A escritora Silea Macieira integra o livro “Crônicas da Quarentena”, antologia composta por 74 textos de 17 autores e que retratam visões variadas sobre suas visões da pandemia. Moradora de Copacabana, ela retratou o bairro em duas de suas produções, trazendo reflexões sociais sobre o período.
“Crônicas da Quarentena” surgiu despretensiosamente de uma compilação de produções de participantes do projeto “Tertúlias Literárias”, coordenado presencialmente pelo professor de literatura Eduardo Barbosa antes das restrições decorrentes da propagação de COVID. Os encontros eram em São Paulo, mas Silea os frequentava quando viajava para visitar seus familiares. Com a impossibilidade de reunir o grupo como fazia antes, Barbosa migrou a ação para os meios virtuais, o que possibilitou a incorporação de mais pessoas além de fora do Brasil.
Em determinado momento, foi sugerido um exercício de escrita criativa. “Estávamos em abril ou maio de 2020, a quarentena estava começando e todo mundo, trancado em casa. Eduardo propôs que se escrevêssemos sobre aquilo. Participei dessa atividade como aluna. Em vários encontros, fazíamos as leituras do que ia sendo produzido e comecei a ver que havia textos de muita qualidade”, lembra Silea, observando que partiu dela a ideia de transformá-los em um livro. “Fui a mentora, a que teve a ideia de que isso seria interessante. Como eu trazia uma experiência de publicação (antes, já havia lançado outros quatro títulos), intermediei. Fui a gestora da possibilidade”.
Barbosa, então, passou a organizar a antologia. Cada participante poderia usar até 10 páginas com quantos textos coubessem nesse espaço, o que resultou em um trabalho bastante heterogêneo. “Há autores entre 27 e 82 anos com vivências e experiências diferentes”, analisa Silea, que aponta que apesar da temática pesada, os textos refletem muita confiança no que está por vir, além de também abordarem a questão com humor. “Não ficou um livro deprimente. Há pessoas que falam que até parece uma terapia, já que se reconheceram nos textos”, destaca a escritora.
Nascida em Niterói, Silea é moradora de Copacabana há 28 anos e essa vivência foi refletida em duas das suas seis produções para o livro. “A primeira chama-se ‘Princesinha do Mar’ e foi escrita em maio, quando a gente enxergou algo que sempre esteve ali, mas que com o movimento todo, ficava invisível. As pessoas tentam não ver as mazelas. Quando teve o lockdown inicial, elas ‘apareceram’ e se multuplicaram. A crônica traz uma crítica social a essa tentativa de não vermos”..
A segunda foi criada em junho, quando o cenário já era outro. “Depois de outras quatro crônicas sobre outros assuntos, volto a falar de Copacabana naquele primeiro momento em que houve a flexibilização, quando o comércio abriu. Mais uma vez, há uma crítica social porque a padaria funcionou com todas as atendentes reunidas em 1m² servindo café e pão na chapa para todo mundo que estava sem máscara”, observa.
“Crônicas da Quarentena” foi lançado pela Edições Cândido e pode ser adquirido em www.edicoescandido.com
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