Instalado no alto do Pavão-Pavãozinho, o Bar do Jardim já teria a vista da Praia de Copacabana como principal atrativo, mas sua decoração se tornou mais um chamariz do espaço por um motivo particular: todas as peças eram lixo. O projeto começou há 11 anos e aos poucos, o proprietário, Júlio César de Jesus Bezerra, conseguiu reunir uma quantidade enorme de enfeites, que são reaproveitados com funções diferentes das originais.
Caixas de descarga viraram vasos de planta. Capacetes de moto, também, assim como escorredores de macarrão, liquidificadores e outros objetos que comportam a terra e o peso. Por sua vez, hélices de ventiladores e monitores de computador viram placas instagramáveis com mensagens motivacionais; aros de motos, guarda-corpos; caixas de cerveja, banco... Tudo é utilizado até na estrutura do espaço. A escada, por exemplo, é feita com pneus. “Se eu fizesse apenas com concreto, perderia a estética”.
Foi também ideia sua transformar um carrinho de mão em um lustre. Após experimentar várias ideias, idealizou o modelo com cinco lâmpadas. Até a parte elétrica foi desenvolvida pelo próprio, que criou um projeto de iluminação que fica escondido em rodas de bicicletas, o que, segundo sua esposa, Mary Diana Nascimento, surpreende os clientes quando começa a escurecer: “Noto que muitos chegam por volta das 16h e quando o sol desce, pedem a conta com medo de ficar escuro aqui em cima, aí acendo as luzes e eles ficam encantados. Dizem ser mais bonito à noite que durante o dia, por isso acabam voltando”.
O proprietário lembra que aquele terreno, anteriormente, era um lixão irregular. O trabalho, em sua percepção, reduziu o fluxo de detritos jogado na encosta do morro voltada para a Rua Djalma Ulrich, o que era um problema crônico naquele trecho. Por isso, ele acredita que o negócio poderia servir de modelo para outros lugares. “Se eu pudesse, faria algo assim em todas as comunidades. Nem precisa ser lugar com vista bonita. Por que não algo decorado dessa forma em São João de Meriti? Se não puderem fazer bar, que façam uma praça para transformar o lixão em área de lazer. O lixo é muito rico. Já vi até sofá bom sendo colocado em compactadora”, lembra, apontando que os objetos que recolheu são apenas uma porcentagem muito pequena de tudo que é descartado. “E o que não consegui ver durante esse tempo todo?”.
Dentre os achados, os mais valioso, em sua visão, são os assoalhos de madeira. “Isso em madeireira é caríssimo. Já encontrei ipê, peroba do campo…”, enumera, mencionando que esses materiais são muito descartados após obras de modernização em apartamentos antigos. Todo o piso dos dois andares do bar já está pavimentado apenas com peças encontradas em caçambas de lixo e que, na visão de Júlio, somadas, devem custar cerca de R$10 mil.
Questionado sobre o objeto mais curioso já encontrado, Júlio mostra dificuldade em responder. Pensa, mas afirma haver tantos peculiares que é incapaz de listar os mais exóticos. Aponta uma roda de carroça de boi, encontrada em Copacabana, como o item mais diferente do bar, mas este não fora encontrado em nenhuma lixeira, apesar de quase ter ido parar em uma: seria descartada por gente conhecida. O objeto está no bar ainda sem nenhuma função, apenas como peça decorativa.
O proprietário analisa que cada um de seus achados poderia estar descartado indevidamente nas ruas, nos rios ou nos oceanos, o que o faz se orgulhar da ideia. Desde que inaugurou o estabelecimento, havia essa visão de poupar o meio ambiente em paralelo ao estilo que pretendia adotar. “Não é qualquer lugar que você acha um bar com artigoS reciclados. “As pessoas ficam encantadas com cada detalhe daqui. Não é gourmetizado nem artificial”, finaliza Mary.
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