma festa na própria sede do Jornal Posto Seis, ainda que, na data, o artista já somasse 56 anos de carreira – a data foi arredondada para soar mais agradável ao público e para comemorar, com atraso, os 50, que foram esquecidos no momento certo. Na data, o ator foi agraciado com uma Moção Honrosa devido à sua contribuição ao meio cultural.


Além das entrevistas apontadas como inesquecíveis pela equipe, outras reportagens memoráveis também fizeram história, como os 85 anos de Nelson Sargento. O Jornal Posto Seis também realizou diversas homenagens póstumas ao longo dessa trajetória, como os 50 anos de Villa-Lobos; os 80 de Henrique Bernardelli; os 85 de Fábio Sabbag; os 100 de Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Orlando Silva e os 110 anos de Oscarito, além dos 40 anos da morte de Vinícius de Moraes e os 50 sem Ary Barroso.

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