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Coluna "Turismo": Uzbequistão (Samarcanda)

(publicada na edição 479)




O Uzbequistão é um país bastante distante do Brasil cultura e geograficamente. Localizado ao sul do Cazaquistão, a oeste do Quirguistão e do Tajiquistão e ao norte do Turcomenistão, tantos “ãos” fazem com que o destino não seja uma escolha óbvia, já que os muitos conflitos na região assustam os viajantes em potencial. Entretanto, há mais de uma década este país tem tido dias tranquilos e, consequentemente, recebendo cada vez mais curiosos em conhecer sua cultura tão rica. Recentemente, a cidade de Samarcanda, uma das mais antigas do mundo, passou a receber voos saindo de São Paulo, com escala em Istambul - o que permite uma parada também para conhecer um pouco da Turquia, facilitando quem deseja visitar este outro destino além da cidade do conto das Mil e Uma Noites.


Na trama conhecida mundialmente, Sherazade conta histórias ao seu marido, o Rei Shahryar, para se manter viva. Enquanto ele reina o império persa inteiro até a Índia, seu irmão, Shahzaman, é o sultão de Samarcanda. Nos dias atuais e fora da ficção, a cidade parece ter saído de livros. Quando Alexandre, o Grande chegou nela, por volta de 330 a.C., confessou que era mais bonita do que ele imaginava. Mesmo após mais de 20 séculos, a cidade segue alimentando o imaginário dos visitantes (apesar de as construções serem posteriores às daquele tempo).


Apenas uma ida à Praça Registan já é algo fascinante: em seu entorno, há três madraças (construções usadas como escolas muçulmanas ou espaços de estudos islâmicos). A área era o núcleo da Samarcanda medieval e, atualmente, os prédios foram transformados em centros comerciais de produtos típicas. A edificação mais antiga ali é de 1420 e as outras duas, de 1636 e 1660. São de tirar o fôlego: além de serem enormes, são decorados com mosaicos surpreendentes restaurantes no período em que o Uzbequistão integrava a União Soviética. Há quem garanta que apenas esse local já faz a viagem valer a pena, mas a cidade oferece muitos outros atrativos.

Registan (Foto: Ekrem Canli)

Seguindo de carro por dez minutos, chega-se aos monumentos de Shah-I-Zinda, uma impressionante necrópole. Originada a partir do túmulo do primo de Maomé, Kusam ibn Abbas, ela costuma ser bastante visitado no final da tarde por peregrinos que aproveitam o brilho do pôr do sol para homenageá-lo com cânticos que ecoam pelas vielas do local. Ele teria chegado à região em 640 e, após 13 anos pregando o islamismo, foi decapitado. Desde então, outros túmulos e construção foram adicionados ao local até o século XIX, apresentando aos visitantes uma linha de tempo arquitetônica. Jazem ali também corpos de mulheres e capitães do conquistador Tamerlão, que, por volta de 1370, recuperou as terras dos mongóis após a invasão de Gengis Khan por volta de 1220 – a destruição provocada por ele fez com que Samarcanda fosse apenas um grupo de ruínas quando Marco Polo a usava como parada da Rota das Sedas. Shah-I-Zinda é um dos principais lugares a serem visitados na cidade, já que agrada tanto interessados em arquitetura como em história.

Shah-I-Zinda

Outro espaço que é ponto de visita obrigatório é o mausoléu de Gur-Emir, perto de Registan, até parece um palácio. Trata-se da morada final de Tamerlão e de tão grandioso, é considerado o precursor de outros prédios também em estilo mughal (que mescla as culturas islâmica e persa) como o Taj Mahal, na Índia. Gur-Emir é repleto de diversas obras de arte. São tantas e tão belas que os visitantes até se esquecem do teor do edifício, que também restaurado no século XX após muitos séculos em decadência, assim como toda a cidade.

Gur-Emir (Foto Stepan Munden/Flickr)

Perto de Shak-I-Zinda fica também a a mesquita de Bibi-Khanym, que até o terremoto de 1897, era a maior do mundo – parte dela desabou nesse episódio e a reconstrução começou apenas a partir da década de 1970, processo esse que foi acelerado após a independência do Uzbequistão da União Soviética, em 1991. Erguida há mais de 600 anos, foi construída com o objetivo de ser uma das mais imponentes, já que foi encomenda de Bibi Khanym, uma das esposas de Tamerlão. Apesar da beleza do exterior, muitos turistas relatam que o interior está mal conservado e com as paredes ruindo, o que leva outros a não pagarem para entrar. Ainda assim, apenas a beleza do exterior e dos jardins já vale a ida.

Bibi-Khanym (Foto: Fabio Achilli/Flick)

Seguindo para o outro lado de Shaz-I-Zinda, fica o museu Afrasiab, que conta a história de Samarcanda e do Uzbequistão, mostrando peculiaridades sobre os povos que viveram ali nos últimos milhares de anos. As ruínas da antiga cidade de Afrasiab, destruída pelos mongóis, estão bem ali, porém, soterradas, o que faz com que elas não sejam um grande atrativo. Ainda assim, objetos encontrados durante as escavações já podem ser visitados.


Seguindo pela mesma rua, chega-se ao Observatório de Ulugh Beg, construído pelo regente e sultão homônimo, neto de Tamerlão. Ulugh Beg, apelido de Mīrzā Mohammad Tāregh bin Shāhrokh, era mais interessado na vida acadêmica que no poder e por este motivo, destacava-se na Astronomia e na Matemática, áreas que dominava. O observatório foi o primeiro construído no Ocidente por volta de 1420 e tinha como objetivo o planejamento de mapas astronômicos exatos – já naquela época, foram identificadas as posições de 992 estrelas. Após o assassinato do regente, cerca de 30 anos depois, o prédio foi destruído caiu em esquecimento até suas ruínas serem encontrado, já em 1908. Algumas partes originais podem ser vistas, mas, no local, há um museu dedicado ao passado da construção.


A melhor época para visitar o Uzbequistão é durante o outono e a primavera. Apesar de o país ser bastante convidativo ao turismo, é necessário obter visto com antecedência. O Brasil não possui representação consular, portanto, deve-se adquirir uma carta-convite do próprio governo através de uma agência de viagens. Informações como data da viagem, cidades que serão visitadas e até comprovante de vínculo empregatício são exigidas. Uma das questões é referente ao local onde o visitante deseja receber seu visto – deve-se citar a cidade de entrada no país. Muitos escolhem a capital Tashkent, mas com voos para Samarcanda, deve-se consultar com o agente a possibilidade de obter o documento neste próprio aeroporto.

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